60ª Reunião Anual da SBPC




F. Ciências Sociais Aplicadas - 3. Economia - 28. Economia

OCUPAÇÃO, ESCOLARIDADE E RENDIMENTOS DO TRABALHO FEMININO EM REGIÕES METROPOLITANAS

Camila Santos Matos de Freitas Ribeiro1
Eugenia Troncoso Leone1

1. Instituto de Economia - Universidade Estadual de Campinas


INTRODUÇÃO:
O objetivo do projeto foi, por meio da construção de um perfil das mulheres ocupadas, analisar e comparar regionalmente a diversidade de rendimentos femininos segundo tipos de ocupação, levando em consideração o nível de instrução das ocupadas; também observou diferenças entre os ocupados de ambos os sexos em termos de rendimentos e escolaridade. A dimensão (tipo de ocupação) permitiu a análise da enorme disparidade de rendimentos conforme as diferentes formas de inserção das ocupadas na sociedade, já que o tipo de ocupação (trabalho manual, administrativos, técnico e de nível superior, serviços pessoais, entre outros) pode ser usado como proxy de estrato social e, portanto, da situação da mulher no mercado de trabalho. Para tanto, observou-se se a ampliação da escolaridade entre as mulheres resultou em elevação dos rendimentos auferidos no trabalho, considerando o contexto geral de inserção da mulher num mercado de trabalho precarizado e em uma economia em curso de estagnação. Este estudo fornece subsídios preciosos para a compreensão da desigualdade de gênero no mercado de trabalho, um locus privilegiado de ocorrência dela.

METODOLOGIA:
A fonte de dados utilizada foi a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) para o ano de 2006. O estudo considerou o conjunto das regiões metropolitanas do Nordeste (Fortaleza, Recife e Salvador), do Sudeste (Rio de Janeiro e Belo Horizonte) e Sul (Curitiba e Porto Alegre) e confronta os resultados obtidos para essas regiões com os da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP).

RESULTADOS:
Os resultados da pesquisa apontam que as mulheres são responsáveis pelas maiores taxas de desemprego em todas as macrorregiões, o que reflete a geração de postos de trabalho em velocidade inferior ao crescimento da PEA pelo ingresso das mulheres. O trabalho da mulher é, de modo geral, pouco formalizado (o que confirma a entrada da mulher no mercado em condições precárias) e bastante vulnerável, concentrando-se as mulheres ocupadas nos serviços, nos serviços administrativos, no comércio e nas ciências e artes. Elas são mais escolarizadas do que os homens, mas costumam ganhar menos do que eles em ocupações equivalentes. A análise das mulheres altamente escolarizadas aponta que elas estão predominantemente nas ciências e artes e nos serviços administrativos; parcela pequena delas chega à direção. Estas categorias apresentam as maiores disparidades de rendimentos entre sexos, e registram presença maciça de mulheres nos segmentos menos prestigiados.

CONCLUSÕES:
O estudo concluiu, primeiramente, que elevação da escolaridade constitui fator incremental da renda auferida pelo trabalhador na ocupação principal; no entanto, ela é apenas um diferencial no momento da busca pelo emprego, não uma garantia de obtenção dele. Por outro lado, observou-se que maior inserção da mulher no mercado de trabalho é acompanhada da elevação das taxas de desemprego femininas, especialmente entre as mulheres jovens: ao não conseguir absorver todo o contingente de trabalhadores, o mercado de trabalho expulsa primeiro as mulheres. As ocupadas estão segregadas em ocupações ditas ‘feminizadas’, nas quais a proporção de mulheres é expressiva, mas os rendimentos são inferiores aos de muitas outras ocupações em razão da desvalorização (menor prestígio) dessas ocupações no mercado de trabalho; profissões como serviços, ciências e artes e serviços administrativos têm maioria feminina. A distribuição ocupacional dessas mulheres é muito polarizada, de modo que ou elas ganham muito mal ou ganham melhor, mas sempre menos do que os homens. A principal conclusão do estudo, porém, aponta que escolaridade superior das mulheres não se traduz em rendimentos, e elas têm dificuldade para alcançar as profissões mais valorizadas e prestigiadas; assim, percebe-se uma desigualdade de gênero de mão dupla, tanto no que tange ao acesso (que decorre também do enrijecimento da estrutura social à mudança desse tipo de valores) quanto ao que concerne à remuneração em si. A questão do gênero, portanto, afirma e reforça as determinações que convergem para a inserção subalterna e precária das mulheres no mercado de trabalho (ainda considerando a dupla jornada que elas se vêem compelidas a cumprir).

Instituição de fomento: CNPq/PIBIC

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Mercado de trabalho, Gênero, Rendimentos

E-mail para contato: camila.freitas.ribeiro@gmail.com