60ª Reunião Anual da SBPC




H. Artes, Letras e Lingüística - 1. Artes - 6. Fundamentos e Crítica das Artes

QUADRINHOS: A FINA IRONIA EM MAFALDA

Amanda de Oliveira Spitzner1
Nielson Ribeiro Modro1

1. UNIVILLE – Universidade da Região de Joinville


INTRODUÇÃO:
Os quadrinhos são considerados erroneamente como mero entretenimento sem utilidade e subliteratura de caráter infantil, porém as críticas vêm sendo refreadas pela constatação de que pode ser um recurso auxiliar no processo de aprendizagem por seu caráter culturalmente complexo. A utilização da literatura verbo-imagética possibilita ampliar o uso da racionalidade humana, explorando os hemisférios esquerdo (lógico) e direito (emocional/artístico) do cérebro. Aliado ao projeto “A Linguagem dos Quadrinhos: Literatura, Arte e Conhecimento” foi desenvolvida uma pesquisa sobre os quadrinhos da Mafalda, conhecidos por seu denso conteúdo associado ao humor sutil de seu criador, Quino. Mafalda, é uma criança com cerca de sete anos que possui idéias muito pertinentes à sua idade, brinca como qualquer criança, mas está sempre questionando o mundo à sua volta. Sua excessiva preocupação política e social com o mundo lhe dá ares de madura e contrasta com a frugalidade de outros personagens, como sua mãe (perfeito exemplo de dona-de-casa), e Susanita (sua amiga, cuja pretensão na vida é casar e ter filhos com um bom marido rico). Suas tiras são uma deliciosa viagem por questões filosóficas que perpassam o cotidiano despercebidamente e comprovam que quadrinhos são mais que mero entretenimento.

METODOLOGIA:
O projeto de pesquisa “A Linguagem dos Quadrinhos: Literatura, Arte e Conhecimento” tem como objetivo básico a busca por elementos que constatem a possibilidade do uso das histórias em quadrinhos como possibilidade de leitura auxiliar no processo ensino-aprendizagem. Durante o desenvolvimento da pesquisa tem-se a busca por autores que tenham uma obra que possa ter caráter artístico/didático, dentre os quais foi escolhido o cartunista Quino. Assim, foi desenvolvida uma pesquisa sobre os quadrinhos de sua personagem Mafalda e as possibilidades de leitura que suas tiras permitem. Dentre os diversos recortes possíveis para o estudo dos quadrinhos da Mafalda foi feita uma divisão sobre diferentes temas: ironia, política, sociedade, comportamento. Foi realizada, num primeiro momento, uma pesquisa biográfica sobre o autor e, já num momento posterior, quanto ao primeiro tema (ironia) foi realizada uma pesquisa acerca de toda a obra publicada sendo selecionados os quadrinhos mais significativos em que a Mafalda encara a realidade de forma irônica. Como exemplo tem-se a tira em que Mafalda passa em frente a um televisor desligado e reclama da programação. No último quadrinho ela pede desculpas e diz que é apenas força do hábito

RESULTADOS:
Os resultados obtidos até o momento têm sido animadores. Trata-se de uma pesquisa prazerosa que descortina a possibilidade de um mundo literário ainda pouco explorado. O fato do MEC recentemente ter não apenas sugerido como adotado as histórias em quadrinhos como material educativo obrigatório é uma demonstração de que há ainda muito campo a ser explorado nesta área. A pesquisa tem possibilitado a busca por boas produções que possam servir como fundamento para o processo ensino-aprendizagem, de forma lúdica, porém séria e profunda, seguindo a tendência da valorização da literatura dos quadrinhos não apenas como meras narrativas literárias mas também como incorporadoras da linguagem artístico-iconográfica. A sistematização dos dados coletados possibilitará sua utilização por professores que queiram incorporar a linguagem dos quadrinhos nas aulas, explorando seus aspectos lingüísticos, artísticos e contextuais. Mafalda, a personagem, tem suas tiras já utilizadas em livros e concursos, demonstrando sua força de capacidade comunicativa. Tiras aparentemente simples e sem intencionalidade são na verdade profundas análises da realidade circundante e cotidiana a que todos estão sujeitos. Há, por vezes, mais filosofia na fina ironia de uma tira do que em um vasto texto recheado de citações.

CONCLUSÕES:
A pesquisa ora desenvolvida não se trata de um trabalho já finalizado, até porque quando se fala em literatura imagética as possibilidades são infinitas, e há ainda outros temas a serem explorados na vasta obra do autor (Quino), numa busca por comprovar que os quadrinhos trazem em seu bojo muito mais que mero entretenimento sem compromisso. Pesquisar acerca da linguagem nos quadrinhos é antes de tudo estar em sintonia com uma tendência exaustivamente discutida na atualidade. Demonstrar, e desmistificar, que as histórias em quadrinhos podem, e devem, ser utilizadas no dia-a-dia com finalidade não apenas de entretenimento é oportunizar novas formas de aprendizagem que extrapolem a racionalidade da linguagem verbal e incorporem a versatilidade da linguagem artística. Os resultados obtidos certamente são úteis não apenas à comunidade acadêmica mas também a toda a comunidade, de forma direta ou indireta, visto tratar-se de um assunto que desperta o interesse e gera polêmicas e ainda proporciona muito a ser desvendado e explorado. Assim, conclui-se que o estudo acerca das histórias em quadrinhos e suas possibilidades de abordagem, mesmo não sendo um assunto necessariamente novo, é uma discussão ainda bastante incipiente e que proporciona um caminho que ainda possui muito a ser explorado.

Instituição de fomento: UNIVILLE – Universidade da Região de Joinville

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  quadrinhos, mafalda, verbo-imagética

E-mail para contato: amanda.spitzner@gmail.com