60ª Reunião Anual da SBPC




E. Ciências Agrárias - 1. Agronomia - 5. Agronomia

VERIFICAÇÃO DO ÁCIDO CHIQUÍMICO EM SOJA GENETICAMENTE MODIFICADA

ANDRÉ LUIZ DE SOUZA LACERDA1
MARCUS BARIFOUSE MATALLO1

1. Instituto Biologico


INTRODUÇÃO:
A capacidade dos genes inseridos nas cultivares de soja em expressar tolerância ao herbicida glyphosate, pode ou não ocorrer de forma homogênea entre cultivares e, até mesmo, dentro de uma mesma cultivar. O estádio fisiológico de desenvolvimento em que se encontra a soja no momento de aplicação e a dose praticada são outros fatores que interagem entre si e que podem influenciar a tolerância da cultura ao glyphosate, causando injúrias nas plantas e tendo como conseqüência quedas significativas na produtividade. A queda de produtividade pode estar relacionada ao acúmulo de ácido chiquímico nas plantas de soja geneticamente modificada, pois um dos aspectos importantes na rota do ácido chiquímico é a inibição pelo herbicida glyphosate da enzima 5-enol-piruvil-shikimato-fosfato sintetase (EPSPs) responsável por uma das etapas de síntese da fenilalanina, tirosina e triptofano (Christoffoleti et. al., 2003; Cerdeira et. al., 1988). O bloqueio da rota do shiquimato devido à ação do glyphosate leva ao acúmulo de ácido chiquímico com muitas implicações fisiológicas e ecológicas (Cole & Cerdeira,1982). Entre os efeitos, podem ser citados: síntese de IAA e de outros hormônios vegetais, síntese de clorofila, síntese de fitoalexinas e de lignina, síntese de proteínas, fotossíntese, respiração, transpiração, permeabilidade de membranas e outros mais (Becerril et. al. 1989, Duke & Hoagland,1985). Portanto, a presente pesquisa teve como objetivo verificar os níveis de ácido chiquímico em cultivares de soja suscetível e tolerante ao glyphosate.

METODOLOGIA:
O ensaio foi realizado sob condições controladas de temperatura (25oC), umidade relativa (80%) e fotoperíodo de 14 horas de luz (fitotron) e conduzido no esquema de delineamento inteiramente casualizado com três repetições. A cultivar tolerante (BRS-Valiosa RR) e a suscetível (Conquista) ao glyphosate foram pulverizadas com doses em escala logarítimica iguais a 0,0; 0,1; 1,0 e 10 vezes a dose de 2,0 L/ha de glyphosate, contendo 480 g/L de equivalente ácido. Após 24 e 96 horas as aplicações, o meristema apical das plantas no estádio fisiológico V2 foi coletado para a determinação da concentração do ácido chiquímico (mg.g-1) por cromatografia líquida de alta resolução (HPLC). Para isso, utilizou-se um cromatográfo marca Shimadzu LC 2010 equipado com auto-injetor e detector de arranjo de diodos (212,0 nm). A coluna empregada foi da marca Phenomenex, modelo Gemini C18 (250,0 mm x 4,0 mm; 5,0 μm tamanho de partícula) com pré-coluna C18 da mesma marca. O volume de injeção usado foi de 20,0 μL. O sistema isocrático empregado utilizou como fase móvel a mistura de água MilliQ a pH 3,0: metanol na proporção 95:5 e fluxo de 1,0 mL.minuto-1. Uma curva de calibração externa com cinco pontos de ácido chiquímico com ≥ 97% de pureza foi realizada para calibração do equipamento (R=0,9964). Foram elaboradas curvas dose - resposta através do ajuste não linear dos dados, utilizando o modelo matemático log-logístico: Y = C+D-C / 1 + Exp[b{log(x)-log(GR50)}], conforme proposto por Streibig (1988).

RESULTADOS:
Pelas curvas dose-resposta, verificou-se que o nível de concentração de ácido chiquímico determinado na variedade Conquista foi de 30,0 mg/g, enquanto que, na variedade de soja transgênica BRS-Valiosa RR foi de no máximo 0,28 mg/g para o tratamento glyphosate aplicado na concentração 10 vezes a dose comercial, ou seja, 20,0 L/ha. Observou-se também que, na variedade Conquista, a aplicação de glyphosate na concentração 0,1 vezes à dose comercial recomendada (0,2 L/ha), foi suficiente para acumular ácido chiquímico a níveis iguais a 10 vezes a dose comercial recomendada (20,0 L/ha). Sendo assim, a soja convencional acumulou muito mais ácido chiquímico que a soja transgênica uma vez que a concentração média foi 68 e >100 vezes superiores aos níveis de concentração de ácido chiquímico encontrados na soja transgênica, respectivamente 24 e 96 horas após aplicação do glyphosate, corroborando com a pesquisa de Pline et. al. (2002) que ao estudarem o acúmulo do ácido chiquímico em variedades de algodão resistentes e suscetíveis ao glyphosate, verificaram que todos os tecidos das variedades suscetíveis acumularam ácido chiquímico em resposta ao tratamento com glyphosate, enquanto que as variedades tolerantes acumularam muito menos ácido chiquímico.

CONCLUSÕES:
A soja geneticamente modificada variedade BRS – Valiosa RR demonstrou ser tolerante ao herbicida glyphosate, uma vez que, as concentrações de ácido chiquímico determinadas na soja convencional variedade Conquista foram muitas vezes superiores aos níveis determinados na variedade transgênica.

Instituição de fomento: FAPESP



Palavras-chave:  BIOTECNOLOGIA, SOJA, GLIFOSATE

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