60ª Reunião Anual da SBPC

INTRODUÇÃO:

Considerando que pesquisadores e clínicos concordam que a adolescência consiste num período especialmente vulnerável, gerador de problemáticas emocionais, que motivam demandas clínicas, decidimos investigar o imaginário coletivo de adolescentes a respeito da adolescência e do uso de álcool e drogas. A presente pesquisa teve como objetivo a investigação psicanalítica do imaginário coletivo de adolescentes, que estudam em escolas públicas do estado de São Paulo sobre o uso de álcool e drogas.

METODOLOGIA:

A pesquisa foi realizada mediante o uso do Procedimento de Desenhos-Estórias com Tema (Aiello-Vaisberg, 1999) como facilitador dialógico de comunicação emocional significativa em sala de aula. Solicitou-se aos adolescentes que desenhassem, individualmente, “um adolescente dos dias de hoje” e que, depois, inventassem e escrevessem, no verso da folha, um história sobre a figura desenhada. As produções foram examinadas de acordo com o método psicanalítico, tal como é operacionalizado pela Teoria dos Campos. O trabalho analítico fez-se no contexto do Grupo de Pesquisa, porque se considera que a criação/encontro dos múltiplos sentidos emocionais veiculados se enriquece quando levada a cabo intersubjetivamente.

RESULTADOS:

Num total de 126 desenhos estórias, 45 trazem o uso de álcool e drogas como tema. Após o trabalho analítico, foi possível detectar três campos psicológicos não conscientes: “Má influência dos amigos”, “Busca de popularidade” e “Mundo sofrido”. O quadro geral indica que expressiva parcela de adolescentes preocupa-se com o uso de álcool e drogas e que o imaginário estudado configura-se segundo linhas predominantemente imaturas e paranóides. Este plano de trabalho, que focaliza alunos de escolas públicas, foi complementado por outro, dedicado ao estudo de adolescentes de escolas particulares. Apesar da existência de diferentes condições concretas de vida e do fato de termos encontrado uma porcentagem mais elevada de desenhos-estórias que focalizam o uso de álcool e drogas, não foram encontradas diferenças significativas nos campos estruturantes dos imaginários coletivos de estudantes de escolas públicas e particulares.

CONCLUSÕES:

Como um todo, a pesquisa revela que a questão das drogas preocupa parcela expressiva dos adolescentes pesquisados. Seu imaginário organiza-se em termos fundamentalmente imaturos, já que segue linhas paranóides, segundo as quais os usuários e não-usuários poderiam ser facilmente diferenciados em termos de bom e mau comportamento. Por outro lado, o uso da droga é visto, em si mesmo, segundo uma ótica paranóide, seja quando é produzido por más influências, seja quando é estratégia para obter popularidade. Finalmente, detectamos um movimento no sentido de maior maturidade e superação da paranóia, que se expressa no campo “Mundo Sofrido”, na vigência do qual é possível articular, no imaginário, uma vinculação causal entre o sofrimento emocional e a busca da droga como estratégia defensiva.

Instituição de fomento: CNPq e PUC-Campinas

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave: Psicanálise, Uso de drogas, Adolescentes

E-mail para contato: mari_pontes@hotmail.com