60ª Reunião Anual da SBPC




C. Ciências Biológicas - 4. Botânica - 6. Morfologia e Taxonomia Vegetal

ESTUDOS CROMOSSÔMICOS EM ESPÉCIES DE MYRTACEAE E DE SAPINDACEAE OCORRENTES NO PARQUE ESTADUAL DA SERRA DO MAR, UBATUBA, SP

Eliana Regina Forni-Martins1, 2
Juan Domingo Urdampilleta1, 3
Itaygurara Ribeiro da Costa1, 4

1. Departamento de Botânica/Instituto de Biologia/UNICAMP
2. Professora Orientadora, Bolsista Produtividade em Pesquisa CNPq
3. Doutorando em Biologia Vegetal, UNICAMP, Bolsista CAPES
4. Doutorando em Biologia Vegetal/UNICAMP, Bolsista CNPq


INTRODUÇÃO:
A despeito da grande biodiversidade da flora brasileira, informações cromossômicas sobre espécies de plantas são escassas e disponibilizadas de maneira fragmentária, trazendo poucos subsídios a estudos taxonômicos e evolutivos. Pode haver grande diversidade nos caracteres cromossômicos básicos aplicados na Citotaxonomia Vegetal, incluindo números, forma e tamanho dos cromossomos, e o padrão de bandas e da distribuição de algumas seqüências específicas de DNA. Padrões de evolução cariotípica podem ser entendidos a partir de alterações de números cromossômicos (poliploidia e aneuploidia) e de rearranjos cromossômicos estruturais (inversões, translocações, etc). No estado de São Paulo, pode-se dizer que o menor nível de informações cromossômicas está disponível na Mata Atlântica propriamente dita. Assim, objetivou-se a caracterização cariotípica de algumas espécies ocorrentes no Parque Estadual da Serra do Mar, em Ubatuba, SP, para subsidiar estudos taxonômicos e evolutivos. Foram inicialmente abordadas espécies das famílias Myrtaceae e Sapindaceae, que se apresentam como uma das mais importantes em riqueza de espécies em levantamentos florísticos e fitossociológicos nos mais diversos tipos de ambientes, incluindo a Mata Atlântica.

METODOLOGIA:
Foram analisadas 19 espécies do Parque Estadual da Serra do Mar e arredores. Materiais-testemunha foram depositados no Herbário UEC. As espécies foram identificadas por especialistas. Os estudos cromossômicos foram realizados em células mitóticas, utilizando sementes recém-germinadas, para a coleta dos ápices radiculares. Esses foram pré-tratados com diferentes soluções (8-hidroxiquinoleína ou paradiclorobenzeno) para a determinação das condições ideais para a observação das metáfases. As raízes foram fixadas (álcool e ácido acético glacial, 3:1) e estocadas em congelador. As lâminas foram preparadas por esmagamento de ápices radiculares hidrolisados em HCl 5N e coradas em solução de Giemsa 2%. Em Paullinia coriacea (Sapindaceae) buscou-se a diferenciação linear dos cromossomos, com o Bandamento-C (identificação de regiões heterocromáticas) e FISH - hibridação de DNA in situ fluorescente (localização de seqüências de DNAr 45S). Nestas técnicas, a hidrólise das raízes foi feita por digestão enzimática (celulase 2% e pectinase 10%). Os cromossomos foram documentados em fotomicroscópio de fluorescência, utilizando sistema fotográfico digital, com captura de imagens em microcomputador. Para a confirmação dos resultados, foram analisadas, para cada espécie, pelo menos 10 células.

RESULTADOS:
As oito espécies de Myrtaceae, dos gêneros Calyptranthes. (C. brasiliensis e C. concinna), Eugenia (E. moosenii, E. multicostata, E. cf. cerasiflora e Eugenia sp 1), Myrcia (M. brasiliensis) e Marlierea (M. tomentosa), possuem 2n = 22. Em Sapindaceae, as dez espécies estudadas pertencem aos gêneros Paullinia, Seriania e Urvillea. Em Paullinia, os números variaram de 2n = 24 (P. coriaceae e P. trigonia), a 2n = 48 (P. rubiginosa, P. carpopodea e P. seminuda), até 2n = 96 (P. spicata). Serjania caracasana e S. cuspidata apresentaram 2n = 24, enquanto que Urvillea glabra, U. rufescens e U. tryphilla apresentaram 2n = 22. As contagens cromossômicas são inéditas para a maioria das espécies de Myrtaceae e de Sapindaceae. As contagens de 2n= 48 e 96 constituem-se os primeiros relatos de poliploidia em Paullinia, no nível 4x e 8x, respectivamente. Paullinia coriaceae apresenta uma pequena quantidade de heterocromatina (bandas C) e dois pares cromossômicos com sítios de DNAr 45S.

CONCLUSÕES:
O presente estudo abordou um pequeno número de espécies ocorrentes na Mata Atlântica, no Parque Estadual da Serra do Mar. Os números cromossômicos obtidos em 19 espécies de Myrtaceae e Sapindaceae confirmaram os números básicos (x) já relatados para cada um das famílias ou gêneros estudados. As Myrtaceae, em geral, possuem x = 11. Dentre as Sapindaceae, Paullinia e Serjania possuem x = 12, enquanto que em Urvillea parte do gênero possui x = 11 e outra x = 12. Apesar de a poliploidia ter reconhecidamente um papel primordial na evolução das plantas superiores, em Sapindaceae a sua ocorrência é considerada rara. Portanto, a observação de quatro espécies de Paullinia poliplóides na região (2n = 48 e 96) é muito importante para o entendimento da evolução cariotípica da família. Em Myrtaceae, apesar de não terem sido encontrados poliplóides na área de estudo, há registros na literatura de algumas espécies e de citótipos com diferentes níveis de ploidia nos gêneros Eugenia e Psidium. Observou-se diferenças no padrão de bandas C e de sítios de DNAr 45S de P. coriaceae em relação a relatos prévios em outras espécies de Sapindaceae, indicando que esses caracteres podem ser úteis na discussão citotaxonômica do grupo.

Instituição de fomento: Financiada pelo Programa BIOTA/FAPESP, Projeto Temático Gradiente Funcional (03/12595-7). Autorização COTEC/IF 41.065/2005 e IBAMA/CGEN 093/2005.



Palavras-chave:  cariótipos, Mata Atlântica, evolução cariotípica

E-mail para contato: elianafm@unicamp.br