60ª Reunião Anual da SBPC

INTRODUÇÃO:

A diarréia infecciosa aguda é uma doença comum entre crianças pequenas em todo o mundo, determinando altas taxas de morbidade, também atingindo idosos. Os Adenovírus Humanos (HAdvs ) causam uma ampla variedade de síndromes clínicas, incluindo gastroenterites, doenças respiratórias, conjuntivites, cistite hemorrágica e exantema. Eles compreendem 51 diferentes sorotipos (HAdv-1 a 51) agrupados em 6 espécies, A – F. Entre estas, o F, representado por 2 sorotipos de Adenovírus, o 40 (HAdV 40) e o 41(HAdV 41), são os mais importantes em associação com gastroenterites agudas e ocorrem em 1 a 20% dos casos. Os HAdvs são vírus de DNA, de 60-90 nm de diâmetro. Caracterizam-se por não possuir envelope e apresentar forma icosaédrica. No Brasil, a diarréia é um problema importante por seu impacto na saúde infantil, por sua relação com a desnutrição, pela demanda de atendimentos ambulatoriais e hospitalizações e pela alta taxa de mortalidade. Desta forma, é de extrema importância o conhecimento dos enteropatógenos envolvidos com o agravo, e, entre estes, se encontram os HAdvEs que, é o segundo agente viral mais freqüentemente detectado em casos de diarréia.

METODOLOGIA:

O grupo analisado envolveu 760 crianças que participaram de um estudo de vigilância hospitalar e ambulatorial envolvendo 26 hospitais e 23 unidades de saúde na área de Belém, no período de março a setembro de 2003. Essas crianças encontravam-se com quadro de gastroenterite moderada a grave. Inicialmente as suspensões fecais a 8% foram testadas pelo ensaio imuno-enzimático (ELISA) global para HAdV e as amostras positivas foram sorotipadas para Adenovírus Entérico Humanos (HAdVEs) pelo teste de ELISA tipo-específico.Todas as amostra foram tipadas através da Reação em cadeia da polimerase (PCR) espécie-específico. Os produtos da PCR foram purificados e quantificados. O seqüenciamento de nucleotídeos foi executado segundo o protocolo de fabricante do Kit comercial Big Dye Terminator (Applied Bosystems Inc, API). Posteriormente, as amostras foram purificadas por precipitação em isopropanol, sendo ressuspensas em formamida e aplicadas na placa visando à eletroforese em seqüenciador automático ABI Prism 3100. As seqüências foram alinhadas e editadas utilizando-se o programa BioEdit (versão 6.0.5). Em seguida, as seqüências foram agrupadas no programa MEGA 3 (versão 3.0.0.41), juntamente com amostras provenientes do banco de genes, visando a construção da árvore filogenética.

RESULTADOS:

Testaram-se por ELISA 760 amostras e em 6% (44/760) detectou-se a presença de HAdvs. A freqüência de HAdVEs, por sua vez, foi de 3 % (22/760). Pela técnica de PCR testaram-se 44 amostras. Destas, 54,4% (24/44) foram positivas para o grupo F, 11,3% (5/44) para o grupo C, 13,6% (6/44) para o grupo B, 4,5% (2/44) para o grupo D, 4,5% (2/44) para os grupos C e F, representando um caso de co-infecção. Finalmente, 25 % (11/44) das amostras foram negativas para todos os grupos. Analisando os sintomas e sinais manifestados pelas crianças, observou-se que 4,5% desenvolveram apenas diarréia (244), 16% (744) febre e diarréia, 22,7% (1044) vômitos e diarréia e 54,5% (2444) a tríade clínica febre, vômitos e diarréia. Quanto à distribuição temporal dos HAdvs, verificou-se maior prevalência em abril, 22,7% (10/44), seguido de agosto, 18,1% (8/44), junho, 15,9% (7/44) e maio, 11,3% (5/44). Nove amostras que se mostraram positivas para HAdv 40/41 foram seqüenciadas. Estas foram seqüenciadas a partir de um “amplicom” de 560 pb. Das 9 amostras seqüenciadas, 4 (44,5%) mostraram 99% de homologia de nucleotídeos com o protótipo HAdV-40 Dugan e 5 (55,5%) apresentaram 97% de homologia de nucleotídeos com o protótipo HAdV-41 TAK .

CONCLUSÕES:

Os Adenovírus foram detectados em 6% (44/1760) dos casos investigados. Os HAdVE representaram um percentual de 3% (22/760) do total das amostras testadas , e de 54,4% (24/44) dos casos positivos para HAdVs. Essas taxas são muito expressivas quando comparadas com dados nacionais e internacionais. A partir do seqüenciamento de nucleotídeos fez-se a distinção entre os sorotipos de Adenovírus do subgrupo F, observando-se que 5 (55,5%) das amostras se agruparam com o sorotipo 41 e 4 (44,5%) com o sorotipo 40. Esses dados divergem dos obtidos por Pereira Filho et al. (2007), em que o sorotipo 40 foi o mais prevalente. Entretanto, nosso estudo é similar, em termos de prevalência do sorotipo HAdV-41, ao de Li et al.; (2004), conduzido no Japão, Vietnam e Coréia. Os resultados obtidos neste estudo evidenciam a participação dos HAdEs como agentes etiológicos das gastroenterites infantis que evoluem com gravidade clínica e confirmam a expressiva circulação desses vírus na cidade de Belém, Pará, entre pacientes atendidos no contexto hospitalar ou nas unidades onde se administra a reidratação oral ou até parenteral.

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave: GASTROENTERITE, ADENOVÍRUS ENTÉRICO, CRIANÇAS

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