60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 6. Psicologia do Desenvolvimento Humano

PATERNIDADE NO CONTEXTO DO SISTEMA FAMILIAR: TRANSMISSÃO INTERGERACIONAL

Rômulo Marcelo dos Santos Correia1
Heliane de Almeida Lins Leitão3
Adélia Augusta Souto de Oliveia3
Ariana Cavalcante de Melo1

1. Universidade Federal de Alagoas - UFAL
3. Prof. Dr. - Curso de Psicologia - UFAL


INTRODUÇÃO:
A família é a instituição primordial na transmissão da cultura, constituindo-se como importante contexto para o desenvolvimento da identidade dos seres humanos e estabelecendo as bases afetivas para seus relacionamentos futuros. O presente trabalho se insere num projeto de pesquisa longitudinal que, partindo de um modelo sistêmico de família, pretende examinar o exercício da paternidade no contexto da rede de interações familiares, considerando sua inserção sócio-cultural. O presente estudo tem como objetivo investigar as relações familiares, com foco na transmissão intergeracional, em uma comunidade tradicionalmente pesqueira, mas marcada pela chegada do turismo de massa. A relevância da temática família é observada pela forma como a sociedade brasileira continuamente coloca este assunto em debate, não apenas vinculados aos meios acadêmico-científicos, como nos debates oriundos de instituições de ensino ou de pesquisa, mas também vinculadas à mídia, como ocorre em diversos programas televisivos. Para contribuir com este debate, decidimos investigar a transmissão intergeracional em famílias nativas desta comunidade. Onde, a inserção da atividade turística trouxe transformações no ecossistema local, nas atividades produtivas e nas formas de relacionamento.

METODOLOGIA:
As famílias participantes são nativas da comunidade litorânea estudada e são constituídas por pai, mãe e crianças com idade entre seis e dez anos, filhos biológicos do casal e residentes na mesma moradia. Nesta etapa do estudo foram entrevistados quatro casais, pais e mães, pertencentes a uma geração que vivenciou o início das mudanças decorrentes do turismo. Assim, enquanto as experiências comunitárias e pessoais dos genitores destes casais tinham como principais características a tradição local e as atividades pesqueiras, os filhos destes casais vivenciam uma comunidade que gira em torno do turismo, e, consequentemente, em torno do novo e do “estrangeiro”. Com cada participante foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com foco na transmissão intergeracional, abordando principalmente vivências passadas com seus próprios pais, experiências atuais com a sua família constituída e expectativas de futuro para as famílias que seus filhos constituirão. Os participantes também foram solicitados a produzir desenhos que representassem as suas famílias de origem e atual. As entrevistas foram audiogravadas e, posteriormente, transcritas.

RESULTADOS:
As entrevistas com pais e mães foram analisadas qualitativamente, priorizando-se os significados emergentes das falas dos entrevistados, ao mesmo tempo em que se buscou relacionar as falas com os temas evocados pelas perguntas norteadoras. Pais e mães relatam uma infância de muita pobreza e trabalho, com pouca oportunidade de ir à escola. A maioria dos pais realizava trabalhos fora de casa e afirmam a ausência de seus pais em suas infâncias. Todas as mães trabalhavam em suas casas e afirmam a convivência com os genitores, além de avós, tios, tias, primos e primas. Para pais e mães, o papel do pai está fortemente relacionado ao trabalho e à autoridade moral. No relato dos pais, a escola aparece como parte da vida das crianças de hoje, enquanto que as mães referem-se bastante às poucas oportunidades que elas próprias tiveram de freqüentá-la na infância. Trabalho e honestidade são os valores mais afirmados por pais e mães. Metade dos pais afirma transmitir ensinamentos que aprenderam com seus próprios pais, enquanto a outra metade diz buscar novas bases para criar seus filhos. A responsabilidade para com o lar e com os cuidados das crianças é assumida sem questionamento pelas mães e transmitida para suas filhas.

CONCLUSÕES:
Nas famílias estudadas foram encontradas continuidades e rupturas intergeracionais. Por um lado, pais e mães reproduzem e transmitem papéis sociais aprendidos em suas famílias de origem, enfatizando valores tradicionais como o trabalho e a honestidade. Por outro lado, rompem com as formas de relacionamento familiar vividas com seus próprios pais e mães, buscando construir a paternidade e a maternidade a partir de suas próprias experiências, especialmente no que se refere a uma maior proximidade afetiva com seus filhos. Uma infância sem trabalho, o acesso à escola, e a expectativa de ascensão social para os seus filhos marcam uma importante ruptura de gerações, pois contrasta com a experiência de privação vivida por estes pais e mães em suas infâncias. Mudanças intergeracionais observadas nas famílias relacionam-se com transformações psicossociais sofridas na comunidade. Os resultados encontrados possibilitam uma melhor compreensão da dinâmica familiar na comunidade estudada, podendo contribuir na implantação e continuidade de projetos de intervenção psicossocial à família em contextos comunitários e de serviços de psicologia.

Instituição de fomento: FAPEAL / PIBIC-CNPq

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Família, Comunidade, Intergeracionalidade

E-mail para contato: romulofenix@yahoo.com.br