60ª Reunião Anual da SBPC




C. Ciências Biológicas - 11. Morfologia - 5. Histologia

ESTUDO DA BIOCOMPATIBILIDADE/TOXICIDADE DE FLUIDO MAGNÉTICO PARA TRATAMENTO DE PBMICOSE

Mary-Ann Elvina Xavier1
Danielle Lima Guedes Peixoto1
Zulmira Guerrero Marques Lacava1
Mônica Pereira Garcia1

1. Departamento de Genética e Morfologia - UNB


INTRODUÇÃO:
A anfotericina B (ANFOB) é um antifúngico poliênico usado no tratamento de micoses que se complexa com o ergosterol da membrana fúngica formando poros permeáveis a íons, os quais levam à elevação do pH intracelular resultando em dano às membranas. No entanto, apresenta alta toxicidade pela baixa seletividade entre o ergosterol e o colesterol das células de mamíferos. Várias tentativas vêm sendo realizadas para tentar melhorar a eficácia terapêutica da ANFOB, inclusive pelo uso da nanobiotecnologia. Esta nova tecnologia tem grande potencial para a modulação de propriedades farmacocinéticas, incluindo o aumento da seletividade por sítios específicos que, em grande parte, é obtida graças à natureza da cobertura das nanoestruturas. Assim, fármacos como a ANFOB poderiam ser direcionados para sítios espécíficos como o pulmão, órgão no qual fungos, como o Paracoccidioides brasiliensis, causador da Paracoccidiomicose (Pbmicose), provocam graves lesões. Estudos prévios mostraram que fluido magnético condicionado por ácido dimercaptossuccínico (DMSA) tem os pulmões como alvo principal. Em conseqüência, uma nova formulação de fluido magnético à base de nanopartículas de maghemita recobertas por DMSA e associadas à ANFOB foi desenvolvida (FM- ANFOB). Este trabalho tem como objetivo de testar a biocompatibilidade/toxicidade de FM- ANFOB.

METODOLOGIA:
A amostra FM- ANFOB foi sintetizada pelo professor Antônio Cláudio Tedesco e sua equipe (FFCLRP/USP) com 210 ug/100uL de anfotericina B e 3,4×1013 partículas/ mL. Camundongos fêmeas Swiss não isogênicos foram distribuídos em três grupos (n=5) que receberam aplicações intraperitoneais (i.p.). Dois grupos foram tratados diariamente, um com 160uL de tampão PBS e outro com 2mg por quilo de animal de ANFOB (Fungizone®) diluídos em 160uL de água injetável. O terceiro grupo recebeu injeções de 160uL de FM- ANFOB contendo o triplo da dose diária de anfotericinaB (6mg/Kg de animal), a cada três dias. O material biológico foi coletado 1, 7, 15 e 80 dias após o início do tratamento de animais anestesiados com éter e sacrificados por meio do deslocamento da coluna cervical. Para as análises de citometria total do sangue periférico dos camundongos foi utilizada Câmara de Neubauer e para as análises da citometria diferencial de sangue periférico, foram utilizadas lâminas com esfregaço sanguíneo, coradas com Wright-Giensa. Essas análises foram feitas em microscópio de luz. Para análise histopatológica, foram utilizados três animais (n=3) dos grupos tratados com FM-ANFOB e ANFOB e um animal do grupo controle. Foram retirados fragmentos do fígado, baço, rins e pulmões que, após processados para histologia, foram analisados em microscópio de luz.

RESULTADOS:
O número de injeções recebidas pelos animais tratados com FM-ANFOB foi três vezes menor do que o dos animais tratados somente com ANFOB, o que, por si só, representa um aspecto positivo na comparação dessas duas formulações de anfotericina B, tendo em vista que a manipulação é um fator de estresse para os animais. Os dados das citometrias total e diferencial revelam que ambos os tratamentos ocasionam alterações nas populações leucocitárias, revelando seu potencial pró-inflamatório. É digno de nota que a ANFOB em sua forma livre ocasionou alterações citométricas até mesmo no grupo analisado com 80 dias de tratamento, o que pode ser consequência tanto da toxicidade da droga, quanto do grande número de injeções intraperitoneais administradas. Por outro lado, aos 80 dias de tratamento, a amostra FM-ANFOB não ocasionou qualquer alteração nas populações leucocitárias, ainda que na presença de grande número de partículas de ferro acumuladas no organismo. A análise dos cortes histológicos do fígado permitiu a observação de agregados de nanopartículas, mas somente após oitenta dias de tratamento. Contrariamente, agregados de nanopartículas foram observados nos pulmões a partir de 7 dias de tratamento em todos as amostras analisadas. A presença de agregados de nanopartículas preferencialmente nos pulmões pode ser atribuída à cobertura de DMSA utilizada na preparação da amostra FM-ANFOB. A análise dos rins não mostrou agregados de nanopartículas e no baço não foram encontradas alterações morfológicas que pudessem ser atribuídas aos tratamentos utilizados no experimento.

CONCLUSÕES:
Os resultados obtidos evidenciam que (1) a cobertura de DMSA permite um direcionamento preferencial da amostra FM-ANFOB para os pulmões e (2) a amostra FM-ANFOB não apresenta citotoxicidade relevante, mesmo depois de um longo tratamento. A anfotericina B nanoestruturada (FM-ANFOB) apresenta grandes vantagens em relação à anfotericina B na forma livre (ANFOB), sendo promissora para futuros testes clínicos.

Instituição de fomento: Cnpq, Fenatec

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Anfotericina-B, Nanotecnologia, Paracoccidioidomicose

E-mail para contato: maryhorsann@gmail.com