60ª Reunião Anual da SBPC




C. Ciências Biológicas - 8. Genética - 3. Genética Humana e Médica

ESTUDO DA MUTAÇÃO IVS1+1G >A EM INDIVÍDUOS COM SURDEZ NEUROSSENSORIAL NÃO SINDRÔMICA

Sueli Matilde da Silva Costa1
Andréa Trevas Maciel-Guerra2
Fabiana Alexandrino1
Maurício Kurc3
Edi Lúcia Sartorato1

1. Laboratório de Genética Humana-CBMEG-UNICAMP
2. Departamento de Genética Médica - FCM - UNICAMP
3. Hospital Israelita Albert Einstein - São Paulo - SP


INTRODUÇÃO:
A surdez neurossensorial não-sindrômica hereditária é altamente heterogênia, contudo já se sabe que acima de 50% dos casos são causados por mutações no gene GJB2 que codifica a conexina 26 . A mutação pontual chamada 35delG no gene GJB2 , predomina e está presente em 80% casos de surdez pré-lingual não-sindrômica de herança autossômica recessiva sendo portanto, a primeira a ser investigada em pacientes com perda auditiva. Pacientes homozigotos para 35delG geralmente apresentam uma perda auditiva pré-lingual, não progressiva, prevalentemente severa a profunda. Contudo, uma grande fração (10 a 40%) de indivíduos com mutação no gene GJB2, apresentam apenas um alelo com a mutação, tornando o aconselhamento genético problemático. Em alguns desses casos, existem outras alterações associadas, uma delas consiste da perda de 309Kb de uma porção de DNA do gene da conexina 30 (GJB6), chamada del(GJB6-D13S1830). A outra alteração observada foi uma segunda deleção associada, del(GJB6-D13S1854) sustentando evidências de uma possível interação gênica. A maioria das mutações observadas no gene GJB2 está localizada na região codificante do gene, existindo poucos relatos de estudos de regiões não codificantes. No entanto, a mutação IVS1 + 1G para A, também chamada -3170 G para A, já foi observada em várias populações. Esta mutação consiste na troca da guanina do sítio de splice doador do intron 1 para uma adenina, isto altera o mecanismo de splice do gene. Este trabalho teve como objetivo o rastreamento da mutação IVS1+1G >A em indivíduos com surdez não-sindrômica, com padrão recessivo de herança, heterozigotos para mutações no loco DFNB1 e em indivíduos com ausência de mutações na região codificante do gene GJB2.

METODOLOGIA:
Foram rastreados quanto à presença da mutação IVS1+1G >A, 53 indivíduos com surdez neurossensorial não sindrômica autossômica recessiva, heterozigotos para mutações no lóco DFNB1, assim como 75 indivíduos surdos com ausência de mutações na região codificante do gene GJB2. A região onde está localizada a mutação IVS1+1G >A foi amplifica pela técnica de PCR e a alteração foi analisada por análise de restrição utilizando a enzima Hph I.

RESULTADOS:
Entre os 128 indivíduos estudados, a alteração IVS1+1G >A foi somente observada em 1 indivíduo heterozigoto para a mutação 35delG no gene GJB2. Essa paciente apresenta grau de perda auditiva profunda. Estudando os seus pais, observou-se que a mutação IVS1+1G >A foi herdada do pai. Apesar da paciente ter sido avaliada no Brasil, ela possui ascendência norte americana. Portanto, pelos resultados observados a mutação IVS1+1G >A é rara em nosso meio.

CONCLUSÕES:
O espectro de mutações observadas no gene GJB2 em indivíduos com surdez neurossensorial não sindrômica é muito amplo, não havendo ainda estudos de alguma mutação, excetuando-se a 35delG, mais freqüente na população brasileira. Apesar de parecer rara, a alteração IVS1+1G >A, ainda deve ser avaliada em todos os indivíduos com surdez neurossensorial não-sindrômica com etiologia não esclarecida. A paciente avaliada nesse estudo, fazia parte da casuística de indivíduos heterozigotos para mutações no lóco DFNB1, e portanto, apresentava ainda resultados inconclusivos em relação a etiologia da sua perda, uma vez que, a mutação 35delG é freqüente na população normal. A análise da alteração IVS1+1G >A permitiu o aconselhamento genético da família, com riscos de recorrência mais precisos.



Palavras-chave:  surdez, mutações, GJB2

E-mail para contato: scosta@unicamp.br