60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 3. Filosofia - 1. Ética

ATARAXIA E CUIDADO DE SI NO EPICURISMO

THIAGO RODRIGO DE OLIVEIRA COSTA1
GABRIELE CORNELLI1, 2

1. UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA/ DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA
2. ORIENTADOR


INTRODUÇÃO:
O presente projeto de pesquisa tem por objetivo analisar nas origens do pensamento filosófico ocidental os princípios formadores de uma ética da existência ou Cuidado de Si que desde Platão se pode observar em textos como o “Alcibiades” e a “Apologia de Sócrates” que fomentam um cuidado de si que passa sem dúvida por um conhecimento de si, mas que se encaixa no contexto maior de um cuidado político com a cidade. Em Epicuro algumas modificações nas linhas constituintes deste cuidado podem ser observadas, e é no interior mesmo desta filosofia da vida helenista que ocorrerá uma generalização e difusão desta moral, mas de modo muito particular e tendo em vista uma terapêutica de si, portanto, uma cura da alma como uma ausência de perturbações (ataraxia). Este estudo é da maior importância se consideramos frente aos modos de subjetivação dos gregos, por exemplo, os modos pelos quais na modernidade os corpos são docilizados e sujeitados em práticas normativas e universalizastes onde o espaço para a pluralidade se reduz a ninharias no máximo virtuais. É, pois para apresentar alternativas a sujeição moderna que se faz mister estudar e experimentar novas formas de viver e pensar a vida como obras de arte, como não sendo dá ordem do já dado, mas antes do por se fazer.

METODOLOGIA:
O trabalho desenvolver-se-á por meio de pesquisa bibliográfica sobre as fontes antigas acrescidas dos textos gregos destacando as fontes do epicurismo, lidas à luz da leitura moderna desenvolvida por Michel Foucault, especialmente, a partir de sua obra Hermenêutica do Sujeito. As fontes serão examinadas em suas relações históricas com as tradições filosóficas anteriores (de maneira especial Platão e Aristóteles), da qual constituem ao mesmo tempo respostas e proposição de novas idéias. Serão amplamente utilizadas as obras de historiadores da filosofia antiga que vertem sobre a temática estudada. A lectio foucaultiana será considerada como uma possibilidade de aproximação hermenêutica contemporânea a questões que surgem no interior do pensamento ocidental em suas origens.

RESULTADOS:
Fazendo uso da aproximação historiográfica, já realizada no primeiro ano de pesquisa, à discussão antiga sobre o cuidado da alma, podemos propor experimentos éticos e estéticos no bojo da filosofia do prazer. Nos tesouros da história do pensamento ocidental encontramos muitas alternativas relativas ao cuidado de si, com as quais é possível superar um conhecimento de si que se desvincula da experimentação e da vida em direção que uma pura transcendência do pensamento pelo pensamento, ou seja, uma abstração que se desloca do corpo para a alma sem desta retornar. Em segundo lugar, o uso do comedimento e da prudência que antes de servir como norma eram balizadoras dos usos dos prazeres e se lhes prescreviam cuidados era antes para que esses pudessem se exercer e mais que isso para que se exercessem bem. Podemos ainda falar de todo um modo de conduzir a vida sem que desta se lhe obstruísse o corpo em detrimento da alma, e isso ao ponto tal de Epicuro definir a alma como corpo, material, portanto marcando uma relação bem outra da que conhecemos entre nós mesmos. Contribuir, pois, para com as discussões ligadas à saúde da alma com novas formas de subjetivação que integrem o eu ao outro, o corpo à alma e o pensamento, sobretudo, filosófico à experimentação.

CONCLUSÕES:
Podemos concluir que no conjunto das práticas que se situam no interior da moral do Cuidado de Si e de modo especial a partir do epicurismo, estas que eram práticas de uma vida filosófica acabam por se generalizar e se difundir se tornando um fenômeno cultural de longo alcance e amplitude extensiva, ao menos as camadas sociais mais abastadas, mas de toda forma indo para além da filosofia propriamente dita. Com isso não podemos concluir que tenha se tornado norma de vida, mas sim uma alternativa existencial pela qual os indivíduos tornar-se-iam não mais artistas modeladores de argila, e sim modeladores de um barro mais nobre: nesta moral do Cuidado de Si os indivíduos tornam-se eles próprios a argila a ser modelada, enfim, a vida humana atinge o estatuto de obra de arte. Não há em parte alguma desta moral uma norma pela qual os indivíduos deveriam conduzir suas vidas, se fazer no mundo. O que pudemos observar foi antes um preceito pelo qual cada um deve se fazer como obra de arte, mas o fazer-se implica necessariamente uma escolha que ninguém poderá tomar pelo outro. O eu se torna o único responsável por se fazer de uma tal forma que sua marca seja exatamente aquela da sua singularidade, ou seja, não se pode fazer o mesmo, mas antes se fazer na diferença.

Instituição de fomento: CNPq

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  ATARAXIA, EPICURO, FOUCAULT

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