60ª Reunião Anual da SBPC




H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 5. Teoria e Análise Lingüística

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES ACERCA DOS CLÍTICOS NO PORTUGUÊS BRASILEIRO

Tatiane Macedo Costa1
Telma Moreira Vianna Magalhães1, 2

1. Departamento de Estudos Lingüísticos e Literários - UESB
2. Profª Drª / Orientador (a)


INTRODUÇÃO:
O presente trabalho é parte de um projeto maior intitulado Os pronomes sujeito e objeto na aquisição do Português Brasileiro (PB) e do Português Europeu (PE) e possui como pressuposto teórico o modelo de Princípios e Parâmetros, inserido na Teoria Gerativa (Chomsky, 1981 e seguintes). Considerando que a Gramática Tradicional prescreve três posições em que os clíticos podem ocupar dentro da oração, a saber: antes do verbo (próclise), no meio do verbo (mesóclise) e depois do verbo (ênclise), o alvo desta pesquisa é desenvolver um estudo acerca da colocação pronominal em Português Brasileiro em dados de fala, e, principalmente, em dados de escrita. Vale observar, no entanto, que a mesóclise não será analisada, visto que este é um tipo de colocação pronominal de difícil ocorrência, inclusive em dados de escrita. Quanto aos dados de fala, os dados evidenciam que a forma do conhecimento da criança brasileira antes da escolarização se caracteriza por uma pequena ocorrência de clíticos, conforme exposto por Magalhães e Costa (2007). Para a escrita, por sua vez, os dados parecem indicar que a escola possui uma capacidade de recuperar o uso dos clíticos, mas não a posição em que estes elementos devem aparecer na sentença, conforme predito pela Gramática Tradicional.

METODOLOGIA:
O corpus de fala deste estudo é composto por gravações de três crianças brasileiras, naturais de Vitória da Conquista (BA) e Campinas (SP), na faixa etária compreendida entre 1;8.0 a 3;5.0 anos. A coleta de dados foi feita com base no método naturalístico, longitudinal, ou seja, num ambiente natural à criança, sempre na presença de alguém da família, para que a mesma não se sentisse constrangida com a presença do investigador. Para este estudo, foram feitas gravações quinzenais das crianças com um gravador digtal de voz. Posteriormente, foi feita uma transcrição com recursos do sistema CHILDES (MacWhinney, 2000), que possibilitou, a partir de uma transcrição codificada, a análise computacional dos dados. Por fim, os dados são corrigidos minuciosamente para que se garanta a confiabilidade do corpus. No que concerne ao corpus de escrita, foram utilizados textos produzidos por alunos do Ensino Fundamental de instituições tanto da rede pública quanto da rede privada de ensino dos dois dialetos em questão. No que tange a diferentes instituições, a seleção de textos de instituições privadas e publicas tem o intuito de verificar se haveria alguma diferença entre as duas modalidades de ensino. Os textos para análise do dialeto de Campinas são aqueles disponíveis em Magalhães (2004; 2006).

RESULTADOS:
O uso das categorias pronominais é um tópico bastante discutido na literatura lingüística, visto que é através de seu uso que as variações lingüísticas se mostram mais claramente. Apesar dos pronomes aparecerem na fala da criança logo no início da aquisição, algumas categorias pronominais do PB só serão usadas após anos de escolarização, caso dos clíticos de terceira pessoa. Dessa forma, constitui-se extremamente importante diferenciar a aquisição e a aprendizagem de pronomes, visto que elas se dão em terrenos distintos. No caso dos clíticos, foco de análise deste trabalho, verifica-se que devido à diferença entre a gramática da fala e da escrita, constatada por Kato (2005), eles só apareceram na fala/ escrita das crianças mediante o processo de escolarização. No entanto, nos casos em que pronomes plenos são utilizados na fase de aquisição da linguagem, há predominância do uso de pronome tônico de primeira pessoa, pois estes, conforme apontam Cyrino (1994) e Magalhães (2006), são os clíticos que ainda permanecem na fala. Segundo Magalhães e Amorim (no prelo), quanto à escrita, os clíticos começam a aparecer com mais intensidade na medida em que a criança avança nas séries escolares, no entanto, nem sempre o seu uso corresponde aquilo que é pregado pela Gramática Tradicional.

CONCLUSÕES:
A partir desta pesquisa, percebeu-se que os clíticos tônicos de primeira pessoa em Português Brasileiro aparecem logo no início da aquisição da linguagem. Os outros tipos de clíticos, no entanto, só aparecem mediante o processo de escolarização, conforme demonstra o corpus analisado. O fato importante a ser observado é que por mais que a escola recupere o uso dos clíticos, a escola não recupera nem o tipo, nem a posição em que este deve aparecer na sentença. O clítico se, por exemplo, em construções tanto enclíticas quanto proclíticas não aparece na fala das crianças dos dados até agora analisados, visto que este tipo de construção é recuperada pela escola. No entanto, percebeu-se que a próclise tem sido utilizada mesmo quando o uso da ênclise é mais apropriado, o que nos leva a concluir que a escola recupera a categoria pronominal, ausente na fala, mas não recupera sua posição na sentença. Por fim, constatou-se que as nossas gramáticas, baseadas nos dados de fala dos falantes de séculos passados, falham na representação da fala atual, conforme pôde ser comprovado nas poucas pesquisas que comparam os dados de fala e escrita do Português Brasileiro.

Instituição de fomento: FAPESB/ CNPq/ UESB

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Clíticos, Gramática Tradicional, Português Brasileiro

E-mail para contato: tatiane_mc18@hotmail.com