60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 1. Geografia Humana

COMPREENDENDO “TERRITORIALIZAÇÕES FAVELA” EM “SANTA MARTA: DUAS SEMANAS NO MORRO”

Ana Brasil Machado1, 5, 4, 2
Frederico Guilherme Bandeira de Araujo1, 2

1. Universidade Federal do Rio de Janeiro
2. Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional
4. Departamento de Geografia
5. Instituto de Geociências


INTRODUÇÃO:
O presente trabalho foi produzido no âmbito do Grupo de Pesquisa Modernidade e Cultura (GPMC), sediado no Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (IPPUR), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Utiliza a metodologia denominada “Hermenêutica Dialógica”, desenvolvida pelo GPMC, e tem como tema reflexivo os discursos “territorializações favela” presentes no vídeo “Santa Marta: duas semanas no morro”, de Eduardo Coutinho. Trata-se de um documentário de média-metragem encomendado pelo Instituto de Estudos da Religião (ISER), filmado em 1987 na favela carioca homônima. É objetivo do trabalho a compreensão da relação dialógica estabelecida entre os diversos discursos internos ao filme proferidos pelos sujeitos presentes no documentário. Além disso, objetiva também testar a aplicação da supracitada metodologia para a linguagem cinematográfica. O trabalho justifica-se à medida em que se considera a sintomática presença de discursos-territorializações das favelas no documentário, expressando visões e estratégias diferenciadas de significação e apropriação do espaço, e que procurar compreender esse tipo de trama é chave à reflexão sobre os domínios sócio-espaciais denominados “favela” na metrópole do Rio de Janeiro.

METODOLOGIA:
A metodologia utilizada é a “Hermenêutica Dialógica”, desenvolvida coletivamente pelo GPMC. Trata-se de uma metodologia inspirada nos escritos de Mikhail Bakhtin, que toma como discurso toda e qualquer forma de enunciação. Essa metodologia visa a compreensão do signo de um discurso a partir de seus quatro domínios indissociáveis: o objeto, o significante, o significado e o sentido. Este último deve ser destacado já que corresponde a uma adição ao considerado na lingüística tradicional. Os sentidos, para cada sujeito discursivo em determinado contexto, podem ser deslindados investigando-se o confronto dialógico entre os significados dos discursos em relação. Os sujeitos discursivos, constituintes da relação dialógica, são os agentes especificados pelo “estado de sujeito” manifesto em seus pronunciamentos concretos. É importante ressaltar que, além disso, esses pronunciamentos têm a possibilidade de apresentar um dialogismo interno. Deste modo, a confrontação dos diversos significados de “territorializações favela” presentes no filme permite a compreensão dos múltiplos sentidos atribuídos a esta expressão.

RESULTADOS:
O discurso cinematográfico “Santa Marta: duas semanas no morro” mostra-se como um discurso não monocórdio, já que apresenta diferentes enunciados atrelados a distintos estados de sujeito. No trabalho foram então escolhidos enunciados presentes no documentário que operam uma territorialização, ou seja, que seu dizer institui um conteúdo e, através dele, expressa uma certa apropriação ou controle do espaço designado como “favela”. A partir destes enunciados puderam ser destacados três sujeitos discursivos presentes explicitamente no discurso “Santa Marta”: os moradores do local denominado Santa Marta, o policial militar e o diretor do filme. Os pronunciamentos desses sujeitos possuem, cada um deles, significados particulares acerca da favela. Com o confronto destes significados foram identificados sentidos internos ao discurso fílmico, permitindo compreender suas multi-significações e, assim, compreender os signos “territorializações favela” presentes em “Santa Marta: duas semanas no morro”.

CONCLUSÕES:
O trabalho mostrou a adequação da metodologia às análises do discurso cinematográfico, notadamente quando associadas à análise fílmica para o entendimento de significantes e significados. A compreensão dos signos “territorialização favela” desvendados a partir da confrontação dos significados internos ao discurso “Santa Marta: duas semanas no morro”, permite iluminar a trama das disputas sobre o poder dizer “favela” e, portanto, do cotidiano do domínio sócio-espacial assim designado.

Instituição de fomento: PIBIC/CNPq

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  territorialização, favela, cinema

E-mail para contato: zicabrasil@hotmail.com