60ª Reunião Anual da SBPC

INTRODUÇÃO:

A região do Macuricanã é uma área de várzea que faz parte da Área de Proteção Ambiental – APA de Nhamundá, onde se desenvolve o primeiro Acordo de Pesca do Município de Parintins-AM, que orienta o manejo dos recursos naturais aquáticos. Durante a formação do Acordo de Pesca foram mapeados 94 lagos, sendo que 45 de manutenção, voltados à subsistência das famílias; 22 de procriação, destinados à reprodução das espécies, onde a pesca fica proibida por tempo indeterminado; e 27 são comerciais, destinados à pesca comercial. A pesquisa foi realizada no lago de Araçatuba, que é um lago de comercialização. Como é uma área de várzea, a vegetação é caracterizada por apresentar árvores capazes de tolerar inundações durante seis meses, sem morrer. Devido esse ciclo, que envolvem secas e cheias de lagos e rios, a região possui um solo bastante fértil, em função dos sedimentos trazidos e depositados pela inundação. A região representa fonte de estudos para diversos aspectos de interações ecológicas, das florestas inundáveis, da vida animal, terrestre e aquática, além de outros aspectos das ciências. Como forma contribuir para caracterização da região, este trabalho visa identificar algumas espécies botânicas na área do lago de Araçatuba e analisar a importância das plantas para alimentação de espécies pesqueiras, bem como verificar possíveis fatores que possam contribuir ao desequilibro ambiental da região.

METODOLOGIA:

Foi realizada visita no lago do Araçatuba, na região do Macuricanã - APA Nhamundá no mês de outubro de 2007, período de seca na região, para observação das características ambientais e coletar espécies vegetais existentes em tornos do lago. O critério de escolha das espécies foi aleatório, levando em consideração as espécies que são utilizadas como fonte de alimento para diferentes espécies de peixes, indicadas por um pescador da região que foi o guia durante a visita. Na coleta teve-se o cuidado de selecionar amostras com as estruturas de caule, folhas e órgãos reprodutores, necessários ao processo de identificação. Foram coletadas doze espécies. As amostras foram numeradas e catalogadas de acordo com seu nome vulgar e armazenadas em pranchas botânicas para preparação das exsicatas. Foram observadas as características da área de coleta, época do ano, solo e das condições da vegetação. Todas as exsicatas foram desidratadas em temperatura de até 60ºC e encaminhadas ao Herbário do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia - INPA para identificação taxonômica. Após identificação taxonômica realizou-se o estudo das principais características e importância ambiental de todas as espécies.

RESULTADOS:

A paisagem do lago de Araçatuba era de extensas ilhas de praias e lama, característico de várzea, com solo encharcado e vegetação formada por arbustos e árvores de grande porte. Devido o período ser de seca não foi possível observar abundância de plantas aquáticas. De acordo com Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia – INPA as espécies coletadas foram: Vitex cymosa- Tarumã da família Verbenaceae; Mouriri guianensis - Roncador da família das Melastomataceae; Cordia cf Alliadora - Uruá da família das Boragináceas; Sorocea duckei - Caimbé da família Moraceae; Craraeva benthamii - Catauari da família das Capparaceae, sua sementes produzem óleo com propriedades medicinais e antiofídicas; Psidium acutangulum - Goiaba Araçá e Eugênia inundata - Arati pertencentem a família Myrtaceae; Nectandra cf Hihuar - Louro da família das Lauraceae; Gustavia elliptica - Ripeiro da família Lecythidaceae, possui atividade antiinflamatória contra úlceras tópicas; Coccoloba gentryi da família Polygonaceae, Quiina florida da família Quiinaceae e Laetia corymbulosa da família Flacourtiaceae. Segundo pescadores da região e posteriormente confirmado pelos estudos bibliográficos, frutos, sementes das espécies vegetais identificadas, servem de alimentos para aves, quelônios e principalmente de peixes típicos de várzea como o Dourado, Aracu, Pacu e o Tambaqui, que por sua vez agem como dispersores de sementes e exercem importância fundamental para que permaneça o equilíbrio dos ambientes de várzeas.

CONCLUSÕES:

A vegetação de áreas inundadas apresenta grande uniformidade, isso deve ser resultado da dispersão por diferentes espécies de peixes, o que indica que esses animais possuem importância fundamental como dispersores e para o equilíbrio desses ambientes. As espécies identificadas neste trabalho, pertencem a diferentes famílias, o que representa diversidade de espécies na região do lado de Araçatuba. Existem muitas espécies vegetais de áreas de várzeas que também são encontradas em áreas de terra firme, embora a diversidade de espécies seja menor na várzea, que provavelmente tenha como fator limitante as alagações anuais. Na região do Macuricanã, é possível verificar algumas perturbações provocadas pela interferência humana como a atividade agrícola, pecuária e a pesca predatória, apesar disso, de acordo com relatos de moradores a implantação do Acordo de Pesca tem contribuído para diminuir a ação predatória, não só em relação aos recursos pesqueiros, mas também para uma mudança de postura e entendimentos sobre a conservação dos recursos naturais. Este trabalho buscou caracterizar as espécies vegetais como fonte de alimentação para peixes, que se realizou em apenas um dos lagos dos muitos existentes no Macuricanã, podendo ser ampliado para uma caracterização mais ampla das espécies, suas relações tróficas com peixes da região e a importância na dispersão de frutos e sementes em ambientes de várzeas.

Palavras-chave: PLANTAS, VÁRZEA, MACURICANÃ

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