60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 8. Psicologia do Trabalho e Organizacional

A VIGILÂNCIA EM SAÚDE DO TRABALHADOR NA MACRO-REGIÃO DOS VALES-RS: UMA ANÁLISE NA PERSPECTIVA DA ATIVIDADE

Geli Cardoso Eidelwein1
Letiere Zingler1
Katia Maria Teixeira Santorum1
Maria Luiza Wunderlich dos Santos Macedo2

1. UNISC
2. 13ª Coordenadoria Regional de Saúde-RS


INTRODUÇÃO:
Essa pesquisa constitui-se a partir de envolvimento com o processo locorregional de implementação de políticas públicas em saúde do trabalhador, no âmbito do Sistema Único de Saúde. Através de dispositivos que viabilizaram pensar de forma coletiva o trabalho para incidir sobre ele, realizamos uma aproximação às ações de Vigilância em Saúde do Trabalhador (VST) do ponto de vista da atividade dos profissionais envolvidos neste processo em um centro de referência. Lançamos mão de contribuições oriundas da Psicologia do Trabalho francesa, particularmente da Clínica da Atividade, da Ergonomia da atividade e da Ergologia. O percurso trilhado durante quinze meses de encontros com esses profissionais, a caminho de uma prática de VST, deslocou-se em várias direções: das primeiras experiências na vigilância ao Trabalho Infantil trazidas pela equipe como sua iniciativa mais sistematizada, passou-se por reflexões sobre organização/processo de trabalho, modo de gestão compartilhada, a conflituada relação com a gestão político-administrativa municipal, chegando à mobilização da equipe para investimentos na atividade de vigilância, significada pelo grupo como atividade impedida. Reflexões produzidas revelam flexibilidade e disposição para aprofundamento da análise protagonizada por este grupo.

METODOLOGIA:
A autoconfrontação cruzada, proposta por Yves Clot, é um dos métodos da Clínica da Atividade que consiste em elucidar para um outro (pesquisador, formador, especialista do mesmo domínio), e para si mesmo, as questões que surgem no desenvolvimento das atividades apresentadas, com a ajuda do vídeo. Nesta pesquisa-intervenção optou-se por delinear um dispositivo de análise da atividade constituído por reuniões sistemáticas com o grupo para diálogos e reflexões coletivas sobre a atividade de VST, durante o ano de 2007, sob a perspectiva ergológica, nos moldes dos “encontros do trabalho”, inicialmente gravados e posteriormente filmados. A dinâmica dos encontros privilegiou questões trazidas pelos profissionais, sendo que a intervenção das pesquisadoras esteve voltada a manter o enquadre dialógico e ajustar o ‘foco’ dos debates em torno da problemática delimitada no projeto, a atividade de VST, nas ocasiões em que isso se fez necessário. Tal aproximação permitiu a introdução paulatina da autoconfrontação cruzada, e a análise do material produzido sob a perspectiva dialógica, em que os sujeitos implicados na situação ocupam também o lugar de análise e na qual podem estar incluídos os aspectos subjetivos que fazem parte de seu encontro particular com sua atividade de trabalho.

RESULTADOS:
Consideram-se importantes aproximações ao ponto de vista da atividade. Dentre elas, diferentes sentidos atribuídos pelos trabalhadores ao seu trabalho, sua relação com o conhecimento, concepções de VST, estratégias cogitadas para a efetivação das ações de vigilância, preocupações e impasses que vêm fazendo parte do cotidiano de trabalho desta equipe. Corroborando achados de Santorum (2006), é possível que estejamos diante de dois fortes traços do gênero profissional de VST – conceito da Clínica da Atividade que diz respeito a um corpo social e simbólico que se interpõe entre as pessoas e entre elas e o objeto de trabalho. Um deles evidencia a situação de fragilidade institucional, sobre a qual os atores operam na atividade de VST, o outro apresenta o paradoxo através do qual a prevenção e a promoção da saúde que se faz no âmbito das relações de produção parecem colocar-se em um rol de operações ilegais, ilícitas. Produziram-se elaborações coletivas, que evidenciam que esta atividade, neste Serviço, se apresenta com características de uma atividade impedida. No processo de co-análise produziram-se novas reflexões sobre a atividade, provocando movimentos no sentido de fazer acontecer ações de VST e contribuindo para ampliar o poder de ação deste coletivo de trabalhadores.

CONCLUSÕES:
Chegamos ao final do primeiro ano de pesquisa, em que estabelecemos um contato sistemático com o campo, contando com um saldo que consideramos como extremamente positivo. Neste sentido, observamos a importância que tem o fato dos pesquisadores terem clareza do papel de facilitar e sustentar a confrontação dos sujeitos com os não ditos, não pensados da ação por serem considerados implícitos, e até mesmo óbvios, pelos sujeitos. Os diálogos, suscitados pelo dispositivo de análise, vão, no nosso entendimento, demonstrando que o enquadre metodológico proposto parece estar funcionando bem, enquanto facilitador da circulação e do enfrentamento da controvérsia profissional. É neste enfrentamento, que, segundo a Clínica da Atividade (Clot, 1999), uma atividade pode se desenvolver, em todos os sentidos do termo. De todo modo, pensamos ter logrado, através desta postura, uma correspondência entre as demandas elaboradas pelos trabalhadores desta equipe no processo de pesquisa e um dos propósitos da mesma, ou seja, o de contribuir para ampliar o poder de ação deste coletivo de trabalhadores. Consideramos assim que vimos construindo um caminho adequado na produção coletiva de conhecimentos que tem possibilitado uma aproximação significativa à atividade de VST neste Centro de Referência.

Instituição de fomento: CNPq; UNISC

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Vigilância em Saúde do Trabalhador, Atividade, Autoconfrontação cruzada

E-mail para contato: geli_ed@yahoo.com.br