60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 5. História - 11. História

O TRABALHO FEMININO NAS INDÚSTRIAS TÊXTEIS DE JOINVILLE (1960-1980): (RE)CONSTRUINDO SOCIABILIDADES DE GÊNERO.

Adriana Medeiros Oliveira1
Janine Gomes da Silva1

1. Universidade da Região de Joinville - UNIVILLE


INTRODUÇÃO:
A cidade de Joinville conhecida por sua constante atividade industrial desde o início do século XX, concentrou sua força de produção principalmente no setor Metal-mecânico e Têxtil. Esta industrialização foi concretizada, dentre outros fatores, com o auxílio do grande crescimento populacional e a decorrente urbanização que propiciou a instalação de indústrias no Brasil. É neste contexto que muitos/as trabalhadores/as irão ocupar o ambiente fabril significativamente durante as décadas de 1960 a 1980. Esta pesquisa buscou reconstruir sociabilidades de gênero a fim de dar visibilidade para as mulheres industriárias que contribuíram ativamente para a economia joinvilense. Nesse sentido, as fábricas têxteis em Joinville, representaram não só um fator que fez com que as mulheres garantissem seu espaço na questão de subsistência familiar, mas também que realizassem um trabalho dual, entre o público e o privado. Estas dicotomias foram analisadas e problematizadas na perspectiva de perceber através das sociabilidades femininas as permanências, os descompassos e as transformações.

METODOLOGIA:
Para compreender a presença feminina no ambiente fabril joinvilense, foi necessário uma análise documental da qual foram trabalhados dois fundos privados referentes às indústrias têxteis de Joinville: Fundo Privado Conrado de Mira e Fundo Cia. Fabril Lepper, pertencentes ao acervo do Arquivo Histórico de Joinville. Alguns elementos extraídos dos documentos dos fundos foram essenciais para compreendermos como foi o trabalho feminino, como por exemplo, da existência de “Aprendizes” nas fábricas. Estas mulheres, em sua maioria muito jovens, tiveram oportunidades de profissionalização dentro das fábricas por intermédio do que elas mesmas denominavam de “escolinha”.Tratar de sociabilidades também significa lidar com minúcias, que podem estar perdidas no tempo e da qual a história oral se encarrega de nos auxiliar na busca dessas histórias. Nesse sentido, foram realizadas seis entrevistas orais, com mulheres que trabalharam em indústrias têxteis de Joinville, como a Casimiro Silveira S. A, Cia. Fabril Lepper, Malharia Arp, Martric e Rainha.

RESULTADOS:
O trabalho feminino correntemente esteve relacionado com a maternidade, domesticidade, ou seja, num âmbito dito privado. Esta questão esta estritamente relacionada com a estigmatização do trabalho industrial feminino no decorrer do século XIX e no início do século XX. As falas analisadas nesta pesquisa através das entrevistas orais retratam estes conflitos e as dificuldades enfrentadas pelas trabalhadoras, mas também momentos que marcaram saudades como conta D.Lúcia ao relembrar que ia trabalhar de bicicleta com satisfação, pois morava em bairro distante da fábrica, e como Joinville tinha muitos ciclistas transitando nas ruas no final da década de 1960. Em relação à profissionalização das mulheres pode-se constatar que muitas Indústrias joinvilenses tinham “Aprendizes”, estas regulamentadas pelo Decreto - Lei n. 229/67 do qual permitia o trabalho de pessoas de 12 á 18 anos como menores aprendizes. O aprendizado ocorria no próprio local de trabalho por intermédio das costureiras, talhadeiras, revisoras e encarregadas que as auxiliavam passando todo conhecimento para estas jovens.

CONCLUSÕES:
Com esta pesquisa foi possível perceber a importância do trabalho feminino em Joinville através das práticas sociais vivenciadas por mulheres que mediante todas as dificuldades mostraram a grande dedicação ao trabalho no setor têxtil. As sociabilidades explicitadas nesta pesquisa ajudaram a refletir sobre o papel da mulher em nossa sociedade. Os elementos que fizeram parte deste período de 1960-1980 foram essenciais para a emancipação feminina ainda que parcialmente. A hierarquização e a segregação do trabalho feminino, este também muito presente nessas relações sociais, fez com que houvesse uma tardia participação feminina na indústria, especificamente como no caso da Cia. Fabril Lepper, que somente no final da década de 1980 aderiu a um número significativo de mulheres. As aprendizes, jovens mulheres iniciantes, tiveram a oportunidade de desenvolver seu trabalho com auxílio das indústrias que facilitavam a profissionalização das mulheres. As amizades no ambiente fabril, constituídas nos intervalos, nas festas, e também no trajeto de bicicleta, são resquícios de uma época que ficará sempre na lembrança das mulheres industriárias joinvilenses.

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Trabalho feminino, gênero, sociabilidades

E-mail para contato: dricaolivi@yahoo.com.br