60ª Reunião Anual da SBPC

INTRODUÇÃO:

Do final do século XX, por volta de 1970, até a nossa contemporaneidade tem-se uma outra perspectiva tanto sobre a produção de espetáculos e formulações de projetos organizacionais, quanto sobre a compreensão dos processos do Teatro de Grupo no Brasil. O Teatro de Grupo passa a ser utilizado não só como um movimento teatral de relevância histórica, mas como um conceito, o qual elucida formas de organização teatral. Deve-se escrever da importância do Teatro de Grupo no Brasil, pois através dele abrem-se perspectivas para a prática reflexiva sobre possíveis técnicas e produção de outros conceitos os quais enriquecerão os estudos teatrais contemporâneos. Este trabalho de pesquisa não tem a pretensão de “resgatar” a manifestação do Teatro de Grupo de um modo historicista simplesmente e sim, conhecer, estranhar, agenciar abordagens prático-teóricas operando por análises e reflexões. Entretanto, elevamos a importância da memória, da história para entendimento das metodologias, da percepção da recepção, da constituição de grupos e das hecceidades (DELEUZE E GUATTARI: 2002) dos atores do teatro brasileiro. Retomando, inclusive o conceito de tradição, por entender que elementos tradicionais do teatro podem constituir uma memória viva e latente na produção de outros-novos elementos, ou no mínimo, outras formas de operar a partir destes elementos.

METODOLOGIA:

A fim de pesquisar algumas subjetivações sobre Teatro de Grupo no Brasil; e analisar possibilidades e potencialidades de Processos Composicionais para a Cena do Teatro Contemporâneo Brasileiro, optou-se por investigar o Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas Teatrais da UNICAMP - Grupo LUME, de Campinas/ São Paulo. Foram levadas em consideração as relações entre as memórias, as trajetórias e as técnicas do grupo. Para compreender as ações do objeto de pesquisa: fizeram-se leituras de livros e artigos; realizou-se entrevistas com os atuais integrantes do grupo; observou-se o trabalho dos atores em alguns dos processos de montagens de espetáculos do seu repertório; observou-se ainda, cursos ministrados pelo grupo, nos quais foram propostos questionários sobre o perfil dos participantes e as relações que possuem com o LUME. Ademais, preocupamo-nos em conhecer e contextualizar historicamente o diálogo que se estabeleceu entre Eugênio Barba e Luís Otávio Burnier. Neste sentido, a partir de anotações, registros audiovisuais e fotografias, buscou-se no desenvolvimento da pesquisa desvelar o processo pelo qual este grupo se configura no campo do teatro, constituindo-se e materializando-se por intermédio dos atores-autores-pesquisadores do LUME.

RESULTADOS:

O Grupo de Teatro LUME, fundado por Luís Otávio Burnier em 1985, juntamente com a Universidade Estadual de Campinas, dedicou-se inicialmente a ampliar o seu campo de pesquisa na área da Antropologia Teatral, termo criado inicialmente por Eugênio Barba. Desde então, o grupo, assume também diferentes estudos interdisciplinares em Teatro investigando procedimentos técnicos, que por sua vez não são estratificados e estão em contínuo movimento de revisão. Destaca-se nas atividades deste grupo, não só, a compreensão da importância da sistematização do trabalho do ator e a valoração das suas características pessoais, bem como a constante participação nos questionamentos sobre a cena contemporânea. Trabalhando em territórios da cultura brasileira procuram levar em consideração as interferências regionais, ocidentais e orientais na nossa cultura. Além disso, a resistência e manutenção de uma sede como espaço do grupo há tanto tempo, faz com que ele se torne referência para intercâmbios e intervenções em redes de coletivos teatrais. Uma vez estabelecido o espaço do grupo há possibilidade de realizar treinamentos; desenvolver projetos através de pesquisas e reuniões periódicas; formar e capacitar outros profissionais da área; documentar e arquivar materiais relacionados às produções do próprio grupo e produções afins (isso diz respeito tanto ao registro de materiais “teóricos” como aos materiais cênicos); apresentar projetos e produções teatrais; aproximar-se da comunidade local etc.

CONCLUSÕES:

Como contribuição efetiva do grupo LUME pode-se observar: a experiência da autonomia em relação à matriz literária e a concepção de uma dramaturgia própria, que não necessariamente passa pela elaboração de um texto dramático “convencional”; apresentação de publicações e qualificações artísticas prático-teóricas em trabalhos acadêmicos, ou seja, valoração da profissionalização e pesquisa em Teatro. Lançar um breve olhar sobre o Lume é pontuar importantes contribuições metodológicas de investigação em processos criativos e resultados sobre práticas artísticas (o olhar sobre sua própria produção e interferências empíricas). O aprender a aprender é descobrir continuamente que nenhum lugar é completamente seguro, mas que nem todas as inseguranças nos impossibilitam de investigar e mantermo-nos curiosos. A percepção do Teatro de Grupo se alinha à anatomia de um corpo vivo, de um corpo-sem-órgãos (DELEUZE E GUATTARI: 2002) numa abertura para a aprendizagem e para os afetos das possíveis subjetivações da experiência. As práticas de grupo apontam para um processo de transformação nos modelos estéticos podendo traçar linhas-de-fuga (DELEUZE E GUATTARI: 2002) sobre métodos e procedimentos compreendendo que a heterogeneidade do grupo e elementos de tradição do teatro são aspectos essenciais para formação de técnicas. O que se sugere, nos processos desse grupo é trabalhar para “fazer-teatro” e não se contentar em somente “representar”, ou seja, estabelecer agenciamentos de enunciação e em devir...

Instituição de fomento: Programa de Pós-Graduação em Artes/ Instituto de Artes /Universidade de Brasília

Palavras-chave: Teatro, Interdisciplinaridade, LUME

E-mail para contato: natassiagarcia@yahoo.com.br