60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 5. Psicologia da Saúde

O OLHAR DO PSICÓLOGO SOBRE A HUMANIZAÇÃO EM UMA INSTITUIÇÃO HOSPITALAR

Maristela Dalbello de Araujo1
Helaynne Ximenes Faria1
Juliana Valadão Leite Archanjo1

1. Programa de Pós-Graduação em Psicologia Institucional - UFES


INTRODUÇÃO:
A Política Nacional de Humanização (PNH) foi criada com objetivo de operar de forma transversal em toda rede do Sistema Único de Saúde - SUS. A PNH tem como valores a autonomia, o protagonismo dos sujeitos, a co-responsabilidade entre eles, os vínculos e a participação coletiva no processo de gestão dos serviços de saúde (Ministério da Saúde, 2007). Falar em humanização implica propor mudanças nas formas de prestar serviços de saúde aos usuários; e na maneira como se dão as relações entre os trabalhadores e os gestores no cotidiano das organizações dos serviços de saúde. A humanização é uma questão atual, debatida na 13ª Conferência Nacional de Saúde, e um ponto chave a ser discutido no âmbito da saúde coletiva, especialmente pertinente ao trabalho dos psicólogos da área da saúde. O objetivo deste trabalho foi conhecer, a partir da análise institucional, a rotina de uma instituição hospitalar privada na região da Grande Vitória, avaliando os princípios da PNH. A postura cartográfica adotada pautou-se por considerar as experiências, os jogos de poder e as forças envolvidas no processo, evidenciando uma enorme gama de elementos presentes nas relações de trabalho e de produção do cuidado dentro do ambiente hospitalar.

METODOLOGIA:
As atividades foram realizadas em conjunto com o profissional psicólogo da instituição, que tem como atribuição acompanhar o processo de implementação do Programa de Humanização. Inicialmente, procuramos conhecer as dependências do hospital, sua política de trabalho e funcionamento, projetos em andamento e numero de funcionários por área e setor. Realizamos entrevistas individuais e em grupo, bate papos informais e observação sistemática da rotina do hospital e funcionários. Foi utilizado como ferramenta um diário de campo, no qual foram registradas todas as impressões e informações vividas neste processo. Também tivemos acesso a organogramas, indicadores de turnover e uma pesquisa de clima entre funcionários e questionários com índices de satisfação dos pacientes. Este trabalho teve a duração de 5 meses, nos quais semanalmente foram realizadas discussões e análises dos dados obtidos nas observações, tendo como parâmetro as diretrizes da PNH. Ao final, foi os dados foram discutidos com os diretores e o psicólogo da instituição para apresentação das conclusões obtidas.

RESULTADOS:
A partir das primeiras informações verificamos que havia um alto índice rotatividade e afastamento do trabalho por motivos de doença por parte dos funcionários, principalmente nos setores de recepção, enfermagem e higienização. Entre os meses de janeiro e fevereiro ocorreram 4 admissões, 3 demissões e 49 atestados médicos entre os funcionários da recepção; 7 admissões, 11 demissões e 99 atestados médicos entre os trabalhadores da equipe de enfermagem e 6 admissões, 10 demissões e 26 atestados médicos no setor de higienização. Através dos encontros realizados, pudemos perceber que havia uma grande preocupação com a saúde dos pacientes do hospital, mas um total descaso com a saúde dos funcionários. A instituição estava passando por um processo de Acreditação de nível 2, que exigia muitas mudanças, como por exemplo, seguir os princípios da PNH. No entanto, essas mudanças aconteciam de forma verticalizada, o que certamente contribuiu para o adoecimento dos trabalhadores que reagiam com indiferença ou descrédito sobre as mudanças que estavam sendo propostas ou procuravam saídas individuais tais como os pedidos de demissão e até mesmo os atestados médicos.

CONCLUSÕES:
Com as informações obtidas através de documentos, entrevistas e pesquisas prévias do hospital somada à uma visão cartográfica do cotidiano e das relações, pudemos verificar que havia um enrijecimento das formas de gestão e organização do trabalho e a inexistência de mecanismos e espaços para verbalização dos problemas cotidianos. As propostas de humanização se faziam presentes através do processo de Acreditação pelo qual passava o hospital, bem como, nos procedimentos e atendimento aos usuários. Porém, o entendimento de que a gestão e atenção devem caminhar juntas, promovendo a idéia de co-participação entre usuários, trabalhadores e gestores, não se verificou. Um alto índice de adoecimento e afastamento do trabalho foi constatado (através dos atestados médicos e pedidos de demissão), sendo entendido como aspecto emergente, resultante das precárias relações existentes entre os trabalhadores e destes com as gerências do hospital. Como profissional interessado nas discussões sobre humanização, o psicólogo deve estar atento aos jogos de força que perpassam a produção do cuidado em saúde, questionando o adoecimento dos funcionários da instituição e evidenciando a relação entre saúde dos trabalhadores do hospital e a possibilidade de eles exercerem a função de cuidadores com sucesso.



Palavras-chave:  saúde e trabalho, saúde coletiva, política nacional de humanização

E-mail para contato: dalbello@intervip.com.br