60ª Reunião Anual da SBPC




H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 1. Lingüística Aplicada

MECANISMOS DISCURSIVOS DE AUTORIDADE: A (DES)CONSTRUÇÃO DE ESCOLAS REGULARES POR ESCOLAS DE IDIOMAS

Marla Soares dos Santos1

1. Universidade Estadual de Campinas


INTRODUÇÃO:
Neste trabalho, temos como objetivo verificar certos conceitos acerca da relação de ensino/aprendizagem de Língua Inglesa (LI) como Língua Estrangeira (LE). Para tanto, iremos nos apoiar nos estudos produzidos no âmbito da Lingüística Aplicada e nas contribuições teóricas da Análise do Discurso de Linha Francesa (AD) e da Semântica Histórica da Enunciação (SHE), sobretudo de autores como Pêcheux, Orlandi e Guimarães, entre outros. Pretendemos ainda investigar certos aspectos discursivos constitutivos da identidade escolar brasileira a partir da influência das escolas particulares de idiomas (EI) e da relação destas com as escolas regulares (ER) de ensino fundamental e médio (tanto públicas quanto privadas).

METODOLOGIA:
Faremos o levantamento dos dados referentes à implantação e difusão das Escolas de Idiomas no Brasil, tendo como base de referência o município de Campinas. Para tanto, visitaremos três escolas de idiomas do município e, por meio de entrevistas com seus diretores e coordenadores, levantaremos os dados históricos necessários. As escolas serão determinadas por sua antigüidade, isto é, visitaremos a primeira escola implantada; uma escola dos anos 80 e outra dos anos 2000. Com isso, acreditamos poder encontrar mudanças discursivas que se apresentem ao longo do tempo e ofereçam informações sobre a formação do discurso de ensino de línguas no Brasil. A partir da formação do corpus, constituído pelo material acima descrito, poderemos estudá-lo de acordo com os procedimentos analíticos prescritos pela Análise do Discurso e verificar nossas hipóteses iniciais, confrontando os resultados obtidos.

RESULTADOS:
Transcrevemos apenas dois enunciados analisados por nós, extraídos do site de uma EI, por achar que eles contem aspectos relevantes para o estudo.A escolha por cursos em escolas livres é a única maneira de garantir um bom aprendizado da língua inglesa, uma vez que o ensino público não atende a esta necessidade. É por isso que o IP investe em infra-estrutura, como laboratórios de multimídia, aulas de SOS, bibliotecas e recursos audiovisuais (grifos nossos). Para não deixar qualquer dúvida, a EI afirma categoricamente (e em letras maiúsculas) a supremacia da LI na sociedade atual e o lugar ideal, se não o único possível, para o seu aprendizado. O trecho acima oferece informações interessantes. Vemos a EI fazer uma série de silenciamentos e, de maneira eficaz, produzir os efeitos de sentido e o êxito desejados. Para alcançar sua meta, o 1º passo é desvalorizar o ensino público em detrimento da tecnologia. Mas a supremacia da máquina silencia a figura do professor. A EI estabelece uma nova hierarquia e uma nova ordem de poder na sala de aula. Nessa ordem, temos: a Tecnologia (máquinas e instalações), Material Didático e, finalmente, o Professor (coadjuvante em meio ao aparato tecnológico).

CONCLUSÕES:
Nossas análises, apesar de preliminares apontam questões interessantes. A desvalorização das escolas regulares por parte das escolas de idiomas através, por exemplo, da super valorização dos recursos tecnológicos que estas possuiriam em detrimento da figura do professor “sozinho” nas escolas regulares. Pudemos, até o presente momento, identificar a existência de um determinado discurso veiculado por um segmento da educação brasileira em relação a outro. Por isso, julgamos necessária a realização de uma pesquisa e avaliação das causas e possíveis conseqüências dos efeitos de sentido de todas essas formulações para a realidade educacional do país, bem como a constituição da identidade dos profissionais da educação e dos alunos, frutos da tendência ideológica e discursiva vigentes. Vemos nesse trabalho uma possibilidade de investigação e de intervenção em práticas pedagógicas correntes no Brasil, e um instrumento de conscientização para profissionais da educação e também para os educandos. Pretendemos, com o fim do trabalho, obter instrumentos que instiguem esses dois grupos a uma participação consciente e ativa nos processos de ensino e aprendizagem

Instituição de fomento: CAPES



Palavras-chave:  ensino, língua estrangeira, análise do discurso

E-mail para contato: marlassantos@yahoo.com.br