60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 4. Sociologia do Trabalho

TEMPO E INOVAÇÃO TECNOLÓGICA: ANÁLISE DISCURSIVA DE EMPRESÁRIOS DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO EM INCUBADORAS TECNOLÓGICAS

Thays Wolfarth Mossi1
Cinara Lerrer Rosenfield1, 2

1. Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS
2. Profª. Drª. - Orientadora


INTRODUÇÃO:
O trabalho faz parte do projeto “Construção da Inovação através de Redes de Cooperação Universidade-Empresa: Análise das Iniciativas e Estratégias de Cooperação no RS”. Pretende-se aqui um recorte. O objeto empírico serão duas incubadoras tecnológicas do RS, que possuem um perfil distinto. Uma delas é setorial, da área de Tecnologia da Informação (TI), e encontra-se em uma universidade pública, onde não há parque tecnológico. A outra é multi-setorial, inserida no parque de uma universidade privada. Sabe-se do contexto atual de constante necessidade de inovação em produtos, e da velocidade com a qual esses perdem suas características inovativas, o que pode ser observado, marcantemente, nos produtos de TI. O objetivo é analisar como os empresários de TI lidam com a relação entre esse curto período de tempo e a constante necessidade de inovação que enfrentam. E, em especial, daqueles que precisam lidar com tal situação, e articulá-la com um período de incubação pré-estabelecido, no qual devem consolidar-se no mercado. Soma-se a isso o caráter obrigatoriamente inovador de suas empresas na incubadora. Este estudo faz-se relevante uma vez que propõe uma reflexão sobre o tempo, assunto ao qual são destinados raros trabalhos em sociologia, subestimando o potencial teórico desse conceito.

METODOLOGIA:
A fim de compreender como os empresários do TI enfrentam as relações entre tempo e inovação acima expostas, foram realizadas dez entrevistas formais semi-estruturadas nas duas incubadoras. Para essa compreensão, é importante a perspectiva das noções de tempo e inovação como construídos socialmente. O tempo como um produto das relações sociais, que, simultaneamente, as orienta e organiza. E a inovação como um processo, que não ocorre apenas dentro das empresas, mas em decorrência de sua interação com a sociedade. Para análise das entrevistas, foi adotada a “análise de práticas discursivas”. Este método consiste na construção de mapas e árvores de associação de idéias, bem como de linhas narrativas. A categorização das entrevistas nos mapas de associação de idéias foi orientada pelas hipóteses de que a) as relações entre tempo e inovação interferem negativamente na finalização do produto; e de que b) a inovação, no período de incubação, é uma estratégia para inserir a empresa no mercado. Da mesma forma, a construção das árvores de associação de idéias baseou-se nessas hipóteses, acrescentando-se a organização das empresas com relação ao processo de trabalho. As linhas narrativas foram construídas com relação às trajetórias das empresas, antes e durante o período de incubação.

RESULTADOS:
Os resultados aqui apresentados possuem caráter parcial, tendo em vista que o trabalho ainda não foi encerrado. Eles referem-se a três aspectos: organização do trabalho, produtos desenvolvidos e sua inovação, bem como estratégias de inserção no mercado. Sobre o trabalho, percebe-se que não há horário fixo para entrar ou sair da empresa. É organizado em função de prazos e demandas. Notou-se também uma diferença entre o trabalho gerencial e comercial e o trabalho técnico. É constante na fala dos empresários a idéia de que atuar na área de TI confere certo grau de liberdade, para se trabalhar quando for melhor. Com relação aos produtos, foram encontrados dois tipos. O primeiro consiste num escritório de projetos, no qual se desenvolvem soluções para problemas já existentes. Neste caso, a inovação está em encontrar uma solução. Já o segundo, são softwares de gestão, onde há incrementação de produtos já existentes. Quanto ao terceiro aspecto, foram identificadas estratégias distintas. A primeira é a utilização da incubadora como uma ferramenta, que oferece apoio gerencial. A segunda refere-se a estar na universidade, uma vez que a imagem da instituição garante visibilidade e confiabilidade.

CONCLUSÕES:
Baseando-se nos resultados acima expostos, pode-se chegar a algumas conclusões, ainda que estas não sejam consideradas finais. A primeira delas é a de que a flexibilização do trabalho - por demanda, tarefa, projeto - é uma estratégia importante para articular tempo e inovação. Da mesma forma, a liberdade de se trabalhar quando a produção individual é melhor parece ser o ponto de superação da contradição entre um curto período de tempo e uma constante necessidade de inovação. Sendo assim, a hipótese de que a relação tempo x inovação prejudica a finalização do produto parece refutada, mesmo que não definitivamente. Pôde ser percebido, também, que a inovação consiste em encontrar um nicho de mercado intermediário - não de grandes empresas - que não tem condições de adquirir a tecnologia produzida pelos líderes mundiais de TI. Desta maneira, a hipótese de que a inovação é uma estratégia de inserção da empresa no mercado é aceita de forma parcial. Uma diferença que parece se estabelecer entre a incubadora da universidade pública e a de universidade privada é a de que, nesta última, estar na incubadora possibilita estabelecer uma rede de relações, através das quais se fazem negócios em parceria.

Instituição de fomento: CNPq

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  tempo, inovação tecnológica, flexibilidade do trabalho

E-mail para contato: thaysmossi@gmail.com