60ª Reunião Anual da SBPC




H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 5. Teoria Literária

BARROCO 2.0

Otávio Guimarães Tavares1
Alckmar Luiz dos Santos1, 2, 3

1. UFSC
2. Prof. Dr.
3. Orientador


INTRODUÇÃO:
A literatura barroca se reveste de dificuldade e obscuridade. O objeto ou objetivo nunca é exposto de modo claro e distinto diante dos olhos do leitor. Ele é deixado a perambular infinitamente pelo texto (talvez em busca de uma síntese). Muitas das obscuridades se dão por uma dificuldade no processo de leitura em relação ao objeto literário barroco. Os poemas barrocos nem sempre se deixam ler por métodos convencionais; muito pelo contrário, através de vários artifícios estéticos, eles quebram a linearidade material numa espécie de reeducação do processo de leitura. Encontramos no Barroco uma rearticulação do modo como o ser humano vê o mundo. Há uma recusa pela rigidez clássica perfeitamente geometrizada. Ou seria melhor não dizer recusa, mas questionamento dessa visão. A escrita barroca se utiliza de normas e formas estéticas, alterando-as para seu novo modo de ver. A letra e a imagem começam a se mesclar, tornando evidente que a forma também é um significante, ou ainda que toda a materialidade da obra é um significante a ser explorado.

METODOLOGIA:
Operou-se aqui através de uma lenta e metódica leitura e revisão das obras literárias de vários autores do Maneirismo, Barroco e experimentalismo de vários línguas (desde o Barroco brasileiro até possíveis ligações com a poesia metafísica inglesa); tentando aos poucos ligar tanto características quanto imitações de cada poema. Também se prosseguiu em leituras analíticas de aspectos característicos do Barroco, tentando jamais perder de vista a obra literária em si, ao teorizar as suas características, para depois utilizar essa leitura perante o objeto digital.

RESULTADOS:
É possível pensar o objeto digital em meio a um emaranhado barroco. Para isso, tomamos especificamente a criação digital ou, como aparece em subtítulo, o “poema hipermídia” Amor de Clarice de Rui Torres, uma releitura do conto Amor, de Clarice Lispector; este é transladado de meio – passa do impresso para o digital — e de gênero — da prosa ao verso —, para criar um novo objeto artístico, usufruindo de inúmeros recursos que o meio digital vem oferecer; criando, assim, uma nova acepção de Amor. Podemos entender o aparato de navegação pelo poema de maneira análoga aos mecanismos de leitura barrocos. Nestes, o autor propunha um jogo na criação da obra e em sua leitura. Esse jogo consistia num processo lógico textual a que o autor se submetia, como também o próprio leitor no momento de leitura (basta lembrarmos, por exemplo, o Labirinto Cúbico de Anastácio Ayres de Penhafiel). O que ocorre no meio digital pode ser considerado uma objetivação desse processo, através de uma lógica infiltrada – o código de programação. Em vez de criar uma lógica implícita, o autor recorre a uma linguagem de programação (no caso do poema em questão, a Actionscript) que irá dar forma ao poema e a toda lógica de possibilidades que o leitor irá encontrar. No final, o poema é a outra face dessa linguagem lógica que o estrutura. De certa maneira podemos pensar a linguagem de programação como uma evidenciação material da lógica textual, que antes permanecia algo implícito ao poema; uma concretização da possibilidade.

CONCLUSÕES:
Seria pouco lícito falar de uma conclusão enquanto tento exemplificar que a literatura barroca e digital são artes essencialmente abertas. Porém, como os paradoxos constituem uma das características mais prementes do Barroco, me permitirei falar de alguns pontos anteriormente apenas insinuados. Um dos maiores feitos do Barroco é a abertura da obra em que forma e conteúdo se unem, criando uma abertura completa. Encaminhamos nosso olhar do Barroco ao meio digital; tentando sempre manter em vista que o digital não é o Barroco, mas que podemos ler no digital um caminho influenciado ou, pelo menos, próximo ao Barroco, em que o conhecimento das técnicas barrocas auxilia nossa busca de um novo olhar. Assim, nos arriscamos em tatear alguns traços mais pertinentes a esse novo meio. Nesse contexto, o poema Amor de Clarice configura para nós a união entre a dupla abertura proposta no Barroco. O poema digital seria, talvez, uma fagulha do que há muito se constitui como uma literalidade aberta diante um novo meio. Permitimos-nos deixar essa questão em aberto e apontar meramente para o fato de que esse poema permite uma revisão do ato de ler, e uma revisão do que guardamos como objeto artístico.

Instituição de fomento: PIBIC/CNPq

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  BARROCO, TEORIA DO TEXTO, LITERATURA E INFORMÁTICA

E-mail para contato: nonada1@gmail.com