60ª Reunião Anual da SBPC




H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 1. Lingüística Aplicada

LEITURAS DO PROFESSOR E SUA PRÁTICA PEDAGÓGICA ESCOLAR: UMA ANÁLISE DISCURSIVA

Jacqueline Meireles Ronconi1
Filomena Elaine Paiva Assolini3

1. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto - USP
3. Departamento de Psicologia e Educação - FFCLRP - USP


INTRODUÇÃO:
Neste trabalho, apresentamos os resultados parciais de uma pesquisa que investiga as práticas de leitura de professores de classes de quarta-série do ensino fundamental, bem como se estas práticas influenciam as condições de produção em que se dão os saberes e fazeres pedagógicos dos professores em sala de aula. Nossa pesquisa busca saber a relação que os professores estabelecem com a leitura, se eles se entendem como sujeitos capazes de produzir sentidos e se, ao longo de sua vida profissional, eles têm se ocupado o lugar de “intérprete”, ou seja, daquele que tem o direito de atribuir sentidos, ou de “escrevente”, isto é, a quem só é permitido exercer o trabalho de sustentação de sentidos, conforme Pêcheux (1997). Investigamos em que medida estes fatores ecoam e repercutem em seu trabalho pedagógico escolar.Para concretizar nossa pesquisa, fundamentamo-nos nos postulados teórico-metodológicos da Análise do Discurso de “linha” francesa (de ora em diante AD), e na teoria Sócio-Histórica do Letramento, tal como pensada por Tfouni (1995). A perspectiva discursiva compreende o modo como um objeto simbólico produz sentido, não a partir de um gesto automático de decodificação, mas como procedimento que desvenda a historicidade contida na linguagem, em seus mecanismos imaginários.

METODOLOGIA:
Nosso corpus é constituído por entrevistas semi-estruturadas realizadas com seis professores de seis diferentes de escolas públicas, professores que ministram aulas para as quartas-séries do ensino fundamental. Essas entrevistas que tiveram por objetivo saber a relação que eles estabelecem com a leitura, dentre outras questões, foram gravadas em áudio e transcritas literalmente pela própria pesquisadora. Depoimentos escritos desses professores sobre suas vivências e experiências com a leitura também integram o nosso corpus. Observamos as aulas desses professores durante o período de tempo correspondente a vinte horas semanais, totalizando assim 120 horas de observação, registradas em um Diário de Campo. O material didático utilizado pelos professores para o preparo das aulas de língua portuguesa, (livros infantis, gibis, textos fotocopiados, livros didáticos etc.), também é objeto de análise. A partir deste amplo “espaço discursivo”, Maingueneau (1987) fizemos alguns recortes, que constituem as seqüências discursivas de referência S. D. R., Courtine (1981), analisadas e discutidas.

RESULTADOS:
Os resultados parciais apontam que, dentre outras questões, há educadores que não incentivam nem estimulam seus alunos a ler, muito menos lhes proporcionam condições e oportunidades para realizar leituras críticas, que poderiam ser feitas sob o signo da curiosidade e do questionamento, leituras que levassem os educandos a aprender a pensar, duvidar do que lêem, construir idéias, argumentos e ocupar a posição de “intérprete historicizado”. Esses educadores não tiveram oportunidades, ao longo de suas vidas de ocupar lugares que lhes permitissem construir uma relação prazerosa com a leitura. Cabe à AD, trabalhar seu objeto (o discurso) inscrevendo-o na relação da língua com a história, buscando na materialidade lingüística as marcas das contradições ideológicas. Segundo Ginsburg (1980), as marcas são pistas que, por um lado atestam a relação entre o sujeito e a linguagem, no texto, por outro lado não são detectáveis e apreendidas mecânica e empiricamente, pois os mecanismos enunciativos não são unívocos nem auto-evidentes. São construções discursivas com seus efeitos de caráter ideológico. Para atingi-las é preciso teorizar. (Orlandi, 1988).

CONCLUSÕES:
As conclusões preliminares alcançadas nas análises realizadas até o presente momento apontam que é fundamental que o próprio educador consiga ocupar o lugar de um sujeito intérprete, ou seja, de um sujeito que refuta, desconstrói o que lê, atribui e produz sentidos, a fim de que possa constituir-se em um modelo de leitor exemplar para seus alunos, bem como desenvolver uma prática pedagógica que não se restrinja ao âmbito do processo parafrástico de linguagem. Para isso, consideramos que, tanto os cursos de formação inicial quanto os de formação continuada, devem preocupar-se de fato com a profissionalização docente, em especial com a construção de um sujeito leitor. As práticas de leitura realizadas pelos professores do ensino fundamental restringem-se, sobretudo, à leitura de livros didáticos e de seus respectivos manuais. Alguns poucos professores (02), dedicam-se à leitura de obras destinadas ao seu aprimoramento profissional, bem como à leitura de textos cuja finalidade é proporcionar-lhes momentos de prazer e diversão. Esses educadores empenham-se em realizar um trabalho pedagógico que estimula os seus alunos a ler, contribuindo dessa forma para com a formação de sujeitos capazes de pensar, refletir e raciocinar criticamente.

Instituição de fomento: Pró - Reitoria de Graduação da USP

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  leitura, professor, prática pedagógica

E-mail para contato: jaronconi@hotmail.com