60ª Reunião Anual da SBPC




A. Ciências Exatas e da Terra - 6. Geociências - 1. Climatologia

FLORESTA AMAZÔNICA: UMA APRECIAÇÃO SOBRE POSSÍVEIS IMPACTOS NO CLIMA, EM UMA ÁREA SOB INTERVENÇÃO ANTRÓPICA.

Francisco Evandro Oliveira Aguiar1

1. Universidade Federal do Amazonas - UFAM


INTRODUÇÃO:
A exploração dos recursos naturais na Amazônia, é questionada por correntes preservacionistas de várias tendências, pelo evidente comprometimento à integridade do ecossistema mais rico e diversificado do planeta. A exploração de petróleo, então, constitui-se num enorme risco que pode comprometer a integridade da fauna e flora, como também, pelos danos prováveis que seriam causados em outros momentos do processo, como no transporte dos produtos, em rios, lagos ou no interior da própria floresta, através de dutos. Entre os perigos prováveis causados pela exploração de petróleo e gás no interior da selva amazônica, está a quebra das condições naturais que dão a estabilidade climática regional hoje conhecida. Utilizando-se de dados produzidos pelo Projeto Uruclima (UFAM e Petrobras) este trabalho visa observar, num estudo comparativo entre quatro pontos de diferentes usos do solo dentro da Província Petrolífera do Rio Urucu (Coari-AM), com dados climáticos de seis cidades do entorno da região: Coari, Codajás, Tefé, Fonte Boa, Eirunepé e Lábrea, as possíveis alterações, numa escala meso-regional, que estejam ocorrendo nas variáveis climáticas mais reveladoras de impactos decorrentes da ação antrópica. O objetivo é avaliar os possíveis impactos no clima, em nível meso-regional, comparando com os dados produzidos pelas quatro estações meteorológicas automáticas do projeto Uruclima (UFAM/Petrobras) com os dados das estações do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) das cidades do entorno da área.

METODOLOGIA:
Antes da presença da Petrobras na região, o ambiente era um dos mais isolados da Amazônia, com a floresta dominando a área e sem a presença humana. A partir de 1986, quando tiveram início os trabalhos naquele local, foram introduzidas diversas alterações no ambiente, que vieram a se tornar temas de várias pesquisas que visaram monitorar os impactos decorrentes, por diversas correntes científicas, merecendo destaque as medidas dos parâmetros do clima, que justifica este trabalho.Utilizaram-se estações meteorológicas automáticas, com análise de seis variáveis: temperatura, umidade do ar, vento (direção e velocidade), chuva, e pressão atmosférica, fixadas em locais previamente selecionados pelo uso do solo. Procurou-se fazer comparação com dados obtidos do INMET nas cidades do entorno, numa série temporal de dez anos, para estabelecer-se as características climáticas da área meso onde se situa a Província. Utilizaram-se os dados de temperatura (média, máxima e mínima), chuva (mensal e anual), umidade relativa do ar e pressão atmosférica. Nessa análise utilizou-se um critério comparativo descritivo, a fim de identificar possíveis diferenças entre a estação do Urucu, localizada em uma clareira, que reúne as características mais próximas do ambiente natural e as cidades referidas que formam um polígono de seis lados. O período utilizado para fazer-se esse estudo específico foi de 01 de julho de 1997 a 30 de junho de 1998.

RESULTADOS:
Em uma avaliação dos dados climatológicos obtidos na estação padrão, da Província Petrolífera do rio Urucu, comparativamente aos dados fornecidos pelo Inmet por meio de estações convencionais de superfície nas cidades do entorno da região pesquisada, é possível identificar prováveis diferenças nos parâmetros do clima dessas cidades e de uma região de floresta sob intervenção antrópica, como a área em estudo. Evidentemente, pelas dimensões continentais da Amazônia e da baixa densidade demográfica dominante na região, as cidades escolhidas para esta análise, embora sejam as mais próximas da área pesquisada ainda assim estão a grandes distâncias. Entretanto, pôde-se constatar evidentes semelhanças no clima com outras áreas tradicionais da região, tais como: a temperatura é o item climático que apresenta as menores variações espaciais e temporais, com baixas variações; a umidade relativa demonstra as diferenças observadas em praticamente toda Amazônia; a pressão atmosférica tem o comportamento com baixas variações; os ventos têm as mesmas características de outras áreas regionais e as chuvas embora registrem diferenças em totais acumulados não apresentam notórias distorções. É relevante destacar que a Província do Urucu está encravada no centro da floresta atuando esta como elemento neutralizador de alterações que se introduzam aí.

CONCLUSÕES:
A precipitação, tanto a média dos totais acumulados anualmente, quanto a distribuição mensal das precipitações não diferem significativamente de uma cidade para outra. Chove anualmente totais médios de 2.000 mm a 2.500 mm, com os meses mais chuvosos de dezembro a junho e a estiagem acentuada em julho e agosto, ficando os demais meses com valores médios e crescentes até o reinício das chuvas.Os índices térmicos são, à semelhança dos dados de toda região, pouco variáveis. Tanto as temperaturas máximas, quanto as médias e mínimas oferecem poucas variações ao longo do ano, destacando-se apenas as cidades de Eirunepé e Lábrea, situadas mais ao sul do Amazonas, mais susceptíveis à entrada de massas polares, regionalmente conhecidas como “friagens”.Já a umidade do ar, durante todo ano, as variações vão de valores próximos de 90% a um mínimo de 82%. Os dados mais altos correspondem aos meses mais chuvosos. A média anual, nas seis localidades, varia entre 85% e 91%, o que se conclui ser uma região super úmida. Não há indícios de que os parâmetros climáticos no interior da floresta sejam severamente alterados, porque a floresta em volta, acredita-se, anula os efeitos mais drásticos de alterações no clima. É possível distinguir-se apenas diferenças em nível micro-climático ao se comparar dados das quatro estações montadas na Província.



Palavras-chave:  Floresta Amazônica, Exploração de petróleo, Recursos Naturais

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