60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 7. Psicologia do Ensino e da Aprendizagem

APROPRIAÇÃO DE PRÁTICAS SOCIAIS RELATIVAS À SEXUALIDADE POR JOVENS ADULTOS COM DIAGNÓSTICO DE DEFICIÊNCIA INTELECTUAL

Aida Souza Morales1
Cecília Guarnieri Batista1, 2

1. Faculdade de Ciências Médicas - Saúde da Criança e do Adolescente - Unicamp
2. Profa. Dra. Orientadora


INTRODUÇÃO:
Em uma perspectiva sócio-cultural, a apropriação de práticas sociais está relacionada ao acesso ao conhecimento e ao outro, aos diferentes modos de participação nas práticas sociais e às diversas possibilidades de produção de sentido. De acordo com a literatura da área, as pessoas com diagnóstico de deficiência intelectual pouco participam da vida em sociedade e são percebidas, em sua sexualidade, como eternas crianças, ou como portadoras de uma sexualidade exacerbada. Diante deste quadro, o presente estudo procura descrever os indícios de apropriação de práticas sociais e de formação de conceitos relativos à sexualidade, em aulas de orientação sexual para jovens adultos com diagnóstico de deficiência intelectual, que freqüentam instituição de educação especial. Também procura apontar os aspectos do contexto que parecem favorecer ou dificultar essas apropriações.

METODOLOGIA:
Participaram da pesquisa dois grupos de adolescentes e jovens adultos com idades entre dezessete e trinta e três anos, matriculados no Ensino Fundamental (modalidade jovens e adultos) de uma Instituição de Educação Especial. Além do diagnóstico de deficiência intelectual, de acordo com o prontuário da instituição, os jovens adultos tinham outros quadros associados, tais como paralisia cerebral, surdez, baixa visão, hidrocefalia e/ou dificuldades de linguagem. Participaram do presente estudo nove alunos de cada turma. Foram videogravadas, transcritas e analisadas cinco aulas em cada turma, com os seguintes temas: turma A - Corpo humano, Beijo, Namoro, Coito, Camisinha/DST; e turma B – Hábitos de higiene, Apelidos dos genitais, Beijo, Masturbação e Coito. Foi adotada a análise microgenética, como uma forma de construção dos dados orientada para os detalhes das ações, por meio do recorte de episódios interativos. Foram selecionados oito episódios de cada turma, extraídos das diferentes aulas mencionadas, que permitiram evidenciar: apropriação e compreensão de conceitos, dificuldades parciais de compreensão, explicitação de valores e atitudes relativas às práticas sociais, embaraço e inibição em relação ao tema.

RESULTADOS:
A análise das transcrições indicou que todos os alunos se mostraram atentos, executaram as tarefas propostas e responderam em conjunto às perguntas da pesquisadora e da professora. Além disso, alguns dos alunos participaram ativamente, estabelecendo diálogos com a professora e a pesquisadora responsáveis pelas aulas. Os alunos não formaram um grupo homogêneo em relação à apropriação de conceitos sobre sexualidade, com diferentes alunos apresentando diferentes níveis de compreensão. Podem ter contribuído para essa compreensão o planejamento das aulas embasado nas experiências pessoais dos alunos, bem como os recursos pedagógicos utilizados. Constatou-se que os alunos, mesmo tendo poucas experiências de participação em grupos sociais além da escola, se apropriaram de práticas sociais relativas à sexualidade, construídas histórica e coletivamente. Alguns dos indicadores disso foram certos sinais de embaraço e certos valores expressados, semelhantes aos veiculados em nossa sociedade. Entretanto, observou-se, também, uma não coincidência com esses valores, por parte de diferentes membros dos grupos de que eles participavam.

CONCLUSÕES:
Os diferentes níveis de compreensão sobre sexualidade e de explicitação de valores, normas e práticas sociais de pessoas com deficiência intelectual apresentadas por este estudo contrastaram com a concepção corrente que os caracteriza por suas incapacidades. Ao contrário, esses jovens adultos demonstraram interesse e curiosidade pelo tema, capacidade de compreensão de várias das noções apresentadas e uma sintonia com práticas sociais relativas à sexualidade, ora mostrando consonância, ora explicitando contradições. Considerou-se que o presente estudo trouxe contribuições ao estudo das competências de jovens adultos com deficiência intelectual em relação à apropriação de práticas sociais relativas à sexualidade. Dessa forma, este estudo oferece subsídios para torná-los, cada vez mais, sujeitos de direitos.



Palavras-chave:  prática social, deficiência mental, sexualidade

E-mail para contato: aidasm06@fcm.unicamp.br