60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 1. Geografia Humana

PEQUENAS CIDADES: ENSAIOS SOBRE O PERFIL SÓCIO-ESPACIAL E O COTIDIANO

Francisco Rafael de Morais Fernandes1
Ione Rodrigues Diniz Morais1, 2
Jucicléa Medeiros de Azevedo1
Leina Cristina de Medeiros1

1. Departamento de História e Geografia- UFRN
2. Profa. Dra.


INTRODUÇÃO:
Os estudos urbanos têm se expandido, tendo em vista a tendência à urbanização que se processa em escala mundial e o interesse de pesquisadores dispostos a entender e revelar os mistérios que envolvem a cidade. As pesquisas científicas sobre o urbano são direcionadas, principalmente, para as grandes e médias cidades. No entanto, no universo do urbano brasileiro predomina as pequenas cidades, que carecem de estudos e discussões. Nesta perspectiva, desenvolve-se uma investigação sobre “O perfil sócio-espacial das pequenas cidades do RN”, tendo como objetivo analisar aspectos relacionados à economia, à organização da sociedade civil, às manifestações culturais e cotidianas e à configuração urbana. Elegeu-se como recorte empírico inicial, pequenas cidades da Região do Seridó Potiguar, situadas em pleno semi-árido, circunscrevendo populações urbanas que totalizam entre 1.000 e 5.000 habitantes. A relevância da pesquisa constitui-se em elucidar, a partir do perfil sócio-espacial, as características e vivências dos habitantes da pequena cidade, o significado que assumem para os seus moradores e o papel que essas cidades exercem no sistema urbano regional. Desta forma, espera-se contribuir para a discussão sobre o urbano brasileiro tendo como referência a pequena cidade.

METODOLOGIA:
O trabalho foi realizado segundo um percurso metodológico que envolveu diferentes procedimentos e estratégias, considerando os objetivos delineados. Realizou-se leitura bibliográfica sobre o tema e leituras historiográficas com abordagens regionais, contemplando o Seridó; observação in loco das cidades para viabilizar a apreensão do ritmo de seu cotidiano e a sua configuração urbana; registro fotográfico da paisagem citadina, destacando as formas espaciais que são referências do lugar; entrevistas com pessoas memórias e representantes de instituições públicas e privadas, objetivando coletar informações sobre o planejamento e a gestão do espaço urbano, os setores econômicos, a organização social e a configuração citadina; aplicação de questionários, que contemplaram 1% da população urbana, buscando informações sobre a percepção que têm do lugar onde moram, as manifestações culturais locais, os pontos potencialmente turísticos, os deslocamentos intra e intermunicipais, as migrações extra-regionais, os fluxos comerciais, os problemas sócio-espaciais urbanos, o nível de instrução predominante, a qualidade da prestação de serviços e equipamentos; e, levantamento de dados secundários relacionados a aspectos da demografia, população economicamente ativa e economia municipal.

RESULTADOS:
A pesquisa contemplou as cidades de São João do Sabugi, Ipueira, São José do Seridó e São Fernando. Economicamente essas cidades têm no setor primário a principal fonte de renda; o secundário apresenta-se com pouca representatividade, pautando-se na industrialização de produtos agropecuários. A exceção é São José do Seridó que desenvolve a indústria têxtil. O terciário, por ser frágil e limitado, intensifica o fluxo da população para outras cidades. A sociedade apresenta um elevado nível de instrução e é organizada politicamente através de associações e conselhos comunitários, visando uma melhor qualidade de vida. O cotidiano é marcado pelo ritmo lento e pela sociabilidade entre seus habitantes. As manifestações culturais apresentam forte mobilização popular, principalmente em torno dos festejos de caráter religioso, quando se verifica o crescimento do turismo. A configuração urbana revela a carência de infra-estrutura e equipamentos, denotando a ausência do plano diretor. Desta forma, o planejamento é ineficaz e a gestão ocorre em função das circunstâncias e não de um plano de trabalho, previamente elaborado. Não obstante, essas cidades são percebidas pelos moradores como um ambiente que oferece boa qualidade de vida e não apresenta significativas disparidades sociais.

CONCLUSÕES:
Mediante os resultados da pesquisa, conclui-se que as pequenas cidades apresentam um perfil econômico voltado para o setor primário, elevado nível de instrução e expressiva capacidade organizacional. O cotidiano revela certa lentidão no ritmo em que se processam as práticas sociais, nos ambientes do trabalho, do estudo e das sociabilidades. As manifestações culturais, principalmente as festas de padroeiro, reavivam os sentimentos de pertença, se instituem como momentos de reencontro e retorno ao lugar, estimulando o fluxo de pessoas, a produção da renda e a circulação de capital. A configuração urbana apresenta objetos estruturais básicos à vida na cidade, porém carece de complementos em termos de serviços e equipamentos que repercutem sobre a qualidade de vida como educação, saúde e sistema financeiro. A ausência de um plano diretor, que defina o uso e a ocupação do solo urbano, representa uma lacuna para a sociedade local, que busca suprir suas necessidades deslocando-se para outras cidades. Todavia, embora reconhecendo as deficiências, os moradores das cidades pesquisadas, dizem gostar das vivências na pequena cidade e não percebem o ritmo lento do cotidiano como sinônimo de atraso, mas como um diferencial qualitativo que se revela positivamente nos indicadores sociais.

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  cidade, urbano, perfil sócio-espacial

E-mail para contato: rafa_sabugi@yahoo.com.br