60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 1. Sociologia da Saúde

GÊNERO E ESCOLHAS NA ESTERILIZAÇÃO MASCULINA E FEMININA

Katrini Alves da Silva1
Lucila Scavone2
Lara Roberta Rodrigues Facioli1

1. Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara - Unesp
2. Profª Drª do Departamento de Sociologia - FCLAr - Unesp


INTRODUÇÃO:
O presente trabalho é um dos resultados da pesquisa Relações de Gênero nas práticas de esterilização e reprodução assistida, coordenada pela Profª Drª Lucila Scavone (UNESP/CNPq), cujos objetivos é investigar as relações de gênero nas práticas da esterilização e reprodução assistida. Neste trabalho fazemos uma reflexão sobre as relações de gênero na prática da esterilização com base em entrevistas realizadas na cidade Araraquara – SP, com homens e mulheres esterilizados pelo SUS. Nosso propósito é refletir sobre os significados da esterilização neste universo, pressupondo que esta prática evidencia posições e escolhas diferenciadas entre homens e mulheres relacionadas às questões de gênero na família e na sociedade. Este pressuposto se baseia não só no pequeno índice de homens vasectomizados, 2,4% frente ao índice de mulheres esterilizadas, 40,1% (IBGE/PNAD - 1996), como, sobretudo, pouca adesão e/ou oferta de serviços de vasectomia masculina, tendo em vista o caso específico de Araraquara

METODOLOGIA:
Recebemos da prefeitura uma lista com os nomes dos homens e mulheres esterilizados pelo SUS, após a implantação do Programa de Planejamento Familiar na cidade. Dos 95 homens vasectomizados e das 345 mulheres laqueadas sorteamos 20 mulheres e 10 homens para a realização das entrevistas. Procuramos estabelecer um vínculo de confiança entre entrevistadora e entrevistado (a) para garantir o bom resultado das entrevistas e permitir o aprofundamento de temas relacionados à vida particular do/as entrevistadas, como os propostos pela pesquisa. Com essa preocupação, as entrevistas foram realizadas individualmente, cada membro da equipe se responsabilizou por um número de entrevistas e por seu processo. Tanto a realização da entrevista e sua transcrição, como a elaboração de uma etnografia, com a descrição do contexto e das relações da entrevistadora com a/o entrevistada/o e sua família, foram etapas importantes de coleta e análise. Tomamos como referencial o método de “escuta ativa e metódica”, proposto por Bourdieu (1997, p.693), em A miséria do mundo, o que implica considerar as entrevistas, também, em sua singularidade. A entrevista, transformada em documento, depois de transcrita, torna-se o objeto final de análise.

RESULTADOS:
As mulheres, ao se esterilizarem, aderiram ao ‘método’ mais utilizado no país em idade de reprodução: a esterilização feminina, e nos disseram simbolicamente, com base em suas experiências, que essa é uma questão de gênero: “decidi... quando eu vi como era difícil ser mãe (...)eu que quis, porque filho eu acho que fica com a mãe (...) filho é da mãe,(....) sabia que essa responsabilidade era minha”. (Entrevista n° 17). “Ah... foi porque eu já tinha quatro filhos né, e minhas condições financeiras não dava, nem psicológicas [risos] também porque, né você, às vezes, cansa mentalmente...” (Entrevista n° 20). Os homens vasectomizados optaram por essa prática devido a questões financeiras e com isto manifestaram a importância do papel de provedor na família, assumindo a responsabilidade tradicional que lhes é designada: “Mesmo depois de ter separado (...) eu acho que ter um ou dois filhos mais fora do meu outro casamento, o que eu posso dar de conforto pros meus filhos hoje, eu não vou poder (...) apesar que judicialmente eu não tenho obrigação de dar mais nada a não ser a pensão.” (Entrevista nº 21). “Esse era o jeito mais fácil, mais simples, mesmo porque a gente tinha decido não ter mais filhos pelas condições financeiras, então eu achei o mais correto”. (Entrevista n° 25)

CONCLUSÕES:
Os motivos que levam homens e mulheres a se esterilizar são bem diferentes: os homens deixam evidente a preocupação com a situação financeira e só se submetem à cirurgia depois de um longo planejamento pessoal, levando em conta desde o número desejado de filhos, até a resolução de tabus acerca do procedimento, como por exemplo, a perda da virilidade. Já as motivações das mulheres que buscam a laqueadura são muito mais complexas, alguns motivos são recorrentes e combinados na maioria das entrevistas, como falhas/problemas com outros métodos contraceptivos, despreparo psicológico para cuidar de crianças e o elevado número de filhos. Quando a mulher decide se esterilizar pouco se preocupa com a própria saúde, as questões fundamentais são a sua responsabilidade pela contracepção e as dificuldades para cuidar dos filhos. É neste sentido que os depoimentos deixam entrever posições de gênero bem definidas na busca pela esterilização: os homens por serem provedores e as mulheres por serem cuidadoras das crianças. Isto reflete relações de gênero em prejuízo das mulheres.

Instituição de fomento: CNPQ

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Gênero, Esterilização, Família

E-mail para contato: larafacioli@yahoo.com.br