60ª Reunião Anual da SBPC




C. Ciências Biológicas - 8. Genética - 2. Genética de Microorganismos

CLONAGEM E ANÁLISE DE EXPRESSÃO DE GENES PERTENCENTES À FAMÍLIA PR-1 EXPRESSOS PELO FUNGO MONILIOPHTHORA PERNICIOSA, CAUSADOR DA VASSOURA DE BRUXA DO CACAUEIRO.

Paulo José Pereira Lima Teixeira1
Sulamita de Freitas Franco1
Jorge Maurício Costa Mondego3
Gonçalo Amarante Guimarães Pereira2

1. Departamento de Genética e Evolução, Instituto de Biologia, Unicamp
2. Prof. Dr. - Departamento de Genética e Evolução, Instituto de Biologia, Unicamp
3. Dr. - Departamento de Genética e Evolução, Instituto de Biologia, Unicamp


INTRODUÇÃO:
O fungo basidiomiceto Moniliophthora perniciosa é o agente etiológico da vassoura de bruxa, principal doença que ataca o cacaueiro. Este fungo possui ciclo de vida hemibiotrófico, ou seja, apresenta um estágio biotrófico em que infecta os tecidos vivos, e um estágio saprotrófico em que infecta os tecidos mortos. O seu aparecimento no sul da Bahia, em 1989, foi responsável por um grande abalo socioeconômico neste estado, causando prejuízos para o Brasil e, apesar da intensa busca por soluções para o problema, ainda não há medidas eficazes de combate à doença. A inspeção do genoma de M. perniciosa levou à identificação de quatro genes que codificam proteínas pertencentes à família PR-1 (Pathogenesis Related Protein-1), denominados MpPR-1a a MpPR-1d. Inicialmente identificados em plantas, genes PR-1 são considerados parte dos mecanismos de defesa contra fitopatógenos, incluindo fungos e oomicetos. Uma vez que testes com microorganismos para controle biológico de M. perniciosa não apresentam resultados satisfatórios pode-se especular um possível papel de genes MpPR-1 na inibição de microorganismos competidores. Este trabalho visa à análise da expressão de genes pertencentes à família PR-1 encontrados em M. perniciosa e clonagem dos mesmos para superexpressão e ensaios de atividade protéica.

METODOLOGIA:
A análise de expressão do gene MpPR-1a durante a fase saprotrófica do fungo foi realizada por meio da técnica Northern Blot. Os experimentos consistiram em verificar a influência da adição ao meio de cultura de diferentes fontes de carbono (glicose, glicerol ou extrato de cacau), nitrogênio (BSA) ou substâncias relacionadas à sinalização e ativação de mecanismos de defesa de plantas (ácido salicílico e peróxido de hidrogênio) na expressão de MpPR-1a. Além disso, experimentos de Real Time PCR estão sendo realizados para verificar o padrão de expressão dos quatro genes MpPR-1 em diferentes fases do ciclo de vida de M. perniciosa. Para isso, foram extraídos RNAs do fungo nos seguintes estágios de desenvolvimento: primórdio de basidiocarpos, basidiocarpos, micélios das fases biotrófica e saprotrófica, micélios de fungos saprotróficos novo e senescente. Em paralelo, a região codante dos genes MpPR-1a e MpPR-1b foram clonadas nos vetores de superexpressão protéica pPROEX, pGEX4T1 e Pet28a, que foram então utilizados para transformação de cepas de Escherichia coli BL21.

RESULTADOS:
Através dos experimentos de Northern Blot observou-se que apenas a utilização de extrato de cacau como fonte de carbono induziu de maneira significativa a expressão do gene MpPR-1a. A substituição da fonte de nitrogênio (NaNO3 0,06%) pela proteína BSA (1%) resultou em leve indução gênica. Uma vez que a única fonte de nitrogênio neste experimento foi uma proteína, se esperaria uma indução na expressão de proteases para obtenção de nitrogênio. Isso pode indicar que MpPR1-a possa ter função proteolítica, como descrito para outras PR-1. A adição de peróxido de hidrogênio em uma concentração de 5mM resultou em indução da expressão de MpPR-1a. Além disso, a adição de ácido salicílico em concentrações de 1mM e 2mM também induziu de maneira significativa a expressão deste gene. Estes resultados demonstram que os mesmos compostos envolvidos na indução de genes PR-1 de plantas também induzem a expressão do gene MpPR-1a, sugerindo regulação similar e talvez funções em comum.

CONCLUSÕES:
Levando-se em conta que genes PR-1 de plantas possuem a função de inibir fungos e oomicetos, o fato de M. perniciosa, um fitopatógeno, apresentar estes genes em seu genoma é bastante curioso. Uma vez que oomicetos do gênero Phytophthora constituem um dos grupos que mais causam prejuízos nas culturas de cacaueiro, a existência de genes PR-1 em M. perniciosa poderia ser útil para minimizar possíveis competições com estes oomicetos durante a infecção. O fato do gene MpPR-1a ter expressão induzida por ácido salicílico e peróxido de hidrogênio é bastante interessante pois estes compostos são indispensáveis para ativação dos mecanismos de defesa de plantas e são indutores da expressão dos genes PR-1 vegetais. Os ensaios de atividade com as proteínas MpPR-1 purificadas poderão comprovar a possível função das MpPR-1 na inibição de outros microorganismos e auxiliar a desenvolver novas estratégias para o controle da doença. Além disso, as análises de expressão dos quatro genes MpPR-1 nas diferentes fases do ciclo de vida do fungo poderão fornecer dados interessante a respeito de um possível papel destes genes no desenvolvimento e patogenicidade do fungo.

Instituição de fomento: Fapesp e CNPq

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Moniliophtora perniciosa, interação planta-fungo, genes PR-1

E-mail para contato: paulo@lge.ibi.unicamp.br