60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 7. Educação - 6. Educação Especial

PROCESSOS DE INCLUSÃO ESCOLAR A PARTIR DO OLHAR DA ESCOLA: ENTRE TENSÕES, DESAFIOS E POSSÍVEIS

Igor Vieira Messina1, 3
Josiane Beltrame Milanesi1, 3
Denise Meyrelles de Jesus1, 2

1. Centro de Educação - Universidade Federal do Espírito Santo
2. Profª Drª


INTRODUÇÃO:
Os cenários do cotidiano produziram no nosso grupo de pesquisa o desejo de aprofundar estudos sobre questões relativas ao ensinar/aprender de sujeitos em situações de desvantagem e saberes/fazeres educacionais que visassem a intervir nos processos educativos. O desafio que se apresenta é tentar instituir outras práticas de potencialização dos saberes-fazeres, de modo que a presença de alunos, em situação de desvantagem, de qualquer natureza, não seja paralisadora de ações docentes. Entendemos que a formação dos profissionais da educação se constitui em suporte à educação inclusiva e a formação continuada deve ter por base a realidade concreta onde se dão as aprendizagens. Temos como meta contribuir para o desenvolvimento profissional docente, tomando como ponto de partida a construção da sua autonomia, entendendo os professores como intelectuais, capazes de reinventar suas práticas, e autônomos em seus saberes (ZEICHNER, 1998). Alguns aspectos se colocaram como fundamentais (PORTER, 1997; AINSCOW, 1997): a) para lidar com a diversidade humana, a escola precisa ser reestruturada; b) construir um projeto político-pedagógico inclusivo; c) superar as limitações das concepções fundamentadas na deficiência; d) criar espaço-tempo para que novos dispositivos possam ser postos à prova. Assim sendo, o objetivo do estudo foi realizar uma avaliação, em contexto, da situação da Educação Especial/Inclusão Escolar no município de Aracruz-ES.

METODOLOGIA:
Tendo em vista a realização de um processo de conhecer a realidade cotidiana no município de Aracruz, ES, elegemos trabalhar com as escolas organizadas em Núcleos de atendimento educacional. O município conta com quinze Núcleos, sendo que cada um deles é composto em média por duas ou três escolas de ensino fundamental e um ou dois centros de educação infantil. Nossas metas eram conhecer os processos de inclusão escolar/educação e diversidade vividos nesses Núcleos e as ações das equipes multidisciplinares responsáveis pelos Núcleos. Assumimos, como nos grupos focais (Gatti, 2005), uma temática e/ou questões que tinham por objetivo estabelecer o diálogo com o grupo dos profissionais. Para tal, elaboramos com a equipe central um calendário de visitas aos núcleos que se organizaram para participar de um encontro de coleta de dados, ou seja, trabalhamos pela via dos grupos focais. No conjunto compareceram aos encontros em torno de trezentos profissionais entre docentes (190), coordenadores das ações pedagógicas (10), gestores/pedagogos (45) e membros das equipes multidisciplinares (57). Criamos diferentes possibilidades de problematizar a questão da educação na diversidade/inclusão escolar nas situações vividas em cada Núcleo o que nos auxiliava a “gestar” outra proposta, possibilitando avançar/aprofundar os conhecimentos. Tomamos como princípio orientador a noção de questionamentos problematizadores. Organizamos os dados em eixos (a posteriori) a partir das falas; narrativas; propostas; análises; desabafos; conflitos ditos e não-ditos, bem como alguns “apagamentos”.

RESULTADOS:
Pensar sobre as práticas realizadas no cotidiano naquele município se constituiu em fazer um olhar abrangente que evidenciasse continuidades e rupturas (MEIRIEU, 2002). Nosso olhar inicial captou um profissional docente que não se reconhecia enquanto sujeito de conhecimento (JESUS, 2006). As falas que se seguem evidenciam isto: “Nós precisamos de muita ajuda para entender na prática.”, “Nós não sabemos é trabalhar.” (Professoras). As falas anunciam um suposto “não-saber-fazer”. Nosso desafio “[...] é tentar assumir tensões como estas, enquanto possíveis pistas, visando instituir outras práticas de potencialização dos saberes-fazeres, de modo que a presença de alunos, em situação de desvantagem, de qualquer natureza, não seja paralisadora das ações docentes.” (JESUS, 2005, p. 1). Há necessidade de romper com as “fórmulas postas” e dialogar sobre como temos assumido a processualidade das aprendizagens. Reconhecemos, nas falas que se seguem, uma tensão a ser trabalhada, se por um lado há uma tendência velada à responsabilização das equipes por “resultados”, por outro parece haver um “pedido” por “estar junto”. “Temos muita teoria e prática, tem que ter resultado para ter prática, tem que estar junto e isso não está acontecendo.” (Professor), “Ah... ele aprende em ritmo diferente, mas quando chega o final do ano você é cobrado.” (Professora). Parece-nos, sim, que há uma emergência pelo estabelecimento de ações colaborativas com os profissionais que os ajudem a articular suas próprias preocupações.

CONCLUSÕES:
Não há uma “proposta completa”, que dê conta da complexidade de atuar com/na diversidade. Todavia, os profissionais parecem sinalizar na direção de pistas para a articulação de uma política educacional que vá se instituindo. A fala mostra essas conexões: “Idealizo uma escola sem barreiras de série, turma, disciplina.” (Professora). Esses profissionais estão sensibilizados para a importância de tomar os “processos de planejamento e avaliação concebidos como atividades coletivas” (BAPTISTA, 2004, p. 157) e que a via do trabalho colaborativo em grupo pode se constituir em uma das formas de viabilização. Embora as críticas e impossibilidades estejam presentes existe o reconhecimento de que os movimentos estão se fazendo. Na expectativa de instituir outros espaços-tempos – essa ruptura se dará quando “nos colocarmos à disposição na medida em que formos criando essas condições” (Professora). No que tange a pensar os processos de inclusão escolar, parece-nos que entre várias tensões e desafios há movimentos que anunciam possíveis. Reconhecemos o caráter político e de prática social nos fazeres-pedagógicos. Parece-nos possível um trabalho com todos os alunos, sem negar as especificidades, a partir de um trabalho colaborativo-crítico. Buscamos contribuir tanto para uma mudança epistemológica na pesquisa da ação-educativa quanto para pensarmos mudanças políticas e sociais e, sobretudo, “indagar sobre como fazer da sala de aula um lugar de invenção, de imaginação e de encontros (...)” (MEIRIEU, 2002, p. 145).

Instituição de fomento: CNPq

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Inclusão Escolar, Educação Especial, Práticas Pedagógicas

E-mail para contato: nerdkore@yahoo.com.br