60ª Reunião Anual da SBPC




D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 5. Saúde Coletiva

A EXPERIÊNCIA DA IMPLANTAÇÃO DOS SERVIÇOS RESIDENCIAIS TERAPÊUTICOS NO MUNICÍPIO: UMA CASA, UMA OUTRA VIDA? COM A PALAVRA OS/AS USUÁRIOS/AS

Jaqueline Queiroz de Macedo1
Maria de Fátima de Araújo Silveira1

1. Universidade Estadual da Paraíba


INTRODUÇÃO:
O processo de reforma da atenção à saúde mental solidificou-se a partir da Declaração de Caracas, realizada pela Organização das Nações Unidas, que mostrou claramente as instituições psiquiátricas como excludentes e onerosas. Baseado nisso, a Reforma Psiquiátrica Brasileira é uma tentativa de modificação do modelo hospitalocêntrico, flexneriano e curativo, ainda hegemônico. Analisando a desinstitucionalização como a construção de projetos que aumentem as possibilidades e probabilidades de vida, vêm sendo implantandas alternativas à internação psiquiátrica, como a criação do Serviço Residencial Terapêutico (SRT) articulados com as demais estratégias substitutivas ao asilamento, para usuários egressos de longas internações psiquiátricas que estejam desamparados pelas famílias. O município de Campina Grande-PB, surge, então, como uma situação exemplar quanto a esse processo devido ao descredenciamento de uma instituição hospitalar pelo Ministério da Saúde. Desse modo esse trabalho apresenta bastante atualidade, pois buscou levantar informações sobre as condições clínicas e projeto terapêutico de cada usuário dos SRTs dessa cidade, descrevendo o cotidiano vivido pelos/as usuários/as na residência terapêutica e, visou identificar a compreensão dos/as moradores/as sobre a residência.

METODOLOGIA:
A pesquisa teve abordagem quanti-qualitativa, pois seu uso combinado em uma mesma pesquisa torna-os complementares e as deficiências de um método podem ser reduzidas. A tipologia é transversal, exploratória, descritiva, comparativa e analítica. Os instrumentos utilizados foram um Formulário, um Roteiro para Entrevista Estruturada e a Observação sistemática. Foram coletados dados dos prontuários dos 45 usuários dos seis SRTs existentes, referentes ao perfil, incluindo medicações, tipo de Projeto Terapêutico, bem como informações a respeito das internações psiquiátricas, no período de novembro de 2006 a janeiro de 2007. Os dados quantitativos foram organizados em quadros e gráficos, apresentados em freqüências e percentagens, e tabulados no programa EXCEL. A amostra para a Entrevista Estruturada foi composta por 14 moradores das residências e buscou conhecer a experiência da convivência no serviço substitutivo. Os depoimentos dos/as participantes foram submetidos à análise de conteúdo e apresentados com discursos e recortes de falas dos/as usuários/as. O estudo seguiu as normas da declaração de Helsinki e as diretrizes da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa CEP/UEPB (Protocolo CAAE 0218.0.133.000-06).

RESULTADOS:
Após a análise dos dados, verificou-se que a maioria dos usuários é do sexo masculino, na faixa etária entre 40-49 anos. O número de internações psiquiátricas anteriores desses moradores, em geral, varia entre 21 a 30 vezes, apresentando décadas de internação realizadas de modo compulsório. Cada morador apresenta um Projeto Terapêutico individualizado, contando com alternativas farmacológicas que, comparadas às existentes no período do asilamento, agora estão mais específicas para casa usuário, psicoterapias e atividades ocupacionais. No cotidiano da residência, os moradores contribuem com os cuidadores na realização das atividades domésticas, como limpeza e arrumação da casa, cozinha e lavagem de roupas; e realizam algumas atividades de auto-cuidado, como higiene, alimentação e vestuário, o que reflete a autonomia já obtida, que tem importante gênese na atenção holística que estão recebendo, como preconiza a Reforma Psiquiátrica. A percepção dos moradores sobre a sua saúde, atualmente, é positiva, conseguem expressar-se utilizando a singularidade e orientar-se a partir da particularidade de cada um, mostrando que a individualização da atenção e a experiência da moradia contribuem para uma sensação de bem-estar bio-psíquico e para um aumento da compreensão da cidadania.

CONCLUSÕES:
Diminuir gradativamente os leitos e mudar a condição cronificante de moradores do hospital vem significando a elaboração de alternativas de residências para esses usuários, tanto por um suporte que garanta sua permanência fora da instituição, pela impossibilidade de retorno à família, como por dispositivos que cumpram o papel de evitar a simples desospitalização e a negligência social. A mudança para a residência terapêutica facultou um desenvolvimento da percepção pessoal de cada morador, uma vez que propiciou a participação social, integração com demais pessoas e consciência de seus direitos, por receberem um cuidado personalizado, seja através das medicações como da atenção psicossocial, e assim, uma terapêutica cidadã. A disposição de realizarem as atividades da vida diária, em si, já é um avanço, pois a realidade das instituições psiquiátricas mostra que o cotidiano de um alienado era de um ser passivo e coletivo. Frente a essa pesquisa, verifica-se que o próximo passo necessário para a construção da cidadania proposta pela Reforma Psiquiátrica é a modificação da representação de discriminação da sociedade para a inclusão do sofredor psíquico.

Instituição de fomento: PIBIC/CNPq/UEPB

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Reforma Psiquiátrica, Serviço Substitutivo, Serviço Residencial Terapêutico (SRT)

E-mail para contato: jaquelineqm@hotmail.com