60ª Reunião Anual da SBPC




E. Ciências Agrárias - 1. Agronomia - 3. Fitossanidade

SELEÇÃO DE ISOLADOS CONTRASTANTES E DETERMINAÇÃO DA VALIDADE DE SUSPENSÕES DE EXTRATOS VEGETAIS INFECTADOS DE COWPEA APHID-BORNE MOSAIC VIRUS(CABMV), CAUSADOR DA VIROSE DO ENDURECIMENTO DOS FRUTOS EM MARACUJAZEIROS

José Romário.Fernandes de Melo1, 2
Cláudio.Benício Cardoso Silva2
Charles Neris Moreira3
Antonio Carlos de Oliveira4

1. Bolsista IC/FAPESB (Proc. 0852/2006)
2. Acadêmico do curso de Ciências Biológicas, Laboratório de Biologia Geral, UESB.
3. Mestrando do PPG-Biotecnologia Vegetal, UFLA
4. Professor Adjunto Doutor, Departamento de Ciências Naturais, UESB, Orientador


INTRODUÇÃO:
O maracujazeiro-amarelo (Passiflora edulis Sims f. flavicarpa Deg.) pertence ao gênero Passiflora, o maior da família Passifloraceae. Sua produção adquiriu importância econômica em torno dos anos 70. Atualmente esta cultura responde por cerca de 95% dos campos de produção da passicultura, sendo o Brasil o maior produtor mundial. A produtividade média de 10 t/ha no Brasil já é considerada baixa e vem sendo ameaçada por diversos fatores, especialmente as viroses. Dentre essas, destaca-se a do endurecimento dos frutos, causada, no Brasil, pelo cowpea aphid-borne mosaic virus (CABMV), ocasionando perdas significativas na produção. As diversas tentativas de controle da doença não apresentaram resultados efetivos no Brasil. Poucos estudos de seleção massal para maracujazeiro são relatados, sobretudo em relação à detecção de tolerância ao CABMV. Para tanto, são requeridas a identificação de isolados CABMV contrastantes quanto à infectividade, bem como estudos acerca do tempo de viabilidade de suspensões de extratos vegetais infectados, para efeito de inoculação artificial. Assim, no presente trabalho, objetivou-se selecionar isolados CABMV contrastantes quanto à infectividade e determinar o tempo de validade de suspensões de extratos vegetais infectados com CABMV.

METODOLOGIA:
Folhas de 10 diferentes plantas infectadas com CABMV foram coletadas no município de Livramento de Nossa Senha/BA, constituindo 10 isolados. Mudas de maracujazeiro-amarelo foram inoculadas com os isolados. A inoculação artificial ocorreu por fricção do dedo indicador umedecido com suspensão de extrato vegetal infectado, sobre folhas previamente polvilhadas com abrasivo (carborundum). O estudo da viabilidade de partículas de CABMV em suspensões líquidas de extratos vegetais ocorreu via delineamento de blocos casualizados em fatorial {duas suspensões virais [(tampão fosfato de potássio (diluição 1:20; 0,02M; pH 7,0) ou água destilada] e quatro épocas de inoculação [0, 3, 6 e 9 dias após o preparo da suspensão (DAPS)] x oito repetições/suspensão/DAPS (1 repetição = 1 muda)}. Para a identificação de graus de infectividade constrastantes dos 10 isolados CABMV realizou-se experimento sob delineamento inteiramente casualizado com 11 tratamentos [(inoculação de isolados ‘I1’ a ‘I10’ mais o controle) x dez repetições/isolado (1 repetição = 1 muda)]. Mensuraram-se incidência e severidade dos sintomas foliares, 30 dias após a inoculação. Esta última aferida pelos Índices (i) de Intensidade de Infecção ‘III’ (Czermainski, 1999) e de (ii) Doença Foliar Global [‘IDFG’ (Silva et al, 2005)].

RESULTADOS:
A manutenção da viabilidade das partículas virais nas suspensões, em relação ao controle (0 DAPS, 87%), foi observada somente para a inoculação aos 3 DAPS (69%) (p = 0,28; Teste Qui-Quadrado de Partição - TQP). Detectaram-se resultados médios estatisticamente não significativos de incidência e severidade foliares da virose obtidos a partir do emprego de extrato de folhas infectadas com o CABMV em tampão ou água destilada na inoculação artificial [(0,1 < p < 0,53 – Teste exato de Fisher); (p = 0,23; ANOVA), respectivamente]. Entre os 10 isolados CABMV, os resultados médios de incidência diferenciaram-se estatisticamente apenas quanto ao isolado ‘I1’ (40%) em relação aos demais (> 80%) (p< 0,003; TQP). Quanto a severidade, os isolados ‘I4’, ‘I9’ e ‘I10’ apresentaram diferença significativa a p < 0,05 (‘I4’ vs ‘I10’) e à p < 0,01 (‘I9’ vs ‘I10’); e semelhança estatística a p > 0,05 (‘I4’ vs ‘I9’), via teste t de Student. No entanto, apesar de não haver diferença estatística entre os isolados ‘I4’ e ‘I9’, os mesmos se diferenciaram matematicamente (‘IDFG’: ‘I4’ = 0,73 e ‘I9’ = 0,77). Os resultados obtidos permitiram sugerir a classificação de isolados como muito infectivo (‘I9’); medianamente infectivo (‘I4’) e pouco infectivo (‘I10’).

CONCLUSÕES:
O extrato vegetal preparado para inoculação conserva índices de infectividade que permitem re-inoculações, igualmente eficientes ao controle, por até três DAPS, mesmo que a viabilidade das partículas virais na suspensão sofra decréscimo à medida que aumenta-se o tempo de armazenamento como evidenciado no trabalho. Lotes de mudas inoculadas com partículas virais suspensas em tampão ou água destilada não diferenciaram entre si quanto a magnitude da incidência dos sintomas foliares da virose do endurecimento dos frutos. A severidade dos sintomas da doença também não foi influenciada pelo tipo de suspensão utilizada para inoculação, sendo igualmente eficientes as suspensões preparadas com tampão ou água destilada. Evidências experimentais geradas no presente trabalho demonstram ser possível identificar isolados de CABMV com infectividade contrastante, empregando avaliação de incidência e severidade dos sintomas foliares da virose. Isolados de CABMV que resultem níveis elevados de incidência e severidade, tais como ‘I9’ e ‘I4’, podem ser úteis para efeito de futuros screenings de detecção de gradiente de tolerância entre plantas de maracujazeiro-amarelo à inoculação artificial do agente causal da virose do endurecimento de frutos.

Instituição de fomento: FAPESB

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  infectividade, maracujazeiro, CABMV

E-mail para contato: romariomelo@gmail.com