60ª Reunião Anual da SBPC




C. Ciências Biológicas - 11. Morfologia - 3. Citologia e Biologia Celular

ANÁLISE MORFOMÉTRICA DAS CÉLULAS MUCOSAS BRANQUIAIS E IDENTIFICAÇÃO DE SUAS GLICOPROTEÍNAS EM ALEVINOS (POECILIA VIVIPARA) EXPOSTO A VARIAÇÕES DE SALINIDADE

Thiago Lopes Rocha2, 1
Dônovan Ferreira Rodriguez1
Simone Maria Teixeira Sabóia Morais3, 1

1. Departamento de Morfologia / UFG/LCC
2. Bolsista de Iniciação Científica CNPq/UFG
3. Profa. Dra. Orientadora


INTRODUÇÃO:
Os vertebrados aquáticos da Classe Pisces possuem diferentes adaptações morfo-fisiológicas para a sobrevivência em seu ecossistema, dentre estas cita-se a capacidade de extração do oxigênio da água utilizando as brânquias. Esses órgãos nos peixes também desempenham funções de osmorregulação, equilíbrio ácido-básico, excreção de compostos nitrogenados e gustação. Vários sistemas-modelo são usados para a compreensão da fisiologia branquial e da sua relação com o ambiente, dentre eles o Poecilia vivipara, espécie de pequeno porte, neotropical e eurialino, ou seja, possui tolerância suficiente para sobreviver em ampla variação de salinidade que vai desde a condição de água doce 0 μl/L até a água salobra com 20 μl/L. Para tanto, o guaru modula o comportamento celular dos distintos tipos celulares presentes no epitélio branquial. Devido a isso, é importante entendê-los e averiguar seu envolvimento neste processo. Este trabalho visa analisar os tipos de células mucosas que ocorrem nas brânquias de alevino (pós-natal) expostos a variações de salinidade; classificar a constituição dos grânulos se secreção destas células através da histoquímica clássica e da citoquímica com lectinas; e analisar morfometricamente o número de células mucosas branquiais nos diferentes tratamentos.

METODOLOGIA:
Fêmeas adultas de P. vivipara foram mantidas em tanques maternidades contendo 20L de água doce (AD) até o nascimento dos alevinos. Ao nascerem, os alevinos foram retirados da AD e expostos em água com diferentes concentrações de salinidade (0 μl/L, 5 μl/L, 10 μl/L, 15 μl/L e 20 μl/L) por um período de 2 horas, totalizando 25 alevinos (5 alevinos para cada tratamento). Para reconstituição da salinidade foi utilizado sal marinho comercial (Coralife - USA). Os alevinos foram fixados por imersão em Karnovsky por 2 horas. O experimento foi realizado em duplicata, sendo os espécimes da primeira exposição destinados às análises histo/citoquímicas e os da segunda repetição destinados a análise morfométrica. O primeiro lote foi incluído em paraplast, seccionado com 4 µm de espessura e submetido à coloração H.E.. Outros cortes foram tratados para reações de glicoconjugados utilizando as técnicas histoquímicas clássicas e “screening” com 10 lectinas biotilinadas. O segundo lote foi incluso em Historessina (hidroxi-etil-metacrilato), seccionada com 1 µm de espessura. Esses cortes foram corados com Azul de Toluidina 1% pH 8,4. Mensurou-se o nº de CMs branquiais nos dois primeiros arcos branquiais, direito e esquerdo. Os dados foram analisados através da ANOVA e do teste de Tukey.

RESULTADOS:
Os alevinos desde os momentos iniciais de livre natação possuem brânquias aptas a desempenharem suas distintas funções, em especial a osmorregulação e a respiração. As células mucosas (CMs) tipo IV, presente nos rastelos branquiais, são o único tipo de CM branquial identificada em alevinos expostos em distintas concentrações de salinidade. Elas possuem formato globoso e núcleo localizado na região basal; são PAS positivas e amilase resistentes, AB pH 2,5 reativas, e possuem reação positiva às lectinas STLB e LELB. Não se verificou reação positiva às lectinas SBA, ECL, VVL, PHA-E4, UEA-I, WGA, MAM e ConA. Seus grânulos mucosos apresentam distintos estados de condensação quando corados pelo Azul de Toluidina pH 8,9, e ocupam grande parte do citosol. Após secreção, o conteúdo dos grânulos mucosos permanece aderido a toda superfície branquial e ao epitélio faringiano, e promovem lubrificação, proteção contra desidratação, forma barreira seletiva protetora contra irritantes do meio externo e microorganismos patógenos, além de facilitar a difusão de íons. As análises morfométricas indicam que não há indícios suficientes para confirmar um aumento do número de CM tipo IV em um período de 2 horas de exposição à salinidade.

CONCLUSÕES:
As células mucosas tipo IV são o único tipo celular mucoso presente nos rastelos branquiais de alevino do guaru (Poecilia vivipara) expostos a 0 μl/L, 5 μl/L, 10 μl/L, 15 μl/L e 20 μl/L de salinidade por um período de 2 horas. As análises histoquímicas e citoquímica com lectinas indicam que os grânulos de secreção das CM tipo IV são compostos por grupos complexos de glicoproteínas (GP) com alta glicosilação. Estas células possuem GP ácidas carboxiladas/sulfatadas, e GPs neutras. Seus grânulos são delimitados por membrana e possuem N-acetilglicosamina em animais expostos às concentrações acima de 5µl/L por 2 horas. Antes de sua eliminação, os grânulos citoplasmáticos sofrem alterações através dos processos de condensação ou de agregação dos produtos de secreção, promovendo uma liberação de muco em grande quantidade. Sugere-se que durante o período de 2 horas não haja uma proliferação celular, mas sim uma secreção de muco mais intensa nas brânquias de alevinos exposto a água com maiores concentrações de sal.

Instituição de fomento: CNPq/UFG

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  muco, eurialinidade, guaru

E-mail para contato: thiagorochabio@hotmail.com