60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 7. Educação - 14. Ensino Superior

A TRAJETÓRIA ACADÊMICA DE EX-BOLSISTAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UFMG

Mariana Gadoni Canaan1
Maria Alice Nogueira2

1. Graduanda em Ciências Sociais - UFMG
2. Prof.ª Dr.ª - DECAE/FaE - UFMG - Orientadora


INTRODUÇÃO:
Este trabalho está inserido em uma linha de pesquisa que se propõe estudar o fenômeno da longevidade e da excelência escolar. Buscamos entender o que pode contribuir para que alguns indivíduos cheguem até a pós-graduação e outros não. Para isso, selecionamos aqueles alunos que usufruíram – durante seus estudos de graduação - de uma bolsa de iniciação científica, uma das formas de reconhecimento institucional da competência científica e escolar do discente, e procuramos descrever a trajetória acadêmica desses alunos, e investigar se a experiência de ter sido bolsista de iniciação científica afetou esta trajetória e, em caso afirmativo, compreender de que maneira.

METODOLOGIA:
Desde 2005, a Diretoria de Avaliação Institucional da UFMG, vem desenvolvendo uma pesquisa de tipo survey - intitulada "Pesquisa de Acompanhamento dos Egressos da Graduação" - com os alunos graduados na UFMG. O acompanhamento dos egressos é feito através de um questionário aplicado, principalmente, via telefone. A amostra foi definida através de uma amostragem sistemática, e a população é a dos alunos que se formaram nos anos de 1980, 1985, 1990, 1995 e 2000. Essa pesquisa já produziu diversos bancos de dados: Medicina, Direito, Geografia, Biblioteconomia, Ciência da Computação, Ciências Sociais, Física e Ciências Biológicas. Para o presente trabalho, usaremos apenas os três últimos bancos, pois: (a) são cursos que apresentam características e funcionamento acadêmico distintos, pertencendo a três diferentes grandes áreas do conhecimento – Ciências Humanas, Ciências Exatas e Ciências Biológicas; (b) apesar de pertencerem a diferentes áreas do conhecimento, são cursos que priorizam os fundamentos teóricos, uma vez que o bacharel é necessariamente um pesquisador; (c) dentre os disponíveis, esses são os únicos cursos que atendem às duas exigências anteriores. No total, a amostra foi composta por 398 entrevistados: 170 de Ciências Biológicas, 148 de Ciências Sociais e 73 de Física.

RESULTADOS:
As variáveis usadas para traçar a trajetória acadêmica dos bolsistas de iniciação científica são: (a) a modalidade curricular; (b) o tempo gasto para conclusão da graduação; (c) se realizou pós-graduação; e em caso afirmativo, (d) o intervalo de tempo entre o fim da graduação e o início da pós-graduação. Para verificarmos o efeito de “ser bolsistas de iniciação científica” sobre a “realização da pós-graduação” foi feita uma regressão logística, e algumas outras variáveis foram usadas para controlar o modelo, tais como: escolaridade da mãe, ocupação do pai, duração da graduação, sexo, idade de ingresso, cidade de nascimento e o estabelecimento de ensino onde os egressos concluíram o ensino médio. Observamos algumas diferenças entre as trajetórias dos bolsistas de iniciação científica e as dos não-bolsistas. Apesar das particularidades de cada curso, geralmente, os bolsistas de iniciação científica possuem uma tendência maior a optar pelo bacharelado, a ingressar mais rapidamente na pós-graduação e a chegar, em maior número, à pós-graduação stricto sensu. Em contrapartida, os não-bolsistas optam preferencialmente pela licenciatura, chegam em menor número à pós-graduação e, quando o fazem, geralmente, levam mais tempo que os bolsistas.

CONCLUSÕES:
Observamos que os bolsistas de iniciação científica tendem a optar pelo bacharelado, uma das variáveis que afeta a entrada no mestrado, assim como a obtenção da própria bolsa. Ao inverso, os não-bolsistas optam mais que os bolsistas pela licenciatura e pela pós-graduação lato sensu (especialização). Esses dados nos possibilitam interpretar a entrada na pós-graduação stricto sensu de duas formas: (1) ter passado por uma experiência de IC favorece o conhecimento das regras do jogo universitário e fornece elementos (disposições, competências, aspirações) para o desenvolvimento de uma trajetória acadêmica marcada pela excelência e pela longevidade escolar; (2) o que condiciona o acesso ao mestrado é, mais simplesmente, o interesse pela pesquisa por parte daqueles que cursaram o bacharelado e realizaram atividades de iniciação científica. Mas essa segunda hipótese ignora toda a clássica teoria sociológica que demonstra a existência de lutas simbólicas no interior do campo da educação, e as lógicas da acumulação e da reprodução do capital cultural.

Instituição de fomento: Fundep

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Trajetória Escolar, Desigualdades Escolares, Destinos Acadêmicos

E-mail para contato: mari_canaan@yahoo.com.br