60ª Reunião Anual da SBPC

INTRODUÇÃO:

Esta pesquisa foi realizada com base nas atividades desempenhadas pelo Projeto “TRILHAS DA VILA, PONTES DE SABERES: educação popular com crianças em saúde e meio ambiente”, vinculado a Pró-reitoria de extensão, da Universidade do Estado do Pará, desenvolvido na Vila da Barca, localizada no Bairro do Telegrafo, entre a Baía do Guajará e a Avenida Pedro Álvares Cabral, na Cidade de Belém. A comunidade, inserida em uma área de ocupação, comporta indivíduos com características sócio-ambientais próprias de um grupo de baixo poder aquisitivo, com ínfimas condições de habitabilidade, sendo que a maioria mora em palafitas, ás margens da Baia do Guajará, sujeitos às oscilações da maré fluvial. O estudo tem como objetivo investigar as mudanças sentidas pelas crianças de 04 a 12 anos, que compõem o projeto, no processo de transição infra-estrutural e sócio-cultural ao qual estão submetidas, bem como analisar os impactos provenientes da implementação do projeto de Urbanização e Habitação da Vila da Barca, promovido pela prefeitura em parceria com o governo federal, na realidade dos atores sociais da comunidade, visto que, objetiva a construção de 618 unidades habitacionais em alvenaria, saneamento básico e ambiental. Assim como um projeto de trabalho social.

METODOLOGIA:

Metodologicamente, a pesquisa está pautada na abordagem qualitativa e será operacionalizada por meio de observação participativa da realidade do grupo envolvido, bem como dinâmicas em grupo desenvolvidas no projeto. Os sujeitos sociais focados pela pesquisa se constituem por um grupo formado por aproximadamente 40 crianças de 04 a 12 anos; e educadores dos respectivos cursos: pedagogia, terapia ocupacional, tecnologia agroindustrial e letras. Mediante a arte-educação e as atividades desenvolvidas no projeto Trilhas da Vila, coletamos os dados necessários à pesquisa através da analise pictográfica dos desenhos e das falas, criando categorias de pesquisa que buscam vincular o estudo das condições de vida à dinamização das ações que expressam a justificativa, o questionamento e a explicação da desfiliação social, vivenciada na comunidade.

RESULTADOS:

Dentre os resultados, constatamos a precariedade das condições de existência das famílias moradoras da Vila da Barca, tendo reflexo direto, no desenvolvimento fisiológico, cognitivo e social das crianças que ali vivem. No decorrer das atividades, observamos o conflito acerca do conceito de moradia nas crianças, pois oscilavam entre a idéia de morar no condomínio de concreto, a ser construído, ou nas estivas de madeira de 1,20m de largura, utilizadas como ruas, onde andam de bicicleta, brincam, bem como tomam banhos diários nas águas da Baia do Guajará. Anseios esses, presentes nos desenhos e nas falas destas crianças, oriundas, em 85%, da área de palafitas, cujos traços pictografados incidem sobre o cotidiano e o ambiente do entorno da Vila com destaque para: ausência de saneamento básico, segurança pública e a precariedade das moradias. Por exemplo, frases como estas são comuns: “muito bandido, muita bala, gente má que agarra meninas e senhoras”, em relação à criminalidade; ou então relacionados à própria vivencia como: “eu gosto da maré, não quero mudar de casa”. A porcentagem de gênero se constitui em 25 meninos e 30 meninas assíduos no projeto, a assiduidade cresce qualitativamente ao longo do ano atingindo o patamar de 89% de freqüência das crianças no geral.

CONCLUSÕES:

Consideramos de fundamental importância à pesquisa e a formação teórica-prática em desenvolvimento na equipe, bem como a abrangência das percepções acerca de formação comunitária ali existente, através de discussão, contato e disseminação dos aspectos sócio-ambientais presentes no circuito social e infra-estrutural da Vila da Barca. As mudanças do contexto social e ambiental das crianças são gradativas, 96 famílias já residem no condomínio, porém o espaço tornou-se restrito para o brincar na baia, nas estivas, na vazante da maré. Restrição expressada nas múltiplas expressões das crianças (falas e escritas) sobre a mudança (verbais, corporais e comportamentais). Os impactos provenientes da implementação do projeto de urbanização são concernentes à questão espacial, mediante o tamanho da moradia (casas de madeira com salas amplas e quartos pequenos para abarcar muitos familiares, uma família chega a ser constituída de 13 membros, por exemplo), a questão cultural, devido às criações de animais (porco, galinha) pertencentes a algumas famílias. Contudo, são imprescindíveis as melhorias das condições de vida, por meio da construção de drenagem pluvial, abastecimento de água, esgoto sanitário, além a política ambiental de recuperação do espaço de ocupação da Vila da Barca.

Palavras-chave: Ambiente, transição sócio-espacial, interação social

E-mail para contato: lucyli_costa@yahoo.com.br