60ª Reunião Anual da SBPC




C. Ciências Biológicas - 14. Zoologia - 1. Biogeografia

DIVERSIDADE E ASPECTOS ECOLÓGICOS DA FAUNA DE SQUAMATA DE UM REMANESCENTE FLORESTAL DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE, BRASIL

Pablo Augusto Gurgel de Sousa1
Eliza Maria Xavier Freire1

1. Departamento de Botânica, Ecologia e Zoologia - DBEZ - UFRN


INTRODUÇÃO:
A Mata Atlântica, um dos biomas de maior biodiversidade do planeta, é também um dos mais degradados pela ação antrópica. Na Região Nordeste, onde a situação é mais grave, seus remanescentes ainda contam com grande diversidade de répteis, Squamata, alguns endêmicos e recentemente descritos. No Estado do Rio Grande do Norte, um estudo pioneiro sobre a fauna de lagartos de um Parque urbano resultou na descrição de uma nova e endêmica deste Parque, além de outra com um evidente padrão de diferenciação geográfica, bem como a ocorrência de um novo gênero recém descrito. Considerando que o conhecimento dos répteis deste bioma ainda é insuficiente e fragmentado, somado ao desenfreado processo de ocupação humana que tem resultado em fragmentação de hábitat e conseqüente redução da diversidade, é relevante a execução de inventários nestas áreas remanescentes. Através destes estudos podem ser identificados processos e padrões biogeográficos e ecológicos que justifiquem a distribuição do grupo e o entendimento de sua história evolutiva. Este trabalho objetivou inventariar, averiguar a distribuição espacial, a abundância e os períodos de atividade das espécies de Squamata de um remanescente florestal, conhecido como Mata do Jiqui, localizado no Estado do Rio Grande do Norte.

METODOLOGIA:
De setembro de 2005 a setembro de 2007, foram realizadas incursões quinzenais a este fragmento de mata durante as quais foram percorridas cinco transecções pré-estabelecidas nos períodos diurno e noturno. Ao longo dessas transecções foram efetuadas buscas ativas, sendo os espécimes coletados de forma manual ou com o uso “estilingue” e armadilhas de queda. Em caderno de campo foram registrados os hábitats e microhábitats onde os espécimes primeiramente foram avistados e o horário. O esforço e sucesso de captura foram aferidos, com base no número de horas de trabalho multiplicado pelo número de observadores e pelo número de espécies obtidas por hora.homem de trabalho em campo. Para estimar se a riqueza de espécies obtidas corresponde à prevista para a área, foram utilizados os estimadores não-paramétricos Jacknife de primeira e segunda ordem. A diversidade de espécies foi aferida utilizando-se o Índice de Diversidade de Shannon-Wiener e a largura dos nichos ocupados e a sobreposição entre pares de espécies foram calculados para o espaço utilizado (hábitat e microhábitat) e para o período de atividade das espécies utilizando-se, respectivamente, o Índice de Especialização de Nicho de Levins e o Índice de Sobreposição de Pianka.

RESULTADOS:
Após despendidas 226horas de esforço de campo (417horas.homem), foram registrados 545 espécimes de Squamata (92 coletados) na Mata do Jiqui. Os espécimes obtidos pertencem a 18 espécies (11 de lagartos, 5 de serpentes e 2 de anfisbênias). O maior registro de espécimes ocorreu em uma das áreas de intensa intervenção antrópica, onde se destacaram Tropidurus hispidus, Hemidactylus mabouia e Cnemidophorus ocellifer. As espécies típicas de florestas registradas neste fragmento estavam restritas à mata alta, habitat mais preservado da área e que apresentou a maior riqueza de espécies, incluindo aquelas de ampla distribuição. Todas as espécies apresentaram atividade diurna com exceção de H. maboiua, que obteve o maior espectro de período de atividade ocorrendo, também, no período noturno. T. hispidus foi a espécie com a menor largura de nicho espacial e temporal sendo a espécie generalista, em contrapartida Kentropyx calcarata foi a especialista em espaço e Coleodactylus natalensis no período de atividade. As espécies que obtiveram elevada sobreposição no nicho espacial geralmente apresentaram baixa sobreposição no período de atividade, já as que apresentaram elevadas sobreposições em ambos, segregam em aspectos peculiares como uso dos microhábitats e morfologia.

CONCLUSÕES:
A ocorrência de apenas três espécies habitantes de floresta, restritas à mata alta, hábitat mais preservado da área, aliada a maior abundância de espécies de áreas abertas e generalistas de hábitat, são fortes indícios de que esta área está impactada. Fato que é reforçado pela presença marcante de C. ocellifer, espécie característica de formações abertas. A segregação no período de atividade, na Mata do Jiqui, é um dos fatores que possibilita a coexistência das espécies simpátricas de lagartos que se sobrepõem amplamente na utilização dos hábitats e microhábitats, embora seja recomendável a análise da dieta dos mesmos em estudos futuros. C. natalensis, espécie outrora endêmica das matas interdunares do Parque Estadual das Dunas de Natal ocorre em outros remanescentes de Mata Atlântica no Estado do Rio Grande do Norte, como na Mata do Jiqui. K. calcarata e Philodryas patagoniensis ocorrem na Mata Atlântica do Rio Grande do Norte, ampliando suas áreas de distribuição.

Instituição de fomento: PIBIC/CNPq

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Diversidade, Squamata, Mata Atlântica

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