60ª Reunião Anual da SBPC

INTRODUÇÃO:

Ao debatermos sobre a temática das Altas Habilidades nos deparamos com os mitos, ou seja, com concepções equivocadas que compreendem as altas habilidades/ superdotação, AH/SD, de modo muito simplista e estereotipado, dificultando assim, o reconhecimento da identidade desses sujeitos. Através da discussão com o grupo dos pais das crianças que participam do “PIT - Programa de Incentivo ao Talento”, vinculado ao projeto de pesquisa “Da identificação a orientação de alunos com características de altas habilidades” - observamos que muitos desses mitos compunham o imaginário desses pais e/ou responsáveis acerca das habilidades de seus filhos. Com isso, o presente trabalho visou demonstrar de que maneira ocorreu a desconstrução dos mitos ao proporcionar oportunidades para uma nova postura dos pais frente às expectativas dos mesmos sobre as capacidades e talentos de seus filhos, bem como, a ampliação de idéias e conhecimentos adquiridos ao longo dos debates. Desta forma, a referida proposta evita a difusão do esteriótipo da pessoa “ranzinza”, “auto-suficiente”, “CDF” e “nota dez em tudo”, oriundo do preconceito e da desinformação.

METODOLOGIA:

A discussão foi realizada com o grupo de pais e/ou responsáveis dos discentes participantes do PIT, desenvolvida em uma sala de aula da escola onde o projeto está alocado. Inicialmente, o processo de desmitificação baseou-se no enfoque sobre os mitos descritos no texto ”A superdotação pelo olhar do senso comum” oriundo do material produzido pelo Ministério da Educação, MEC, com ênfase nos conceitos de Criança Precoce, Criança Prodígio e Gênio, bem como nas considerações sobre Necessidades Educativas Especiais e Dificuldade de Aprendizagem. Posteriormente, os participantes disporam-se em um semicírculo de modo que os mesmos deveriam, ao retirarem aleatoriamente palavras relativas à temática contida no texto que fundamentou este trabalho, discorrer sobre as mesmas iniciando, portanto, a discussão. Neste momento, possibilitou-se o colacionamento de conceitos iniciais obtidos sobre a temática das altas habilidades/superdotação com conceitos desenvolvidos no decorrer do estudo da mesma, ocorrendo, assim, uma troca de experiências relevantes que resultou numa percepção mais focada nas reais características das crianças com AH/SD.

RESULTADOS:

A participação constante dos pais no desenvolvimento desses debates, fez nos refletir sobre a dificuldade de desprendimento de influências e matrizes sócio-culturais construídas ao longo da vida, considerando que, frequentemente, muitas concepções acerca dos sujeitos com altas habilidades/superdotação são influenciadas pelo meio circundante (mídia, família, escola, Instituição religiosa etc). Entretanto, com as discussões, oportunidades para trocas de experiências e de diferentes pontos de vista e, principalmente, a partir das reflexões que os debates suscitaram, percebemos que ocorreram mudanças efetivas nos discursos destes pais e/ou responsáveis que estavam, inicialmente, relutantes às novas idéias e colocações. Contudo, ao final do processo de (re) construção de imaginários, o grupo percebeu-se como agente no processo de construção dos conhecimentos relacionados à temática que envolve as altas habilidades, bem como se tornou promotor das informações acerca das reais características do sujeito com AH/SD tanto para estes pais quanto, indiretamente, ao meio social que estão inseridos. Estas participações foram imprescindíveis para o Projeto a fim de tornar possível o aprofundamento a respeito da identidade das pessoas com AH/SD.

CONCLUSÕES:

Observamos que a idéia da auto-suficiência estava presente no imaginário popular da grande maioria dos pais e que, apesar de buscar informações sobre o tema, estes não haviam refletido profundamente sobre o enfoque sobre os mitos que permeiam a caracterização e a estimulação de pessoas com AH/SD. Este enfoque abrange, ainda, a questão dos “rótulos” que, mesmo errôneos permanecem ao longo do tempo como referência popular nesta temática. Com os resultados positivos obtidos com este trabalho, concluímos o quanto é relevante problematizarmos acerca de questões que estão arraigadas, por vezes, em nossos “saberes”, permeados por equívocos do senso comum. Para iniciar-se um processo de ruptura e reflexão interna e mudarmos percepções, concepções e convicções construídas pela tradição e cultura, esta exige que a tomada de uma nova postura frente aos mitos e as reais habilidades do superdotado seja através da disponibilidade para ouvir, discutir e refletir sobre o tema, rompendo, assim, com as barreiras do preconceito e dos estigmas que prejudicam a identificação e o atendimento das necessidades educativas especiais dos sujeitos com altas habilidades.

Instituição de fomento: Universidade Federal de Santa Maria

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave: Altas Habilidades, Mitos, Educação Especial

E-mail para contato: anysantoss19@gmail.com