60ª Reunião Anual da SBPC




D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 4. Saúde Pública

A MEDICINA POPULAR NA REGIÃO DA BAÍA DA BABITONGA: AS BENZEDEIRAS

Roman Orzechowski1
Sandra Paschoal Leite de Camargo Guedes2

1. Acadêmico do curso de Medicina - UNIVILLE
2. Profa. Dra. - Medicina - UNIVILLE - Orientadora


INTRODUÇÃO:
São Francisco do Sul, Joinville, Balneário Barra do Sul, Araquari, Garuva e Itapoá são as cidades relacionadas a esta pesquisa. São na maioria, cidades formadas por populações litorâneas ligadas à pesca e à cultura popular principalmente àquela trazida pelos colonizadores açorianos. A exceção é Joinville, cidade colonizada por imigrantes germânicos, mas que sofreu, por seu caráter industrial, inúmeras levas de migrações de diferentes partes do país. Além disso, são cidades com forte caráter religioso. Nesse contexto, as benzedeiras, que são vistas como curandeiras e amigas da natureza, ainda estão muito presentes na região, trabalhando com o lado espiritual que, muitas vezes, está por trás de todo desequilíbrio orgânico. Um dos objetivos do trabalho é mostrar um pouco da cultura popular da região, ligada especificamente às benzedeiras, para ser mais valorizada, principalmente pelos médicos e agentes, a fim de humanizar a saúde. Para isso, faz-se necessário conhecer a participação das benzedeiras na procura da cura de doenças na região e compreender seu papel na cultura popular.

METODOLOGIA:
A primeira parte da pesquisa foi composta por revisão bibliográfica que propiciou o conhecimento sobre a importância das benzedeiras na cultura brasileira e regional. Posteriormente, analisaram-se questionários padronizados aplicados na região da baía da Babitonga. O referido questionário foi originalmente aplicado a um total de 853 pessoas pelo Grupo de Pesquisas História Regional durante a pesquisa “Representações sociais sobre o Patrimônio Histórico e pré-colonial dos municípios circunvizinhos à baía da Babitonga” e estava composto por 29 questões abertas e fechadas, das quais, para esta pesquisa, foram analisadas apenas três, relativas a nosso objeto principal, ou seja, às benzedeiras. A primeira questão analisada refere-se ao fato de a pessoa já ter ou não ouvido falar em benzedeira, a segunda se o entrevistado já havia tido alguma experiência pessoal com uma benzedeira e a terceira questão, aberta, pedia que o entrevistado descrevesse a tal experiência. Essas questões foram confrontadas com o perfil socioeconômico dos entrevistados, ou seja, idade, escolaridade, renda familiar e ocupação profissional. Os estudos ainda não terminaram, na próxima fase serão realizadas entrevistas orais com benzedeiras da região.

RESULTADOS:
Dos 853 questionários analisados 84% das pessoas já ouviram falar em benzedeiras. Na pergunta, se já tiveram alguma experiência pessoal com elas esse número cai para 48%. Nesse grupo, não há diferença significativa quanto ao grau de instrução dos entrevistados ou quanto à renda familiar, predominam famílias com segundo grau completo e renda acima de três salários mínimos. O grupo dos que nunca tiveram experiência com benzedeiras é pouco maior com 52% dos entrevistados. 7,3% dos entrevistados relatam que não vão à benzedeira porque são evangélicos. Alguns relataram ser tudo lenda, e que só Deus que cura. Com a revisão bibliográfica foi possível conhecer o significado de doenças que levam as pessoas à benzedeira, as mais freqüentes são: “arca-caída” ou dores musculares, “mau olhado” ou inveja e ciúmes e a “erisipela” que é uma infecção cutânea por Streptococus pyogenes. 28,7% dos entrevistados relataram que foram levados quando criança à benzedeira, por diversos motivos entre os principais: choro constante, quebrante (energia negativa), alergias (brotoejas), inquietudes, sapinho (infecção bucal por fungos) e até unha encravada. Ainda hoje segundo relatos os avós e pais levam seus filhos e netos para receber qualquer tipo de benzimento.

CONCLUSÕES:
Na região da Baia da Babitonga há fortes indícios da ação de benzedeiras presentes ainda hoje. Verificou-se que a renda ou escolaridade não impede que as pessoas freqüentem a benzedeira ou procurem tratamento alternativo. A maior procura por benzedeiras está relacionada a crianças que são levadas pelos pais ou parentes. Já os adultos buscam mais o lado psicológico que está em desarmonia. A população que habita a região da Baía da Babitonga é predominantemente católica, porém o número de fiéis católicos que fortalecem as benzedeiras está diminuindo, assim como a falta de interesse de jovens familiares seguirem o caminho do benzer e do desapego material. Além disso, a importância da relação social da benzedeira é relevante ao meio médico, com a finalidade de tratar e respeitar melhor cada paciente. Segundo relatos, os médicos muitas vezes são mal interpretados por não compreender o meio cultural de seus pacientes, principalmente quando se trata de religiosidade.

Instituição de fomento: PIBIC CNPQ

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  benzedeiras, medicina popular, humanização

E-mail para contato: romanbis@yahoo.com.br