60ª Reunião Anual da SBPC




H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 5. Teoria e Análise Lingüística

DISCURSO E CORPO: SENTIDOS CONSTRUÍDOS PARA O CORPO MASCULINO NO ESPAÇO DISCURSIVO DA REVISTA G MAGAZINE

Maria do Socorro Correia Lima1

1. Universidade Estadual de Campinas


INTRODUÇÃO:
Sabemos que existe uma imensa investigação sobre o corpo, sobre seus modos de inscrição e de significação, no campo da antropologia, da filosofia, da psicologia, da educação, da sociologia, da educação física (dentre outros). Contudo, creio que há ainda muito que dizer, discursivamente, sobre ele. O corpo é significado de diversos modos, pois existem diferentes gestos de interpretação no contexto social. Isso implica dizer que o corpo é penetrado por multifacetados sentidos de acordo com a ordem do discurso no qual ele é interpretado, significado e desvelado. O corpo viril, as dimensões do falo, a robustez do macho e a sensualidade são apenas alguns dos exemplos que podem ser referidos com a finalidade de evocar a textualidade e imagens presentes nos ensaios fotográficos de homens focalizados pela lente da Revista G Magazine. Esta materialidade revisitada me interessa enquanto fato discursivo tendo em vista que compreendo sua forma material como um acontecimento da língua na história. Ainda que a Revista G Magazine traga ao longo de suas páginas imagens explícitas que chamam a atenção do sujeito-leitor para o genital (áreas erógenas), não me apressaria em afirmar que se trata de uma revista de cunho pornográfico. Levarei em conta o espaço de atualização da revista na convergência de uma memória discursiva para, nesta ótica, entender não só os efeitos de sentidos construídos para o corpo masculino, mas também compreender os efeitos de leitura e de sujeito-leitor.

METODOLOGIA:
Baseado no referencial teórico da Análise de Discurso Francesa (AD), este trabalho visa a analisar os sentidos produzidos para o corpo masculino a partir de um espaço de atualização denominado pornográfico, a Revista G Magazine. A partir dos textos dos ensaios nos quais aparecem imagens fotográficas justapostas à narração e à descrição de modelos em estado de exposição/exibição do corpo, bem como enunciados que os referem, foi possível observar que o corpo que ali foi colocado em cena enfatiza os movimentos discursivos veiculados pela mídia que difundem conceitos de corpo, beleza e saúde. As análises serão realizadas a partir dos conceitos de memória discursiva, interdiscurso e formações discursivas. Cabe-me salientar que não me interessa o corpo empírico, porém um corpo que tem espessura material, um corpo que é revestido de uma memória discursiva na qual ecoam muitas vozes: estou me referindo ao corpo do homem brasileiro em um espaço de atualização bastante específico, mais precisamente, a Revista G Magazine. Tecidas pela malha discursiva, as imagens de masculinidade, sexualidade e virilidade dos homens veiculados nos ensaios fotográficos são reiteradas.

RESULTADOS:
Os ensaios destacam não só a beleza corporal, mas também a sensualidade e textualidade implícitas em cada imagem. O corpo nu convida o sujeito-leitor a embarcar em um jogo de sedução constante, no qual, desejo, prazer e fantasias sexuais são os principais ingredientes. De fato, o que chama a atenção para os ensaios da G Magazine é a beleza do corpo em exposição e a textualidade que o acompanha. Afetados pela malha discursiva, homens têm suas geografias corporais e imagens de si ancoradas em formas perfeitas, em músculos esculpidos e, sobretudo no imaginário do (a) outro (a). O corpo é, ao mesmo tempo, polissêmico e polifônico. Dialoga com outras vozes, é perpassado por uma memória discursiva e, neste sentido, constituído por um movimento exterior a si. Vozes, gestos interpretativos e memória inevitavelmente são evocados para se pensar a produção dos efeitos de sentido e os modos de subjetivação dos sujeitos no e face ao corpo. As formulações construídas/produzidas para significar o corpo masculino se inscrevem na ordem do repetível. Vale ressaltar que não estamos falando da repetição formal e nem mesmo empírica, porém aquela que inscreve o dizer no repetível enquanto memória constitutiva, o interdiscurso. As redes de filiações, ou seja, essa memória do corpo másculo, sexy e viril construída histórica e culturalmente explicita bem a necessidade de inscrição da história na língua para que esta signifique.

CONCLUSÕES:
As análises dos enunciativos descritivos e narrativos justapostos às imagens de modelos em estado de exposição do corpo viabilizam demarcar um espaço interpretativo no qual a revista se inscreve e, também, propicia estabelecer uma diferença com as demais revistas cujo eixo central é o corpo em exposição/exibição. Os recortes analisados sugerem que a forma de enunciação constrói um corpo constitutivamente relacionado à robustez e à virilidade. Nesta ótica, as associações são tecidas entre corpo, força, beleza e saúde (não aludida, porém implícita). Masculinidade, sexualidade, vigor físico, prazer, sensualidade, vaidade e desejo são inscritos, por efeito metafórico, no corpo do homem. Mais do que um corpo nu em estado de exposição/exibição, temos um corpo, inserido em um espaço cuja tendência é o pornográfico, sendo permeado por uma rede discursiva explícita ou implícita que o constitui e o remete a outros espaços discursivos e lugares.



Palavras-chave:  Corpo, Masculinidade, Análise do Discurso

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