60ª Reunião Anual da SBPC




H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 4. Literaturas Modernas

ALGUNS DESAFIOS DA TRADUÇÃO INTERCULTURAL EM THE BLUEST EYE DE TONI MORRISON E THE COLOR PURPLE DE ALICE WALKER

Rafael Machado Guarischi1
Marcela Iochem Valente1

1. Universidade do Estado do Rio de Janeiro - Mestrado em Lit. de Língua Inglesa


INTRODUÇÃO:
Por muito tempo, a figura do tradutor foi posta para segundo plano por ser considerada uma atividade técnica e secundária, limitada a transpor para outra língua as palavras de um autor. No entanto, sabe-se hoje que o bom tradutor precisa ter mais do que bom conhecimento das suas línguas de trabalho, visto que ele é também um mediador cultural. O tradutor consciente da responsabilidade de seu trabalho necessita ser conhecedor das culturas alvo e fonte, uma vez que a tradução é um processo intercultural e não somente interlingual. Precisa ter cuidado com as armadilhas de tradução e, além disso, necessita ser sensível o suficiente para fazer as escolhas apropriadas para uma tradução clara, agradável, e natural, que não soe como “tradutês”. Desta forma, depois da conscientização e mudança de rumo no que se refere à tradução, a preocupação exclusiva com os aspectos linguísticos deu lugar de destaque aos problemas de ordem intercultural, exigindo mais cuidado e conhecimento por parte do tradutor. Com o intuito de mostrarmos a importância da Tradução Intercultural analisaremos trechos retirados das obras The Bluest Eye de Toni Morrison, e The Color Purple de Alice Walker, ambas escritoras Afro-Americanas e com obras que trazem muitos desafios a seus tradutores.

METODOLOGIA:
Com base em teorias formuladas por importantes autores dos Estudos Culturais, tais como Stuart Hall, Homi Bhabha e Susan Bassnett, analisamos alguns trechos das obras supra-citadas. O critério empregado para a seleção dos referidos trechos foi a presença de elementos culturais que trariam desafios no que se refere à tradução das obras que são objeto deste trabalho. Para que a análise dos trechos pudesse ser realizada, foram consideradas importantes noções teóricas como, por exemplo, as de sujeito pós-moderno e sua fragmentação, hibridização, identidades em trânsito e especificidades lingüísticas da comunidade em questão.

RESULTADOS:
As obras de escritoras Afro-Americanas, nosso foco neste trabalho, trazem muitos desafios para seus tradutores visto que através delas muitos autores expressam a realidade vivida pelo seu povo e, muitas vezes, utilizam linguagem peculiar de determinada comunidade, com marcas culturais específicas. Para a tradução de tais obras, é indispensável que o tradutor tenha consciência da grande importância da Tradução Intercultural e que conheça as culturas em questão, assim como a linguagem do dia-a-dia, expressões idiomáticas, gírias e peculiaridades do grupo alvo. Apresentamos a seguir dois trechos que exemplificam os problemas supracitados. “I asked our new mammy bout Shug Avery. What is it? I ast. She don’t know but she say she gon fine out.” (WALKER, 2003:6) “The onliest time I be happy seem like was when I was in the picture show. (MORRISON, 2000:123) Nos trechos escolhidos temos o uso do ebonics – popular Black English - o que trará um grande desafio ao tradutor. Qual seria o correspondente em português? Seria correto traduzir o ebonics como português utilizado por pessoas com menor grau de escolaridade no Brasil? E palavras como “ast” e “gon” como descobrir o que significam? E o desvio das regras do Standard English como por exemplo: “onliest”, “knowed”, “she don’t”?

CONCLUSÕES:
Depois dessas breves análises é possível perceber que a tradução intercultural é mais complexa do que imagina e exige muita dedicação e pesquisa por parte do tradutor. Ao tradutor não mais basta ser conhecedor de suas línguas de trabalho, o bom profissional de tradução é um constante pesquisador, e tenta se inserir ao máximo nas culturas alvo e fonte para que seu trabalho seja realizado com sucesso.



Palavras-chave:  literatura afro-americana, estudos culturais, tradução intercultural

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