60ª Reunião Anual da SBPC




C. Ciências Biológicas - 8. Genética - 3. Genética Humana e Médica

INTERAÇÃO ENTRE TALASSEMIA BETA HETEROZIGOTA E HEMOGLOBINA B2 NO BRASIL

Bruna Montalvão Lima1
Luciana de Souza Ondei1
Isabeth Fonseca1
Paula Juliana Antoniazzo Zamaro2
Natália Cangnin1
Claudia Regina Bonini Domingos1

1. UNESP/ IBILCE/ Departamento de Biologia / LHGDH
2. Prime Lab - São Jose do Rio Preto, SP


INTRODUÇÃO:
A talassemia beta é decorrente de mutações no gene beta localizado no braço curto do cromossomo 11, que levam a uma redução da produção de cadeias beta durante a eritropoiese, desencadeando um desequilíbrio na produção de cadeias globinicas. Esta afecção tem origem em povos caucasóides e apresenta manifestações clínicas de discretas a graves, como anemia leve ou ausente com acentuada hipocromia e microcitose, quando em heterozigose. A variante de globina delta chamada Hb B2, resulta da substituição de uma glicina por uma arginina na posição 16 da cadeia delta. Esta variante, de origem africana, não apresenta manifestações clínicas e fenotípicas significativas e pode ser encontrada em combinação com a Hb S, Hb C, talassemia beta e em homozigose. Existem poucos relatos sobre a interação entre Hb B2 e talassemia beta. O objetivo desse trabalho foi descrever as alterações laboratoriais encontradas em um paciente do gênero masculino de 19 anos, descendente de negros e italianos, portador de beta talassemia beta menor e Hb B2.

METODOLOGIA:
A amostra de sangue periférico foi colhida com EDTA como anticoagulante, após consentimento informado, e foi submetida à eletroforese de Hb em pH 8,6, após hemólise com saponina. Para os valores quantitativos de Hb A2, Hb F e perfil da variante de hemoglobina, utilizou-se a cromatografia líquida de alta pressão (HPLC), pelo sistema automatizado VARIANT (Bio-RAD) com o uso do kit de diagnóstico “ β Thalassemia Short”. A confirmação das mutações foi realizada por biologia molecular, sendo utilizada, para talassemia beta, PCR alelo-específico e para a Hb B2, PCR-RFLP. Além disso, foi analisado o hemograma completo do paciente, obtido por equipamento automatizado (ABX).

RESULTADOS:
O paciente apresentou, em eletroforese alcalina, Hb A, e uma fração abaixo da Hb A2 sugestiva de uma variante de cadeia delta. Em seu perfil cromatográfico, o nível de Hb F foi de 0,4% e de A2 foi de 3,5%, valores considerados normais. Também foi identificada uma fração com concentração de 2,8%, com tempo de retenção de 4,56, compatível com a Hb B2. No hemograma, apresentou valor de glóbulos vermelhos de 6.030.000/mm3. , Hb de 11,8g/dL, hematócrito de 35,4%, VCM de 58,7; HCM de 19,5; CHCM de 33,3; HDW de 15,6. O perfil de ferro apresentou valores de ferro sérico 121 mg/dL, a capacidade total de ligação do ferro foi de 331 mg/dL, a capacidade latente de ligação do ferro foi de 180 mg/dL, a saturação de transferrina foi de 40,1%, ferritina com valor de 50 ng/mL e reticulócitos de 144.720/mm3. Apesar das características quantitativas e dos aspectos morfológicos dos glóbulos vermelhos serem sugestivos de talassemia beta heterozigota, as concentrações de HbA2 e Fetal não foram compatíveis com esse perfil clássico. Porém, a fração identificada no HPLC possui tempo de retenção e distribuição gráfica compatível com Hb B2 (variante de cadeia delta). Essa variante é a responsável pela diminuição da concentração de Hb A2 nesse paciente. Através da análise por biologia molecular foi detectada a mutação CD39 para a talassemia beta, uma beta zero talassemia, e confirmada a mutação referente à Hb B2.

CONCLUSÕES:
A partir da análise desse caso, os autores concluem que o diagnóstico de hemoglobinopatias é complexo e, apenas a análise do perfil eletroforético, pode ser ineficiente. Pois, na interação entre a talassemia beta e Hb B2, a fração relativa à Hb A2 apresenta-se diminuída em eletroforese alcalina e a banda referente à Hb B2 é discreta, podendo não ser notada. Nesse caso, a ausência de hemoglobinopatias seria diagnosticada equivocadamente. Esta interação ainda ressalta a grande miscigenação da população brasileira, ilustrada nesse paciente que apresenta, concomitantemente, alterações genéticas de origem africana e caucasiana.

Instituição de fomento: CNPq, CAPES

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Variantes de hemoglobinas, Hb B2, talassemia beta

E-mail para contato: brunamontalvao@yahoo.com.br