60ª Reunião Anual da SBPC




F. Ciências Sociais Aplicadas - 2. Gestão e Administração - 8. Economias Agrária e dos Recursos Naturais

DIFICULDADES PARA A AUTOGESTÃO DE UMA HORTA NO CONTEXTO DA ECONOMIA SOLIDÁRIA.

Gabriela dos Santos Zamian1
Letícia Quessada Macca1
Daniela Zanin1
Mariana Takeishi1
Ana Claudia Giannini Borges1, 2
Ana Paula Leivar Brancaleoni1, 2

1. FCAV - UNESP Jaboticabal/Departamento de Economia Rural
2. Prof.ª Dr.ª


INTRODUÇÃO:
Nas décadas de 80 e 90, o Estado brasileiro passa por uma reforma orientada pelos preceitos neoliberais do Consenso de Washington, caracterizado pela abertura do mercado, flexibilização dos contratos de trabalho e, principalmente, pela desresponsabilização deste no que se refere ao atendimento das demandas sociais. Paralelamente, observam-se transformações na esfera da produção que culminam em um acirramento do desemprego estrutural e da exclusão social. Nesta conjuntura, a economia solidária aparece como uma forma alternativa de geração de trabalho e renda. Propõe a organização dos processos de trabalho e a propriedade dos meios de produção coletivos, pautando-se nos pilares da autogestão, bem como na apropriação social e igualitária dos produtos do trabalho. Suas organizações são desenvolvidas com base nos princípios de igualdade, democracia e cooperação e têm por finalidade a construção de um ambiente socialmente justo e sustentável. Objetivou-se identificar as dificuldades de gestão e comercialização de uma horta formada por um grupo de pacientes, do ambulatório DST do município de Jaboticabal-SP, segundo os preceitos da economia solidária. Com esta atividade espera-se a geração de renda, a emancipação deste grupo e a integração de seus participantes na comunidade local.

METODOLOGIA:
Utilizou-se uma metodologia qualitativa dentro dos moldes da pesquisa-ação. Foram realizados encontros semanais entre os participantes desta horta e o “Projeto Suporte” - grupo de alunos e professores do Departamento de Economia Rural da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias – UNESP Campus de Jaboticabal -, para discutir os principais problemas do dia-a-dia da horta e a possibilidade de outras formas de geração de renda. Através destes encontros foram construídos ferramentas de gestão. A construção dos instrumentos necessários no desenvolvimento da autogestão do grupo foi coletiva, bem como a elaboração e a própria execução do controle de presença, das planilhas de fluxo de caixa e de conta corrente, do planejamento produtivo e do custo de produção. O estatuto para a criação da Associação da Horta foi discutida e elaborada de forma coletiva. Os encontros foram sistematizados em diário de campo.

RESULTADOS:
Observou-se que uma das principais barreiras para a autogestão é a dificuldade de apropriação do projeto, o que inclui desde o planejamento do processo produtivo até a comercialização. Em muito isto se deve ao fato de que a idealização do mesmo não foi algo endógeno ao próprio grupo, somado ainda à interferência de seus elaboradores e da proximidade dos funcionários do ambulatório, decorrente do tratamento. Estes fatores ampliam a dependência do grupo quanto à gestão e as tomadas de decisão, o que dificulta sua emancipação. Outro entrave é a falta de experiência do grupo na atividade, acirrada pelo baixo nível de escolaridade, pois a maioria são analfabetos funcionais. Assim, há dificuldades para a utilização e compreensão dos controles e instrumentos de gestão e planejamento. É, também, fator crítico para a sustentabilidade da organização, a objeção em desvincular a horta da condição de saúde de seus participantes, o que provoca uma estigmatização do grupo e, consequentemente, um processo de exclusão de parte da sociedade, através de um preconceito velado. Foi construído, pelo grupo, um estatuto que regulará suas atividades, conferindo maior autonomia, mas os procedimentos legais para a formação de uma associação ainda estão em andamento.

CONCLUSÕES:
A efetivação de projetos de economia solidária inclui a apropriação de conhecimentos básicos (como leitura, cálculo e escrita), bem como o desenvolvimento coletivo de ferramentas de gestão específicas apropriadas à realidade do grupo. Além disso, os princípios da economia solidária precisam ser incorporados pelos próprios apoiadores que muitas vezes mantém posturas centralizadoras que desarticulam o grupo e vão de encontro ao desenvolvimento da autogestão. A manutenção da representação de que existe uma “autoria do projeto”, faz com que o grupo não se sinta seguro o suficiente para as tomadas autônomas de decisão. Outro fator essencial é a definição e consolidação de diferentes canais de comercialização para garantia de sua auto-suficiência.

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  autogestão, economia solidária, horta

E-mail para contato: gabizamian@ig.com.br