60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 11. Psicologia Social

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SENTIMENTOS: O PAPEL DOS SENTIMENTOS NAS IMAGENS CONSTRUÍDAS SOBRE OS ÍNDIOS EM SERGIPE

Denise de Souza Silva1
Marcus Eugênio Oliveira Lima1, 2

1. Universidade Federal de Sergipe
2. Prof. Dr. Orientador


INTRODUÇÃO:
As avaliações cognitivas que os indivíduos fazem nos contextos sociais evocam experiências emocionais distintas. Estas emoções levariam a tendências de comportamentos específicos direcionados a um grupo social, embora outras forças também estejam atuando como a organização social e as imagens sociais pré-estabelecidas. Estas imagens são definidas, neste contexto, como estrutura avaliativa, cognitiva e emocional. Como aponta Mollica (2002) desde o século XVI à imagem formada sobre os índios passa por diversas mudanças, o que estaria intimamente relacionado com as emoções e atitudes direcionadas a este grupo em cada momento histórico. Atualmente só a tribo Xocó reside em Sergipe. Formada por cerca de 250 indivíduos moradores da Ilha de São Pedro, município de Porto da Folha, eles tem contato direto com as cidades vizinhas, despertando na população destas atitudes e sentimentos de estranheza e sendo vítimas de preconceito. A fim de estudar os sentimentos e o preconceito em relação aos índios, o Grupo de Pesquisa Normas Sociais Estereótipos e Preconceito elaborou um roteiro estruturado de entrevista que foi aplicado em cidades sergipanas, sendo que algumas delas possuíam contato com os índios da tribo Xocó.

METODOLOGIA:
Participaram deste estudo 378 moradores de 6 cidades, quatro do interior sergipano, a capital e a cidade alagoana vizinha a ilha onde reside a tribo Xocó, são elas: Estância, Itabaiana, Lagarto, Pão de Açúcar, Porto da Folha e Aracaju. Os participantes responderam a um roteiro de entrevista estruturada aplicado individualmente em suas casas. Este era composto de perguntas abertas e fechadas tratando de questões relacionadas às representações sociais dos índios e aos sentimentos associados a estes. Para analisar os sentimentos perguntamos aos sujeitos que sentimentos lhes despertavam situações como violência contra os índios, preconceito e o caso do índio Galdino. Os entrevistados eram, em sua maioria, mulheres (57,8%) e com idades variando de 16 a 83 anos (Média = 34,6 anos), com renda familiar mensal de menos de um salário mínimo (9,8%) até mais de 9 salários (12,0%), sendo a faixa de renda mais freqüente a compreendida entre 1 e 2 salários (43,5%). Dos 378 entrevistados 85 disseram ter parentes indígenas e 281 disseram não ter ou não saberem se tinham, sendo que 12 pessoas não responderam a esse questionamento. Para análise das respostas às perguntas fizemos análise de conteúdo seguindo Bardin (1977) e Bauer (2004). Os dados foram tabulados e analisados no SPSS.

RESULTADOS:
A maioria dos entrevistados acredita que os índios sofreram violência na história do Brasil (92,9%), neste caso 87 respostas não referem sentimento, mesmo que algumas delas expressem algum repúdio sobre este fato. Em relação à discriminação contra os índios no Brasil e ao assassinato do índio Galdino, 52 e 74 pessoas não referiram sentimento respectivamente. Além disso, para a maioria dos entrevistados (86%) os índios sofrem preconceito nos dias atuais. Os sentimentos para estas questões se direcionam mais a quem pratica o ato (sentimentos de pesar, repúdio e decepção) do que para os índios em si (sentimentos de apoio índio, categoria que abrange os sentimentos de solidariedade e afeto, e os sentimentos de pena). Além destes há os sentimentos que são atribuídos a quem praticou o ato, como falta de amor ao próximo, preconceito, frieza. Quando perguntados que sentimentos a violência e o preconceito contra os índios lhes despertavam, houve certa dificuldade dos participantes em nomear os sentimentos, pois aparecem muitas enunciações que não referem sentimento algum. Os sentimentos nomeados referem-se principalmente às lembranças que a violência e o preconceito evocam nos respondentes e estão relacionados principalmente a sentimentos de pesar e de repúdio/ indignação e decepção.

CONCLUSÕES:
As atitudes intergrupais são influenciadas tanto pelas imagens que o grupo de pertença possui em relação ao outgroup, quanto pelos sentimentos que essas imagens podem gerar como aponta Brewer & Alexander (2002). Os índios brasileiros têm uma imagem muito próxima a que estes autores chamam de “grupo dependente”, justificando assim a assimetria de poder e status entre os grupos e o domínio de um sobre outro, e neste caso também o afastamento dos indígenas. Assim, este estudo aponta para uma separação entre os índios e a sociedade brasileira também no que diz respeito aos sentimentos. O quadro de respostas se coloca dentro do socialmente aceitável, respeito à vida humana e repúdio as atitudes que contrariem esta norma. No entanto, há um afastamento prático do cotidiano da maior parte dos respondentes das entrevistas. Assim, as imagens e sentimentos possuem uma relação muito íntima no que se refere às relações intergrupais entre os índios e as cidades estudadas, pois os resultados sinalizam para a ausência de um lugar social dos índios na sociedade sergipana, nos diversos âmbitos desta, inclusive no que se refere aos sentimentos.

Instituição de fomento: PIBIC/UFS, CNPq

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  representações sociais, índios, sentimentos

E-mail para contato: den_ss@hotmail.com