60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 7. Educação - 7. Educação Infantil

EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: O OLHAR DO ESTAGIÁRIO SOBRE OS LUGARES DE APRENDIZAGEM ATRAVÉS DO MÉTODO AUTOFOTOGRÁFICO

Rodrigo Flores Sartori1
Vera Lucia Pereira Brauner1

1. Pontifícia Universidade Católica do Rio grande do Sul


INTRODUÇÃO:
O presente trabalho foi realizado na disciplina de Estágio em Educação Infantil, do curso de Educação Física da PUCRS, onde foi feito um registro fotográfico nos espaços de práticas dos estagiários, com o objetivo de identificar as representações dos estudantes sobre os lugares de aprendizagens no contexto da educação infantil, considerando que eles carregam sentidos e significados que são representativos de um sistema complexo. Um dos elementos importantes na análise do contexto de formação de professores se refere aos papéis e esses para Bronfenbrenner (1996), devem ser entendidos como “uma série de atividades e relações esperadas de uma pessoa que ocupa uma determinada posição na sociedade e dos outros em relação àquela pessoa” (p.85). Os diferentes papéis desempenhados por professores e alunos num mesmo ambiente podem influenciar os tipos de atividades realizadas e os relacionamentos em que as pessoas estão envolvidas em função da percepção que cada pessoa tem de seu contexto. Os elementos aqui apresentados (papéis, atividades e relações interpessoais) contribuem para a compreensão de determinado contexto social a partir das representações sobre os diferentes lugares de aprendizagem na formação profissional.

METODOLOGIA:
Segundo Borowsky e Koller (2005) novas formas de apreensão das informações, permitem que o pesquisador vá além do conteúdo escrito, passando a tomar também a imagem como fonte de dados. Os autores colocam que o método autofotográfico parte do princípio que uma imagem produzida, pode ser uma fonte rica de informações. No segundo semestre de 2007, propusemos aos 15 estagiários que estavam atuando em escolas de educação infantil que, utilizando uma câmera fotográfica, registrassem diferentes lugares do seu contexto de prática de ensino. Foi solicitado aos estudantes que fotografassem os espaços que consideravam significativos. As fotos foram feitas, apresentadas aos colegas e a nós, supervisores, que fomos registrando em forma de notas, os comentários sobre cada foto. Após, a apresentação das fotos e registro dos comentários, passamos a analisar as informações levantadas.

RESULTADOS:
Dentre as fotografias apresentadas, selecionamos a foto de um rolo de espuma numa sala, onde as crianças devem ficar sentadas. Percebemos que há, por parte do estagiário, uma valorização daquele lugar. Talvez, o lugar da ordem, o lugar da disciplina, o lugar de um corpo educado. Quem sabe, o lugar onde podem estar iniciando os processos de docilização discutidos por Foucault (1987). Vários estudantes fotografaram também os pátios das escolas, como o lugar da liberdade, da autonomia, da alegria, da resolução de problemas. Os estagiários percebem no pátio um lugar de amplas possibilidades de movimentação e desenvolvimento corporal. Parece-nos interessante compreender como operam as representações dos estagiários sobre os diferentes lugares que foram selecionados em seus registros. Se por um lado há fotografias que identificam lugares de “liberdade” como sendo importantes para o desenvolvimento das crianças considerando a faixa etária da educação infantil, por outro lado, de forma paradoxal, os estudantes também entendem que a escola deve representar o lugar onde o corpo necessita ser controlado como forma de disciplinamento, organização, regulação de atitudes, que podem contribuir para os ajustes necessários ao processo de socialização das crianças.

CONCLUSÕES:
Pensar os lugares de aprendizagem através do método autofotográfico pode ser uma proposta muito rica para desvelar os papéis que vão nos constituindo como professores nos diferentes lugares do espaço da escola. Dar aula de educação física dentro da sala de aula propõe certos dispositivos de controle sobre o comportamento do professor, sobre as atividades ministradas e relações que se estabelecem com as crianças. A organização do espaço da sala de aula carrega em si elementos que são reguladores de ações (im)possíveis de serem realizadas. A presença do professor estabelece um tipo de relação e autoriza, ou não, certas ações das crianças. O papel do professor no pátio tem outras representações e a não intervenção diretiva do professor nestes momentos vai operar, sobre a liberdade, o estímulo à autonomia, a resolução de problemas e isto é percebido pelos estagiários como aspectos positivos e construtivos no processo de formação da criança, mas que não faz parte de uma proposta pedagógica de educação pelo movimento. Consideramos assim, que a investigação realizada através do método autofotográfico pode significar um importante recurso didático para pensar as experiências dos estagiários e suas representações sobre a constituição dos diferentes lugares de ensinar e aprender.



Palavras-chave:  educação física, educação infantil, método auto-fotográfico

E-mail para contato: verabrauner@yahoo.com.br