60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 5. História - 2. História do Brasil

A FORMAÇÃO PARA O TRABALHO NO CAMPO DAS ARTES E OFÍCIOS NO BRASIL COLÔNIA: DO JESUITISMO À ACADEMIA IMPERIAL DE BELAS ARTES

Sônia Maria Fonseca1

1. Faculdade de Educação - Universidade Estadual de Campinas


INTRODUÇÃO:
Este projeto tem como tema de investigação a formação para o trabalho no campo das artes e ofícios no Brasil Colônia, abrangendo as relações entre educação e trabalho em um período - 1549-1820 - marcado por uma estrutura econômica e um sistema escravista que não se alteram substancialmente. O corte cronológico refere-se ao estabelecimento da Companhia de Jesus no Brasil e a vinda da Missão Francesa e, conseqüente, implantação da Academia Imperial de Belas Artes, que correspondem a um divisor de águas na História do Ensino-Aprendizagem das Artes e Ofícios no Brasil. A ação jesuítica tem destaque porque a Companhia de Jesus revelou-se, dentre as ordens religiosas do Brasil Colônia, a que dispõe de maior acervo documental referente ao nosso objeto de pesquisa. Se tomarmos a formação nas artes e ofícios no período colonial, fora dos domínios jesuíticos, verificamos que ocorria, via de regra, longe de vínculos regulares de uma escola, nas próprias oficinas de artistas e artífices, mais afeita ao espontaneísmo e intuição dos aprendizes. Como objetivos temos: analisar as práticas não-escolares do ensino de artes e ofícios, no âmbito das ordens religiosas, sobretudo a Companhia de Jesus, e nas associações de leigos; investigar os processos rigorosos de avaliação que artistas, artesãos e artífices eram submetidos a par de não terem acesso a um ensino regular; compreender os mecanismos sociais e políticos que não permitiram que as aulas régias, implantadas pela coroa portuguesa como parte das reformas pombalinas da educação, se tornassem uma alternativa para a formação no campo das artes e ofícios.

METODOLOGIA:
Os recursos teórico-metodológicos da História da Educação são os mesmos da História, uma vez que é a educação tomada aqui na perspectiva histórica. Não é necessário que se constituam recursos próprios no domínio da História da Educação. Há quem considere, ainda, a Educação um recorte temático no campo da História. O trabalho de pesquisa em História é, em grande medida, um trabalho historiográfico. O levantamento da produção bibliográfica acumulada sobre o objeto de pesquisa é o ponto de partida da investigação. O decurso desta pesquisa permitirá a construção de uma interpretação possível para o fenômeno histórico da formação no campo das artes e ofícios ou formação para o trabalho manual no período colonial (América Portuguesa), através da consulta e análise da bibliografia existente, de fontes arquivísticas - textuais (primárias e secundárias), iconográficas e vestígios arqueológicos. Quanto às fontes iconográficas tínhamos a priori conhecimento das obras escultóricas, quando fração importante deste acervo veio a público na ocasião da mostra Brasil + 500, em 2000, quando foram reunidos exemplares da imaginária produzida ao longo da História do Brasil. A imaginária produzida nos domínios jesuíticos encontra-se em museus e sítios arqueológicos do Rio Grande do Sul. O Museu Nacional de Belas Artes (MNBA) detém o acervo parcial de documentos textuais e o acervo iconográfico da antiga Academia Imperial de Belas Artes.

RESULTADOS:
Realizamos um levantamento de fontes no acervo do Museu nacional de Belas Artes e na Biblioteca Nacional, em fevereiro de 2006. O levantamento das fontes primárias existentes no Archivio Storico della Compagnia de Gesù (Archivum Romanum Societatis Iesu – ARSI) e na Biblioteca dell’ Istituto Storico foi realizado entre 17 de dezembro de 2006 e 26 de abril de 2007. Tivemos acesso à imaginária produzida nos domínios jesuíticos disponível em museus do Rio Grande do Sul, onde há também alguma documentação textual, em um levantamento de campo realizado em julho de 2007, nos seguintes museus e sítios arqueológicos: Museu Antropológico Diretor Pestana – Ijuí (arte missioneira); Sítio Arqueológico da Redução de São João Batista (Entre Ijuís); Igreja Matriz de São Luiz Gonzaga; Museu Municipal de Santo Antônio das Missões “Monsenhor Estanislau Wolskoi” - Santo Antônio das Missões (arte missioneira); Sítio Arqueológico da Redução de São Lourenço; Museu Municipal de Santo Ângelo; Museu das Missões (Centro de Memória Jesuítica e Guarani) – São Miguel das Missões (estatuária missioneira); Sítio Arqueológico da Redução de São Nicolau e igreja matriz da cidade de São Nicolau; Museu Municipal de São Borja – São Borja (acervo missioneiro); Museu Histórico e Cultural Vicente Pallotti – Santa Maria (estatuária missioneira); Museu do Colégio Mauá – Santa Cruz do Sul – (acervo da Redução de Jesus Maria – 1633); Museu de Arte Sacra – Rio Pardo; Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS) e Museu Júlio de Castilhos – Porto Alegre (arte missioneira).

CONCLUSÕES:
Na fase atual da pesquisa já enfrentamos um primeiro obstáculo na análise da temática pretendida ao constatarmos o uso de uma vasta gama de categorias circunscritas à questão da formação para o trabalho. Essas categorias não se constituem propriamente como históricas, de pensamento, mas sim operativas concernentes a instrumentalização de conceitos mais amplos. A categoria formação para o trabalho (CASTANHO, 2005) se impôs como alternativa em detrimento de outras categorias tais como: formação profissional (PRADO JR, 1965); educação profissional (CASTANHO, 2005, 2006); ensino de ofícios (CUNHA, 2000; SANTOS, 2000); ensino profissional, educação profissional, ensino de profissões, aprendizagem profissional, aprendizagem de ofícios (SANTOS, 2000); e aprendizagem compulsória (FONSECA, 1965, 1986; SANTOS, 2000). Quanto às categorias que definem os tipos de trabalhos manuais e as entidades reguladoras desses, apresentam variedade ainda que circunscritas a um mesmo período histórico, ora confluindo umas às outras, ora divergindo anacronicamente. São elas: oficiais mecânicos, artes e ofícios, artes mecânicas (PRADO JR., 1965; CASTANHO, 2005, 2006), artes e manufaturas (PRADO JR., 1965; CUNHA, 2000), corporações de ofícios (BAZIN, 1963; PRADO JR., 1965; BOSCHI, 1986;CUNHA, 2000; SANTOS, 2000; CASTANHO, 2005, 2006) e associações de leigos e ordens terceiras (BOSCHI, 1986); artista, artesão, artífice (MARTINS, 1974; CUNHA, 2000).

Instituição de fomento: “ O presente trabalho foi realizado com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq – Brasil”



Palavras-chave:  Formação para o Trabalho, Artes e Ofícios, Brasil Colônia

E-mail para contato: smfonseca@uol.com.br