60ª Reunião Anual da SBPC




D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 3. Saúde de Populações Especiais

SITUAÇÃO NUTRICIONAL DE CRIANÇAS MENORES DE 60 MESES DE COMUNIDADES INDÍGENAS DO PARANÁ

Lirane Elize Ferreto1, 2
Francieli do Rocio de Campos1
Pedro Méier1
José Bortolaz2
João Maria de Andrades1
Neide Bellandi1

1. Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Ciências Sociais Aplicadas
2. Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Centro Ciências Médicas e Farmacêutica


INTRODUÇÃO:
O estado nutricional segundo Mahan e Escott-Stump (1998) é a expressão do grau no qual as necessidades fisiológicas garantirão o funcionamento do organismo que estão sendo alcançadas. O estado nutricional é uma condição de saúde que sofre influência do consumo e utilização de nutrientes, correlacionada com as informações obtidas de estudos físicos, bioquímicos, clínicos e dietéticos. Estado nutricional segundo o Ministério da Saúde (Brasil, 2002:01) é um “um excelente indicador de saúde e qualidade de vida, espelhando o modelo de desenvolvimento de uma determinada sociedade”. O objetivo desta pesquisa é de avaliar o estado nutricional de crianças menores de sessenta meses incluídas no Projeto Estadual de Implantação da Piscicultura em Aldeias Indígenas do Paraná: Palmas e Laranjinha. Avaliar o estado nutricional de crianças indígenas é um indicador que pode estar contribuindo no combate a doenças como a desnutrição infantil com a efetivação de políticas públicas de atenção a esta população. A desnutrição infantil tem suas causas centradas na baixa ingestão de nutrientes, causando diferentes prejuízos para o funcionamento do organismo. Entende-se que este estudo pode estar colaborando para alteração das condições nutricionais destas crianças com dados que melhor caracterizem essas alterações para contribuir na melhoria das condições de saúde através de ações das políticas públicas de atenção aos povos indígenas.

METODOLOGIA:
No período de março de 2005 a fevereiro de 2006, realizou-se um estudo de corte transversal, em crianças menores de 60 meses das aldeias de Palmas e Laranjinha (PR). Totalizaram 110 crianças (Laranjinha: n=23; Palmas: n=87), sendo estudadas 100%. A coleta de dados realizou-se com a utilização de questionários padronizados onde eram anotadas todas as informações referentes dados socioeconômicos, inquérito alimentar e avaliação antropométrica. As informações foram fornecidas pelas mães ou responsáveis pelas crianças. A avaliação antropométrica foi realizada por alunos de graduação e corpo de saúde da FUNASA devidamente treinado quanto à técnica de antropometria baseado em recomendações da Organização Mundial de Saúde (WHO, 1995). Ambas as medidas de peso e altura foram realizadas duas vezes, extraindo-se a média entre duas medidas. Para verificação do peso foi utilizada uma balança fixa pediátrica, modelo Welmy com capacidade de 0 -150 kg e precisão de 100 g (para menores de 24 meses) e uma balança adulto modelo Filizzola com a mesma capacidade de precisão da balança pediátrica (para crianças entre 24 e 60 meses). Para a verificação da estatura de crianças menores de 24 meses foi utilizado o estadiômetro pediátrico marca TAL e para crianças de 24 a 60 meses foi utilizado o estadiômetro acoplado a balança adulto. As crianças foram pesadas e medidas usando roupas leves e sem calçados. Para a caracterização do estado nutricional das 110 crianças, foram analisadas as seguintes variáveis: sexo; faixa etária; índices antropométricos peso/estatura (P/E), peso/idade (P/I), estatura/idade (E/I); para classificação do estado nutricional das crianças utilizou-se a classificação do desvio-padrão da WHO. Utilizou-se, como ponte de corte, dois escores z abaixo e acima da mediana da população de referência do National Center for Health Statistics (NCHS, 1978; WHO, 1995), calculadas no software Virtual Nutri¸ (Philippi et al., 1996). Neste momento serão somente divulgados os dados antropométricos das crianças investigadas. Esta pesquisa respeitou as recomendações da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, tendo sido aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNIOESTE e pelo Conselho Nacional de Ética em Pesquisa.

RESULTADOS:
A classificação WHO (1995) adotada neste estudo define obesas, crianças que se encontram na curva P/E, com índices superiores a 2,0 escores Z acima da mediana da população de referência e baixo peso aquelas com índices inferiores a 2,0 escores Z abaixo da mediana de referência. Segundo a curva Estatura/Idade são consideradas com baixa estatura crianças com índices inferiores a 2,0 escores Z abaixo da mediana da população de referência. Os dados coletados das 110 crianças indígenas menores de 60 meses de Palmas verificou-se a prevalência de 83% (n=35) para o déficit de estatura para idade (E/I). A faixa etária de 48 a 60 meses apresentou uma concentração de 26,2% de déficit para E/I, seguida da faixa etária de 12 a 24 meses. A baixa estatura para a idade está geralmente associada a baixa disponibilidade de alimentos, analfabetismo materno e baixa renda. Com relação análise peso para estatura (ZPE), verificou-se a que 97,6% das crianças encontram-se dentro do padrão -2 ≤ ZPE < -1, sendo que 66,7% no padrão ZPE ≥-1. O baixo peso para estatura está associado geralmente a ausência ou baixa imunização, elevada prevalência de infecções. A avaliação do peso para idade (ZPI) apresentou um prevalência de concentração de déficit em 33,4% das crianças na faixa de 12 a 36 meses, apresentando um padrão de normalidade na faixa etária de 48 a 60 meses. Os dados apresentados se assemelham a de outras pesquisas como a de Post et.al. (2000) apresentou déficit de estatura para idade e adequação do peso para estatura. Observando os dados pode-se dizer que as crianças estudadas não apresentam desnutrição aguda ou atual.

CONCLUSÕES:
Os resultados encontrados demonstram que as crianças menores de 60 meses se encontram com desnutrição crônica, originada por longos períodos de ausência de uma alimentação em quantidade e qualidade adequadas. Reforça a necessidade de políticas públicas de alimentação e nutrição e de atenção a população indígena mais eficaz. Políticas que não só monitorem, façam o diagnóstico e o tratamento mas tornem realidade, por exemplo, as ações de segurança alimentar e nutricional descritas na 4º Conferência Nacional de Saúde Indígena (2006), que deveriam dar suporte com ações estruturantes para o desenvolvimento indígena sustentável, com geração de renda, privilegiando-se a produção de alimentos, com segurança alimentar. Também deve ser incentivados a participação indígena no Programa Nacional de Agricultura Familiar, com o auxílio de linhas de financiamento adequada às peculiaridades da população indígena, incentivando a agricultura familiar indígena e a produção de alimentos para o consumo direto dessas populações. Esse incentivo deve incluir adequada capacitação dos indígenas interessados (BRASIL, 2007a). É preciso ficar claro que o enfrentamento dos problemas nutricionais demanda soluções intersetoriais e sustentáveis, sem deixar de reconhecer ações emergênciais como integrantes dos direitos humanos, especificamente, o direito humano à alimentação, sendo exemplos: a distribuição de alimentos e a transferência de renda (VALENTE, 2002).

Instituição de fomento: PETROBRÁS, S/A



Palavras-chave:  estado nutricional, crianças índigenas, desnutrição

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