60ª Reunião Anual da SBPC




F. Ciências Sociais Aplicadas - 10. Comunicação - 67. Jornalismo e Editoração

ARQUEOLOGIA SUBAQUÁTICA X CAÇA AO TESOURO: A CONTRIBUIÇÃO DO JORNALISMO CIENTÍFICO PARA MUDANÇAS DE MENTALIDADE

Glória Maria Vagioni Tega Calippo1

1. Centro de Estudos de Arqueologia Náutica e Subaquática/UNICAMP


INTRODUÇÃO:
Este trabalho apresenta os resultados obtidos com a divulgação científica do Centro de Estudos de Arqueologia Náutica e Subaquática (CEANS) da UNICAMP, realizada no âmbito do Programa José Reis de Incentivo ao de Jornalismo Científico (FAPESP), entre novembro de 2006 e outubro de 2007, sob a orientação do arqueólogo Prof. Dr. Pedro Paulo Abreu Funari e co-orientação (jornalística) do Prof. Dr. Eustáquio Gomes, com o apoio do Prof. Dr. Gilson Rambelli (diretor do CEANS), do Núcleo de Estudos Estratégicos (NEE) e do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (NEPAM), ambos da UNICAMP. Como o CEANS é o único centro, no Brasil, a realizar pesquisas e ações de proteção e gestão em concordância com os termos da Convenção da UNESCO para a Proteção do Patrimônio Cultural Subaquático (Paris, 2001), promovendo-a inclusive, o principal objetivo da pesquisa foi estudar, através da análise de veículos impressos de comunicação, a problemática que surge em conseqüência do desconhecimento do que é a Arqueologia Subaquática e da confusão que se faz entre esse ramo “molhado” da ciência Arqueologia e a prática ilegal (e inconstitucional) da exploração comercial (tráfico) do patrimônio arqueológico (TEGA, 2008).

METODOLOGIA:
As pesquisas tiveram início com o acompanhamento de trabalhos de campo e leituras sobre o tema. Buscando a complementação e a obtenção de um diagnóstico dos problemas na divulgação, optou-se por entrevistas com arqueólogos do CEANS e a realização de um levantamento sobre o material divulgado na mídia sobre a Arqueologia Subaquática. Além disso, com o intuito de melhor compreender a relação entre cientistas e imprensa, foram realizadas, também, entrevistas e coleta de dados com pesquisadores e veículos da imprensa de países onde a relação desta disciplina com os meios de comunicação já se encontra consolidada. Em conseqüência da preocupante situação em que se encontra esse patrimônio brasileiro (RAMBELLI, 2002), ao invés de continuarmos desenvolvendo uma postura distanciada, optou-se aqui pela adoção de uma proposta mais participativa, onde, além da prática de uma assessoria de imprensa - que instruía os cientistas no trato com jornalistas e para a divulgação científica (FRANÇA, 2005), buscou-se também rediscutir questões intrínsecas à pratica jornalística, onde a defesa da imparcialidade jornalista e da noção da verdade absoluta dão lugar à defesa de determinados posicionamentos, assumindo intenções, ideologias e relações com grupos de interesse (KARAM, 2004).

RESULTADOS:
O principal resultado é a constatação de que a caça ao tesouro é destacada pela imprensa brasileira como algo extraordinário e positivo o que, além de marginalizar a Arqueologia e os cientistas, acaba prestando um desserviço à sociedade brasileira, pois incentiva a depredação e legitima a intervenção de não arqueólogos nos sítios. Procurando corrigir esta distorção, a pesquisa promoveu ações de divulgação que enfocavam o público, agentes e veículos de comunicação (CHAPARRO, 1994). Além da criação de um novo site do CEANS na UNICAMP, a alimentação e atualização dele e do outro já existente, houve a colaboração com a Revista Eletrônica História e-História (ISSN 1807-1783), que, com mais de 3.000 visitas e dezenas de news letters distribuídas no período, difundiu 4 entrevistas, 3 notícias e 7 reportagens. No Portal e jornal da Unicamp foram 8 publicações. A partir de 11 releases distribuídos, foram geradas mais de 100 publicações eletrônicas ou impressas, 1 reportagem radiofônica (Rádio Senado 15/08/07), 1 reportagem e 1 entrevista ao vivo na TV (Rede Globo BA, 24 e 25/10/07). Ações que acabaram, após inúmeros contatos e assessoramento, ajudando na divulgação e apoio ao Projeto de Lei 7566, que acaba com a exploração comercial do patrimônio arqueológico subaquático.

CONCLUSÕES:
O massivo trabalho de divulgação científica e de assessoria de imprensa foi de fundamental importância para que a Arqueologia Subaquática pudesse chegar ao grande público, contribuindo para o fortalecimento da própria ciência, na difusão dos problemas que o Brasil enfrenta em relação à comercialização de seu patrimônio cultural subaquático e até para a mudança da legislação. Entretanto, alguns problemas ainda persistem. As incompreensões a respeito da Arqueologia Subaquática e a insistência de setores da imprensa em continuar enaltecendo a noção aventureira e do lucro fácil, que, segundo Castro, 2005, tanto degradam a situação do patrimônio cultural submerso não mudarão de uma hora para outra. Tal modificação não depende somente de eficazes ações de comunicação, mas, principalmente, da construção de um processo de mudança de mentalidades a médio e longo prazo, onde a divulgação científica deverá assumir um papel preponderante na difusão de temas relacionados a questões éticas, morais, ideológicas e políticas (REIS, 2002).

Instituição de fomento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo FAPESP



Palavras-chave:  Jornalismo Científico, Divulgação Científica, Arqueologia Subaquática

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