60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação

A NOÇÃO DO OUTRO COMO PONTO DE PARTIDA PARA MELHOR COMPREENSÃO DA INTOLERÂNCIA - OBSERVANDO COMO OS IMIGRANTES COREANOS OLHAM A SOCIEDADE BRASILEIRA E VICE-VERSA

Eun Mi Yang1

1. Doutoranda da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo


INTRODUÇÃO:
Este trabalho, que compõe o eixo principal do meu projeto de doutorado que venho desenvolvendo sob a orientação da professora Roseli Fischmann desde o ano 2006, com o apoio do Governo da Coréia, é uma forma de contemplar a questão do outro como uma contrapartida do eu. Com isso, o trabalho visa entender a crise de identidade dos imigrantes e os problemas, como o preconceito e a discriminação para com as minorias em vários contextos, baseando-se na idéia de que tais problemas derivam do entendimento errôneo e limitado do outro. O foco do trabalho consite em como a imigração dos coreanos no Brasil tem influenciado o reconhecimento do outro, tanto pelos imigrantes como pelos demais membros da sociedade, e como as instituições educacionais da comunidade coreana têm contribuido nesse processo. A imigração internacional já é um encontro intenso entre as duas culturas. Acredito que o encontro do povo brasileiro com o coreano, ocorrido a partir dos anos 60, com a imigração é um dos mais desafiadores porque as duas trazem imagens bem distintas uma da outra – a primeira, ‘a diversidade’ e a segunda, ‘a homogeneidade’. Embora, com o tempo, tenha ocorrido certa assimilação à sociedade brasileira, a comunidade coreana ainda mantêm o seu estilo de vida, devido, principalmente, a curta história de sua instalação no Brasil. Por outro lado, por mais que ela pareça com a da Coréia, a verdade é que ela não é coreana contemporânea, e nem a típica brasileira.

METODOLOGIA:
Como referencial teórico-metodológico, foi adotada a teoria de G. H. Mead sobre o processo da construção de self que é composto do Eu(I) como sujeito de ação e do Me(me) como objeto de observação e julgamento dos outros. Tendo ela como a principal, foram citados outros autores como Cooley, Arendt, e Goffman para iluminar o fato de que os imigrantes possuem uma noção mais saudável do outro através da experiência mais intensa de reconhecer a si mesmos como eu e ao mesmo tempo outro. Tanto para a comparação das duas sociedades, como para o conhecimento básico da comunidade coreana no Brasil, foram utilizados os dados publicados nos respectivos países juntamente com o do Consulado Geral da Coréia do Sul em São Paulo. Com base nesse estudo, tenho realizado observações dos comportamentos e das linguagens, tanto dos imigrantes coreanos como dos demais brasileiros que têm convívio com estes, mostrando os valores relevantes a sua identidade, refletidos neles consciente e inconscientemente. O trabalho ainda requer a entrevista do grupo de coreanos e brasileiros que tem uma convivência siginificativa, especialmente nos bairros como Bom Retiro e Brás, onde há grande concentração dos comércios coreanos. Também, será realizado a entrevista de instituições educacionais e igrejas protestantes da comunidade coreana, que têm influênciado à formação da noção do outro dos imigrantes coreanos, e à integração deles à sociedade brasileira, levando-se em conta que as segundas têm exercido um papel inignorável não somente no lado puramente espiritual, mas também nos valores mais práticos como o educativo e o social.

RESULTADOS:
Enfrentando as diversas etnias, todas elas chamadas brasileiras, que são diversos ‘outros’ reais, os imigrantes coreanos foram desafiados a comunicar se com eles de verdade, o que está estretitamente ligada à formação de sua identidade. Há um fato interessante que a linguagem dos imigrantes coreanos mostra: muitos deles ainda chamam a Coréia de ‘nosso país’ e o Brasil de ‘Brasil’, e os demais brasileiros, não os imigrantes coreanos, de ‘estrangeiros’. Ao mesmo tempo, foi observado também que eles se consideram como ‘os outros’ ou estrangeiros, devido à internalização do olhar da sociedade brasileira para com eles. A diferença entre o falar e agir dos adolescentes e jovens, mais assimilados à cultura brasileira, também é significativo. Muitos deles afirmam “Eu sou 100 porcento brasileiro!”, contudo, quando a discussão se volta para os tópicos delicados, como o casamento, aparecem os pensamentos de sua identidade étnica, que é coreana. E em seus diálogos e comportamentos mais naturais, freqüentemente rastros de ‘coisas coreanas’, são vistas, independentemente de dizerem que não são influenciados pela Coréia. Nesta terra, os imigrantes coreanos não são um completo eu nem outro, consequêntemente, a posição deles tem sido algo ambíguo aos olhos, tanto de sí mesmos, como dos demais brasileiros.

CONCLUSÕES:
O que gostaria de destacar é que podemos nos aproximar do tema como uma rica fonte em que o conceito do outro se torna mais claro, deixando os membros da sociedade enfrentarem mais necessidades em lidar com ele. A compreensão melhor deste ponto pode-se contruibuir às duas crises: formar em si uma identidade individual mais saudável e eliminar – ao menos minimizar - o preconceito e a discriminação de um mundo que atualmente é extremamente diversificdo. A identidade de uma pessoa não pode ser saudávelmente construída sem o reconhecimento do outro. Arendt também enfatizou que todos os objetos são entendidos, não em sua existência objetiva, mas através da interação com a sociedade. E cabe a educação à responsabilidade de orientar as pessoas a se comunicarem com a sociedade a que pertencem, e assim ajudar a criar a capacidade de olhar racionalmente a si mesmo como objeto e de agir como sujeito da sua vida. A educação somente teria pleno sentido para a auto-reflexão crítica que torna possível a comunicação entre os homens.



Palavras-chave:  identidade, outro, imigração coreana

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