60ª Reunião Anual da SBPC




A. Ciências Exatas e da Terra - 3. Física - 3. Física Atômica e Molecular

PADRÕES ATÔMICOS FORMADOS POR MICROSCOPIA DE FORÇA ATÔMICA

Juracyr Ferraz Valente Filho1
Omar Teschke1
José Roberto de Castro1
Luiz Orivaldo Bonugli1
Marcos Vinicius Puydinger doas Santos1

1. Laboratorio de NanoEstruturas e Interfaces - Instituto de Fisica - UNICAMP


INTRODUÇÃO:
As potencialidades do microscópio de varredura de força (SFM) podem ser exploradas em varia modalidades operacionais. O contraste atômico da escala obtido em imagens no modo contato quando a ponta de prova desliza na superfície da amostra [2-6] produz interações simétricas nas modulações reais do espaço coincidentes com as da superfície da amostra. Neste trabalho propomos que os padrões com resolução atômica podem estar associados a outro possível mecanismo para gerar periodicidades em escalas nanométricas.

METODOLOGIA:
Os experimentos foram realizados utilizando uma célula com líquido e um microscópio de força atômica comercial da TopoMetrix modelo TMX 2000. Nesses experimentos o braço de medida (cantilever) tem uma constante de mola vertical baixa (0,03 N/m) e que corresponde a uma sensibilidade vertical de força abaixo de 3,0 pN; conseqüentemente, havia uma rigidez comparativamente baixa ao longo da direção normal a superfície (z) de 0,03 N/m e uma rigidez elevada à constante lateral da mola devido à forma triangular do cantilever. Uma ponta de prova (tip) de Si3N4 era arrastada para frente e para trás fazendo uma varredura sobre uma superfície de mica clivada e foram realizadas medidas no ar e na água. Todos os experimentos foram realizados a temperatura ambiente numa câmara fechada com umidade relativa do ar de 60%. A força normal aplicada no cantilever foi mantida constante em ~10 nN o que reduziu a vibração térmica de 3,7 Å para ~0,2 Å [7].

RESULTADOS:
Para compreender a origem do movimento de sobe e desce do tip analisamos o sinal elétrico aplicado ao transdutor piezelétrico durante a varredura. O deslocamento do piezo esta associado à digitalização da tensão aplicada durante a varredura. Um potencial em degraus com valores de tensão ∆V corresponde a um deslocamento do tip. A componente padrão do deslocamento pode ser obtida pela transformada de Fourier que transforma a função dos valores de tensão em componentes indicadas por k, 2k, 3k onde k = 1/a. Existe então uma freqüência espacial com periodicidade de ~1,31 Å imposta pelo sinal elétrico quando se varre a amostra no sentido X ou Y e um periodicidade espacial de 1,31x21/2 para varreduras simultâneas nos sentidos de X e Y correspondendo a uma varredura de 45o com o eixo do cantilever. A última questão que nos preocupa é a origem da força de sobe e desce do tip. A força deve estar associada com uma região comum da interação, isto é, o líquido entre o tip e a amostra. Para um cantilever imerso em água é possível calcular a força que age no tip usando nosso recente trabalho [8] onde mostramos que há uma força dielétrica de troca que atua no tip quanto este é imerso na dupla camada (água/mica). Ela esta associada com a troca da permissividade dielétrica (ε) do volume do tip (εtip ~7) pelo da agua (4 < ε < 70) na dupla camada. A expressão da força é dada pela equação ∆Fz = -(ε0/2)(∂/∂z) ∫ (εtip - εagua2 dv onde o volume (dv) esta associado com a imersão do tip na dupla camada e z é a direção normal em relação a superfície da mica.

CONCLUSÕES:
O padrão observado durante a aquisição da imagem por AFM com resolução atômica mostra que o mesmo foi gerado pelo deslocamento horizontal do tip induzido por uma mudança na permissividade dielétrica interfacial da água. O processo pode ser resumido como segue: O derretimento da estrutura interfacial da água (εagua ≈80) induzido pela varredura do tip é seguido por um processo envolvendo a reorientação da estrutura da água (εagua ≈4) e o valor da tensão (tempo de idle do transdutor piezelétrico). Para εagua≈80 o tip esta imerso de forma a minimizar a distribuição da energia desde εtipE2 < εaguaE2 até enquanto houver emersão estacionária do tip. A amplitude dos componentes espaciais, observadas durante a varredura padrão, foi alterada pela adição de sais à solução que são conhecidos por modificarem a permissividade dielétrica interfacial. References [1]- C. M. Mate, G. M. McClelland, R. Erlandsson, and S. Chiang, Phys. Rev. Lett. 59, 1942 (1987). [2]- R. W. Carpick, and M. Salmeron, Chem. Rev. 97, 1163 (1997). [3]- H. Holscher, U. D. Schwarz, O. Zworner, and R. Wiesendanger, Phys. Rev. B 57, 2477 (1998). [4]- M. Ishikawa, S. Okita, N. Minami, and K. Miura, Surf. Sci. 445, 488 (2000). [5]- H. Holscher, U. D. Schwarz, and R. Wiesendanger, Europhys. Lett. 36, 19 (1996). [6]- K. L. Johnson, and J. Woodhouse, Tribology Lett. 5, 155 (1998). [7]- E. Meyar, R. M. Overney, K. Dransfeld, and T. Gyalog, Nanoscience (World Scientific Co., Singapore, 2002), Chap. 9, pp. 337. [8]- O. Teschke, G. Ceotto and E. F. de Souza, App. Phys. Lett. 78, 3064 (2001).

Instituição de fomento: CNPq (523.268/95-5) and FAPESP (03/12.529-4).



Palavras-chave:  padrões em escala atômica, microscopia de força atômica, constante dielétrica interfacial

E-mail para contato: juracyrvalente@gmail.com