60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 8. Antropologia

A DAMA DA VIOLA: CONSTRUINDO O FEMININO EM HELENA MEIRELLES.

Julian SIMÕES Cruz de Oliveira1

1. Universidade Estadual Paulista - UNESP - FFC - Marília


INTRODUÇÃO:
Ao longo do tempo os estudos antropológicos têm possibilitado uma melhor compreensão das construções histórico-culturais de uma dada sociedade. A partir desses, podemos perceber que homens e mulheres agem diferentemente não por causa de hormônios ou outras características biológicas, e sim em função de uma educação (formal e não formal) diferenciada, demarcando desde cedo papéis sociais distintos entre homens e mulheres, heterossexuais e homossexuais e entre crianças e adultos. Essas constatações aliadas à categoria analítica “gênero” dão sustentação às lutas contra a manutenção de preconceitos e de qualquer outra manifestação que afirme a assimetria entre humanos. Para tal estudarei Helena Meirelles (1924-2005), uma violeira nascida em MS que se tornou (inter)nacionalmente conhecida em 1993, quando a revista estadunidense Guitar Player a elegeu uma das melhores guitarristas de todos os tempos. Ao longo de sua vida transitou por diversos ambientes desde as “casas de família” à “bordéis”, desafiando costumes e crenças de sua época. Tendo em vista sua história de vida, a proposta é reconhecer, através de uma análise antropológica de gênero, quais os padrões culturais atuam sobre os indivíduos além de compreender como foi se construindo o feminino na figura dessa mulher.

METODOLOGIA:
Em um primeiro momento realizar-se-á uma revisão bibliográfica acerca das categorias analíticas norteadoras da pesquisa: cultura e gênero. Posteriormente usarei relatos orais e entrevistas, cedidas a revistas, jornais, rádios entre outros meios de comunicação, da própria Helena que possibilitarão identificar como a própria se via. Além desses materiais, a análise desenvolver-se-á através do documentário Dona Helena, dirigido por Dainara Toffoli produzido em 2004 e lançado no ano de 2007. Os estudos acerca do documentário têm como proposta contrapor as concepções de feminino do começo do século XX e do início do século XXI, evidenciando-se assim como essas são construções histórico-sociais diferentes e que tanto em um quanto em outro tempo, a feminilidade foi e é construída através de padrões culturais que determinam comportamentos, sentimentos e de uma maneira mais geral o caminho de nossas próprias vidas.

RESULTADOS:
Por cultura compreendo que essa seja uma teia de significados produzida pelos próprios humanos para dar significado à realidade que o cerca. Partindo dessa concepção compreendo que a categoria gênero é uma das ferramentas possíveis para uma interpretação de uma dada realidade cultural. Portanto, as ações sociais devem ser compreendidas nos contextos em que são produzidos, sendo somente dessa maneira que estudar cultura contribui ao combate a preconceitos, oferecendo bases firmes para o respeito nas relações humanas. Entendendo ainda que os membros de um sistema cultural partilham símbolos e significados que não são privados, e sim públicos, estuda-se assim um código de símbolos partilhados pelos membros dessa cultura. É a partir desse ponto que podemos buscar a compreensão de como as relações de gênero operam nos sistemas culturais, e mostrar como essas relações são construídas e não inerente ao humano. Gênero é uma categoria análise que surge dos movimentos sociais de mulheres, feministas, gays e lésbicas que reivindicavam direitos civis, igualdade e respeito. A partir disso, nota-se no documentário uma Helena que rompe com papéis sociais atribuídos às mulheres e ainda assume papéis atribuídos a homens, mostrando assim o caráter de construção histórico-cultural dessas ações.

CONCLUSÕES:
Até o presente momento pôde-se concluir que a cultura é uma construção histórico-social que não decorre de leis físicas ou biológicas, e sim de um processo coletivo da ação da vida humana. Esses processos variam de sociedade para sociedade, não assumindo um caráter universal e disseminando valores, concepções, condutas, enfim disseminando modos de vida. Os comportamentos humanos são determinados pela sociabilização que estes sofrem ao serem inseridos em uma determinada sociedade. Padrões como as identidades de gênero e atribuição de papéis também são frutos desse processo de sociabilização. Assumir que determinada parcela da população tem suas vidas determinadas pelo seu sexo biológico é garantir o surgimento e a manutenção de preconceitos que tendem a fortalecer uma hierarquia baseada na assimetria de direitos e falta de respeito para com outros(as). Helena Meirelles rompe com esse fio condutor da sociedade quando desnaturaliza a noção de maternidade e de moça de família e/ou assume papéis tidos como masculinos. Evidencia assim o caráter social das ações humanas e que essas devem ser baseadas no respeito, na diversidade e acima de tudo na simetria entre os seres que se tornaram humanos.

Instituição de fomento: PET - Programa de Educação Tutorial MEC SESu

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Helena Meirelles, Gênero, Cultura

E-mail para contato: julian_sociais@yahoo.com.br