60ª Reunião Anual da SBPC




E. Ciências Agrárias - 1. Agronomia - 2. Economia e Sociologia Agrícola

AGRICULTURA SUSTENTÁVEL E ACAMPAMENTO RURAL: LIMITAÇÕES E ALTERNATIVAS

Taína Rizzato Menegasso1
Ana Paula Leivar Brancaleoni2

1. Mestranda em Educação/Universidade Federal de Santa Catarina
2. Profa. Dra. Departamento de Economia Rural/ FCAV - Unesp - Jaboticabal


INTRODUÇÃO:
A questão ambiental, quando vista pela ótica das relações de mercado, tem como seu traço mais marcante a idéia de domínio do homem sobre a natureza e destes entre si. Contudo este modelo apresenta claros sinais de esgotamento, expressos nas sérias crises ambientais da sociedade contemporânea. A sustentabilidade é uma das principais vertentes da Educação Ambiental na medida em que aborda o equilíbrio entre a sociedade e o ambiente, sendo uma audaciosa proposta que requer uma amplitude de aspectos para sua formulação. A organização sustentável, defendida pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, vai ao encontro desta proposta. Neste trabalho, buscou-se identificar práticas e valores ambientalmente sustentáveis no que se refere à agricultura e à superação das dificuldades encontradas na organização do dia a dia em um acampamento de Sem Terra.

METODOLOGIA:
O estudo foi realizado em um acampamento, organizado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), localizado em um latifúndio de 1700 hectares, na cidade de Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil. Além de improdutiva, a área estava sofrendo degradação ambiental por parte dos proprietários como desmatamento da vegetação nativa e queimadas devido a cultura de cana-de-açúcar, sendo estas as principais razões pela sua desapropriação. A área é ocupada por 458 famílias. Optou-se por uma abordagem qualitativa de cunho etnográfico. A coleta de dados teve como instrumentos a observação participante e entrevistas com cinco moradores do acampamento. A observação participante, com início em julho de 2006 e término em outubro do mesmo ano. Foram realizadas visitas com freqüência semanal, incluindo períodos prolongados de imersão no campo, sendo produzido um diário de campo. Os dados foram analisados através do método de análise de conteúdos.

RESULTADOS:
Constatou-se que, mesmo frente à limitação de recursos materiais e técnicos, os acampados buscavam desenvolver práticas sustentáveis, pautadas em valores defendidos pelo próprio MST. A escassez de água e ausência de energia elétrica constituem as principais dificuldades encontradas no que se refere à infra-estrutura para produção e bem estar dentro do acampamento. Para produzirem, os acampados necessitam retirar a cana-de-açúcar presente na área e descompactar o solo manualmente, pois não possuem maquinários agrícolas o que seria preciso já que a cultura danificou o solo. Trabalhos de reflorestamento nas áreas degradadas são constantes bem como áreas destinadas à preservação permanente. A prefeitura é responsável pelo abastecimento de água quinzenalmente, sendo armazenada em galões pelos acampados. É escassa e priorizada para alimentação. A produção é realizada com adubo orgânico e água da chuva, pois o acampamento não possui irrigação, o que obriga os acampados a buscarem outras alternativas no período de estiagem, como doações de alimentos e cestas básicas. Além disso, há apenas um poço artesiano, já que os acampados preocupam-se com a preservação do Aqüífero Guarani, presente na área. Assim busca-se a sustentabilidade ao conservar solo, água e não uso de insumos tóxicos.

CONCLUSÕES:
Mais do que ferramenta para a formação do sujeito Sem Terra, enquanto militante, o desenvolvimento de valores e práticas da sustentabilidade, no acampamento, transformam o próprio dia-a-dia em espaço educativo e de criações. Mesmo frente às limitações de acesso às tecnologias avançadas e da construção coletiva de tecnologias sociais. Assim, resultado destas práticas são observados nas transformações da paisagem, antes marcada apenas pela monocultura, agora pela diversidade de culturas e por áreas, antes degradadas, em processo de recuperação e reflorestamento.



Palavras-chave:  Agricultura sustentável, Acampamento rural

E-mail para contato: tmenegasso@gmail.com