G. Ciências Humanas - 7. Educação - 6. Educação Especial
PSICANÁLISE E EDUCAÇÃO: OS CAMINHOS DA INCLUSÃO A GENTE TRAÇA
Cristiane Lazzeri1
1. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação - UFSM
INTRODUÇÃO:Com o objetivo de desvendar as questões que compõem a trama da infância, de um aluno incluído no ensino regular, esse estudo de caso buscou compreender melhor a maneira como as suas dificuldades se fundaram. Durante a infância, principalmente, o ser humano está em constante aprendizado e essas experiências terão um papel fundamental no seu desenvolvimento.
A intervenção fundamentou-se nos recursos da ludicidade. As precariedades manifestas no brincar do aluno, a fala ecolálica e os movimentos estereotipados incitam a suspeita de uma falha na estruturação subjetiva do menino. Estas características são encontradas em crianças com hipótese diagnóstica de “psicose infantil não-decidida”.
METODOLOGIA:O estudo de caso foi desenvolvido na sala de recursos de uma escola de ensino fundamental do município de Santa Maria/RS. O sujeito da pesquisa foi um aluno incluído no segundo ano do ensino fundamental que apresentava a queixa escolar de dificuldades na aprendizagem.
Foram realizados quatro encontros semanais com o aluno na sala de recursos da escola, onde eram efetuadas atividades pedagógicas e brincadeiras, pelo período de um ano letivo.
Através dos recursos da ludicidade, foi possível direcioná-lo para as questões da sua estruturação subjetiva. Pois é assim que a criança internaliza o mundo a sua volta e faz as associações necessárias para a compreensão do que é real e do que é fantasia; para poder fazer uso da função simbólica.
Pelo acesso ao campo simbólico que o aluno começou a descobrir a escrita. Sem significação simbólica, os símbolos da escrita caem em um vazio de significado, por isso, a importância do brincar na estruturação subjetiva.
Conjuntamente aos atendimentos foram realizadas entrevistas com a família do aluno no intuito de conhecer a história familiar e pesquisar sobre a infância do menino. Muitas vezes, é preciso conhecer a história da família para se entender a própria criança. A partir das informações coletadas na pesquisa desenvolveu-se um estudo teórico.
RESULTADOS:Ao final deste estudo de caso chegou-se a conclusão de que o aluno possui uma suposição diagnóstica de psicose não-decidida. Mas afinal o que isto quer dizer?
Utiliza-se essa terminologia, psicose não-decida, tendo em vista o fato de que na infância a estrutura psíquica é não-decidida, ou seja, ainda pode ser modificada, mesmo que não completamente, mas diferente do que seria se fosse imutável.
Por isso, torna-se necessário empregar algumas adaptações curriculares que aproximem o aluno do convívio social e das atividades em sala de aula, no sentido de viabilizar a permanência deste aluno na escola e em sala de aula.
O posicionamento do professor perante o aluno também é de extrema importância para a aprendizagem deste. A criança aprende porque existe um laço que liga o aluno ao professor. Durante os encontros as suas produções foram nomeadas dando um significado ao seu trabalho. A cada novo encontro o aluno indagava: “vamo faze um trabalhinho lindo?”, isto é um reflexo do seu posicionamento ante esta significação, ou seja, quem faz o trabalhinho lindo?
No momento em que o aluno passa a significar aquilo que produz, dá o primeiro passo para estabelecer a aprendizagem. Com isso, volta aos olhos da escola e da professora, a ter possibilidades de aprender.
CONCLUSÕES:A suspeita de psicose infantil surgiu durante o atendimento realizado com o aluno na escola. Diante desta dúvida o caso foi levado para supervisão e a hipótese diagnóstica inicial confirmada.
Por isso, é relevante mencionar a importância de um trabalho psicanalítico na direção da cura, visto que o aluno não tem problemas na aprendizagem, são os efeitos da precária estrutura subjetiva que aparecem na aprendizagem.
O aluno deu um grande passo para a sua reestruturação subjetiva, porém ainda existem muitas dificuldades, pois ele encontra-se fragilizado psiquicamente e cativo aos impasses vividos na tenra idade.
O mais importante, neste momento, é o desenrolar da sua estruturação subjetiva e o restabelecimento do laço social. Pode-se perceber, portanto, que a escola oferece, além de um lugar para aprender, um lugar social para esses alunos.
Esse diagnóstico serve apenas para direcionar o trabalho que terá que ser desenvolvido com o aluno. De modo algum o sujeito deve ser aprisionado a um diagnóstico seja ele qual for. No processo de educação inclusiva todos os alunos possuem suas particularidades e especificidades que devem ser consideradas.
Palavras-chave: Inclusão, Ludicidade, Psicose não-decidida
E-mail para contato: crislazzeri@hotmail.com
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