60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 5. Psicologia da Saúde

ESPIRITUALIDADE, DEPRESSÃO E QUALIDADE DE VIDA DURANTE O ENFRENTAMENTO DO CÂNCER: UMA PESQUISA EXPLORATÓRIA

Sirlene Lopes de Miranda1
Maria dos Anjos Lara e Lanna1
Wanderlei Chieppe Felipe2

1. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - Unidade Arcos
2. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - Unidade Coração Eucarístico


INTRODUÇÃO:
Este trabalho descreve uma pesquisa exploratória, que tem como objetivo investigar inter-relações quantitativas e qualitativas entre bem-estar espiritual, depressão e qualidade de vida durante o enfrentamento do câncer por pacientes da Sociedade Vencer (Casa de Apoio aos Pacientes com Câncer de Arcos/MG e região). O enfoque em pacientes com neoplasias se deve ao fato de que estes enfrentam maiores conflitos emocionais e espirituais, relativos ao medo da morte. A relevância desse trabalho se deve à pouca bibliografia encontrada sobre o assunto e às recentes pesquisas realizadas sobre a espiritualidade e a qualidade de vida, que abrem espaço para a discussão dessa temática. O desenvolvimento deste trabalho também se justifica pela oportunidade de propiciar dados que ampliem as atividades psicossociais realizadas pelas Casas de Apoio aos Pacientes com Câncer, ao compreender e explorar as inter-relações entre espiritualidade, depressão e qualidade de vida durante o processo de adoecimento do paciente oncológico.

METODOLOGIA:
Participaram desse estudo 15 pacientes diagnosticados com câncer, independentemente do tipo de neoplasia e da fase de adoecimento, residentes em Arcos, que tinham conhecimento do diagnóstico e que eram assistidos, no mínimo, há seis meses pela Sociedade Vencer. Estes pacientes foram sorteados e participaram da pesquisa mediante o consentimento livre e esclarecido e interesse em participar da pesquisa. Foram agendados cerca de cinco encontros com os mesmos para aplicação dos seguintes instrumentos: escala analógica de avaliação do bem-estar espiritual - SWBS - desenvolvido por Paloutzian e Ellison (1982); Inventário Beck para depressão - BDI - em sua versão em português, adaptada por Gorestein e Andrade (1998); Escala de Qualidade de Vida da Organização Mundial de Saúde (1998) - WHOQOL-bref - e uma entrevista semi-estruturada. Para a análise dos dados, utilizou-se a análise correlacional estatística para verificar as correlações entre as variáveis: espiritualidade, depressão e qualidade de vida; e também a análise de categorias das entrevistas semi-estruturadas com o objetivo de estabelecer relações qualitativas entre essas variáveis.

RESULTADOS:
O bem-estar existencial dos pacientes apresentou-se como moderado (satisfatório) em 93,3% da população, e apenas um paciente manifestou bem-estar existencial baixo, aparentemente associado à manifestação de idéias críticas sobre si mesmo, sua existência e suas crenças. Quanto às variáveis de espiritualidade e religiosidade, 100% da população revelou um nível moderado de bem-estar. No que diz respeito ao nível de depressão, 46,7% da população revelou depressão mínima; 26,7% da população apresentou uma depressão leve; 20% relataram depressão moderada, o que indica necessidade de apoio psicológico, e apenas uma paciente manifestou depressão grave, com urgência de atendimento médico e psicoterapêutico. Já a qualidade geral de vida da população estudada foi intermediária (variando entre média e boa). As correlações positivas mais relevantes nesse estudo, até o presente momento, foram entre bem-estar espiritual, religioso e existencial X qualidade de vida (Q.V.); bem-estar espiritual, religioso e existencial X depressão; e depressão X qualidade de vida. Quanto às correlações negativas, destacaram-se: bem-estar espiritual e religioso X domínio físico (variável da Q.V.); e bem-estar religioso X relações sociais (variável da Q.V.).

CONCLUSÕES:
Até o presente momento, os resultados apontaram para a constatação de que os pacientes mais acometidos pela doença se voltam mais para si mesmos, se isolam mais frequentemente, se apóiam mais na espiritualidade e cultivam suas crenças de modo mais independente da avaliação de seu meio sócio-afetivo. Combinadas com informações qualitativas, as correlações entre as variáveis estudadas apontam para uma busca significativa do paciente oncológico por uma vivência espiritual e uma melhora em sua qualidade de vida, bem como para o fato de que quanto maior a depressão do paciente maior o seu apego à espiritualidade. Nesse sentido, espera-se que este trabalho possa constituir um avanço relativamente aos estudos já realizados no Brasil sobre essa temática, bem como propiciar dados que contribuam para as possibilidades de melhora da qualidade de vida dos pacientes com neoplasias.



Palavras-chave:  Espiritualidade, Depressão, Qualidade de vida

E-mail para contato: sirlene.miranda@hotmail.com